O Monge, O Prisioneiro e A Provedora de Frutos [Completo]
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O Monge, O Prisioneiro e A Provedora de Frutos [Completo]
Parte 1 de 5
Um garoto, de em média treze anos, com roupas surradas, e exausto caminha no que julga ser um “meio do nada”. Ele tem fome, sede, total cansaço e o sol da tarde lhe queima o corpo. Sabe que está prestes a desmaiar ou até morrer ali, sozinho, mas uma pontada de alegria lhe ocorre. Percebe que seus pés descalços estão pisando em uma macia grama. Sua visão está embaçada, mas sabe que há algumas ovelhas à sua volta e que em frente tem algum grande abrigo, talvez um pequeno castelo, com uma cor marrom.
Então ele tenta se apressar os passos, talvez não chegue a tempo, mas não custa tentar. “Mais rápido!”, pensa ele. Sua cabeça dói. Seu corpo dói. Seus olhos ardem. Sua garganta arde. Mas ele não desiste. Sente a fraqueza tomar seu corpo, algo parecido com a morte, mas não desiste. Tenta correr, sem conseguir, mas, mesmo assim, tenta.
“Estou conseguindo”, pensa ele, vendo que está chegando perto de tal abrigo. Sua visão está toda embaçada, mas percebe que está diante de um abrigo de guerra, feito de madeira, triangular e de quatro andares. E também ouve pés descalços se aproximando e uma voz masculina dizendo “garoto? Está tudo bem?”. O garoto cai no chão e fecha os olhos. “Chamem ajuda!” diz aquele homem. “Tarde de mais”, pensa o garoto, apagando de vez.
Tudo escuro. Noite, talvez? Dois seres brigam violentamente à base de socos. Olhos vermelhos e cabelo e barba negros contra olhos brancos como papel, assim como a pele. Ambos com raiva. Ambos dispostos a matar a qualquer custo.
Da boca e do nariz do branco sai sangue branco. O de olhos vermelhos nem se quer sangra. Será esse o mais poderoso? Será esse o vilão?
“O Prisioneiro deverá se libertar...”
— AAAAAAAH!!! — O garoto “voltou à vida”. Está vivo e parece surpreso. Afinal, está em um leito estranho, um quarto estranho e teve um sonho estranho. “O Prisioneiro deverá se libertar? O que isso quer dizer?”, pensa o garoto. Meio tonto, ele vê a lua minguante pela janela, as quatro paredes de madeira e uma lâmpada emitindo uma luz fraca pendurada no teto. E do seu lado tem um bigodudo estranho sentado em uma cadeira, sorridente.
— Calma, garoto! Foi apenas um sonho! — Diz o alegre bigodudo.
— Q-q-que está h-havendo? O-onde estou? Q-q-que lugar é e-esse? Q-q-quem... Q-quem... quem sou... eu...?
— Hm... Amnésia... — Diz o bigodudo logo em seguida, olhando para alguém que parece estar do outro lado da cama. “Me cercaram!”, o garoto olha de pressa para o outro lado. Há uma mulher ali, em pé, com um olhar sério e um tanto preocupado. Linda, por sinal, chamou muito a atenção do garoto. Ele fica se perguntando por que aquelas bolas no peito dela o fazem sentir algo estranho, mas tem vergonha de perguntar, não sabe por que, e fala em seguida com o bigodudo, com medo:
— O-o q-que está h-havendo?
— Se acalma, garoto. Você está seguro aqui. Meu nome é Chico, o senhorio desse lugar.
— S-s-senhorio...?
— É... ou líder. Eu mando aqui. Eu sou o... “cabeça”. E este é Samara, a minha filha. — O garoto olha para Samara, e esta lhe acena com a cabeça. — Ela não é de falar muito.... E você é... Marvin, não?
— M-M-Marvin...? E-eu... M-Marvin?
— Hm... Não sabe... Certo... Bem, nas roupas que você estava usando... Tinha esse nome bordado.
— R-r-roupas...? E-eu estava u-usando...?
— Você estava perdido, morrendo de fome, sede e cansaço. Quando chegou aqui desmaiou na entrada, hoje a tarde. — O garoto fica calado e cabisbaixo. Não consegue lembrar de nada. Nem ao menos sabe seu nome. — Você está em Morgana. Um antigo abrigo de guerra que achei e resolvi transformá-lo em um abrigo para pessoas perdidas por essa região, assim como você.
— C-como eu...?
— Bem. Você é o primeiro que não se lembra de nada e que está com tanto medo.
— N-não t-t-tô mais c-com medo...
— Então, por que gagueja? Por que não fala direito?
— N-não c-consigo f-f-falar d-direito...
— Certo... É gago também.
— I-isso é m-mau...?
— Hehehehe! Claro que não, Marvin! Fica tranqüilo! Olha, esse vai ser seu quarto, certo? Você tem umas roupas ali naquele baú. Samara vai te levar para tomar banho.
— T-t-tomar b-banho...?
— Sabe, se lavar, tirar a sujeira...
— T-t-tá...!
— Hm. Certo. Bom, nos vemos mais tarde.
Alguns minutos depois, à luz do luar, Marvin, o garoto perdido, está em baixo de uma cachoeira, em um pequeno rio raso. A água fresca lhe molha todo o corpo, lhe dando prazer, enquanto se passa pelo corpo uma escova. Mas ele não está totalmente atento ao banho, e sim à Samara. Ela está abaixo de uma árvore, sentada com as pernas cruzadas, ocultas pelo vestido, lendo um livro e segurando uma vela. Seus olhos estão direcionados aos seios dela, e ele não entende por que gosta tanto de olhá-los.
Então ela percebe que o garoto a olha e olha para ele. Rapidamente ele disfarça, olhando para o chão e continuando o seu banho. De relance, ele percebe que Samara continua fitando-o e ele olha para baixo, entre suas pernas, e fica vermelho. Em seguida ele vira-se, ficando de costas para Samara. Esta apenas ri e volta a ler o livro.
Após terminar o banho é hora de Marvin comer algo. Samara o levou para sua casa, onde vive com seu pai, Chico, no topo da pequena Morgana. À mesa estão sentados Chico, Samara e Marvin. O garoto come como se não tivesse comido algo há dias, o que se deu para notar nas ultimas horas.
Chico e Samara comem em silencio, observando o pobre garoto a cada vez que engolem a comida. Marvin não liga pra nada. Apenas quer comer. Não sabe o que são aquelas “coisinhas” brancas e as folhas verdes, mas não se importa. É gostoso, isso que importa. Também não sabe o que é aquele líquido branco dentro do copo, mas também não se importa. É bom de beber, então pra que ligar pra isso, não?
O garoto termina de comer e se sente totalmente satisfeito. Acomoda-se na cadeira e solta um pequeno arroto. Chico e Samara riem, afinal, nas condições do garoto isso não seria uma falta de educação. Mas com o tempo, Marvin irá aprender a ser educado.
— O-o que é aq-quilo? — Marvin aponta para uma larga torre quadrangular, de madeira, que vê pela janela, próxima à vila, mas não muito.
— Uma torre de vigilância, usada pelos soldados quando isso aqui ainda era um abrigo de guerra. — Responde Chico.
— T-torre...? — Marvin levanta-se e vai até a janela, a fim de ver qual é a altura da torre. Ele olha para o topo dela, mas não consegue visualizar. Talvez porque é noite, mas logo resolve ignorar. Não há nada de mais na torre. Mas algo diz ao garoto que tem algo “esquisito” nela. Ela não tem as paredes fechadas, dá para ver a escada por dentro dela. Então, certamente, é no topo que está o “problema”.
Uma semana se passa desde que Marvin apareceu em Morgana. As pessoas que vivem lá, em média umas vinte, sendo treze homens e sete mulheres — e dentre elas, uma garota da mesma idade de Marvin — o receberam com um pouco de desconfiança. “Da onde veio esse garoto? Como se perdeu? E os pais dele?”. Mas não ligaram muito pra isso. Afinal, o que pode de haver de errado em um garoto gago e com amnésia? E por outro lado, foi bom ele ter aparecido: agora Simone, a única criança que havia ali, tem uma companhia, evitando-a de incomodar os adultos.
Morgana, por fora, parece uma pirâmide de quatro lados, feita de madeira, mas com o topo plano. Tem quatro andares, sendo do segundo ao quarto cheio de quartos. Na maioria vive apenas uma pessoa, mas alguns são divididos por casais e um outro casal tem uma filha, a Simone. E no topo há apenas um quarto com uma cozinha, onde vivem Chico e Samara.
Cada andar tem uma passarela, que dá a volta pelo abrigo, por dentro, e tem acesso aos quartos, e há escadas que liga cada passarela. A entrada do abrigo está sempre aberta, já que não há uma porta, e no centro do abrigo não há nada a não ser um estreito pilar de madeira, ligando o chão com o teto, com lâmpadas que iluminam o local durante a noite. Já durante o dia, a iluminação é a luz do sol, que entrar por algumas janelas que tem no lugar de alguns quartos.
Em volta da vila tem um grande gramado, com plantações de flores, de alimentos, e em uma parte tem pasto para as ovelhas e vacas. Os moradores trabalham com a agricultura para assim terem o pão de cada dia.
— AAAAAAAAH!!! S-SOCORROOOO!!! — Marvin corre, desesperado, de um cão raivoso, pela passarela do segundo andar — o andar onde fica seu quarto. É o cão de um dos moradores, que vive perseguindo o garoto sempre que ele sai do seu quarto pela manhã — mandado pelo dono, pois o garoto também é motivo de piada por alguns dos moradores.
— Hahahaha! Olha só como ele corre, não?! — Diz um homem, provavelmente o dono do cão, que vive no mesmo andar do garoto.
— Hahahaha! É mesmo! Parece um atleta! — Responde outro homem.
Marvin corre desesperado pela passarela, passando pelas pessoas, algumas rindo, outras irritadas — ou pelo garoto que estorva ou com raiva do dono do cão. À frente de Marvin tem uma janela, mas ele não percebe que está a ponto de cair por ela, e apenas salta, logo se agarrando na torre de vigilância, que está próxima ao abrigo. Ainda apavorado, Marvin escala às pressas pela torre, com medo do cão.
Até que finalmente ele chega a um ponto da torre em que não tem como escalar. Está sobre uma passarela, no alto da torre, e se apavora mais ainda. “Como cheguei aqui???”. Então ele nota que não está totalmente no topo. O topo é uma plataforma quadrangular e está acima dele e com fácil acesso. Basta agarrar-se com as mãos ali na borda e subir. E já que está ali, o que custa subir no topo para ver o que tem? E assim, Marvin sobe.
Lá do alto ele pode ver tudo, tem uma ampla visão do horizonte. Ele vê montanhas rochosas e desertas. Vê que o chão está bem distante, se pular pode ter certeza que morre espatifado no chão. Mas, então, resolve ver Morgana, que está do outro lado da torre, e ele vira-se. Logo ele espanta-se ao ver que não está sozinho ali em cima. Tem mais alguém ali, de costas para o garoto, bem próximo à borda da torre.
É um homem, sentado no chão, com as pernas cruzadas. Um homem totalmente estranho: ele é careca, encorpado, de pele totalmente branca, como papel, e sem roupa alguma. Está imóvel, como uma estátua. “Será que é mesmo uma estátua?”, pensa Marvin. Logo o garoto lembra do “primeiro” sonho que teve. Em que um homem de pele toda branca enfrentava um outro homem, de olhos vermelhos.
Algo no garoto diz que aquilo não é uma estátua, e sim um homem de verdade, vivo. E assim ele se aproxima com cautela do homem, ou estátua. Este rapidamente gira a cabeça para o lado, a fim de ver o garoto, e este se espanta na hora e se enche de medo. Esquecendo da altura em que está, ele pula, do alto da torre.
Fim da Parte 1.
Morlun, o Milenar- Moderador
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Re: O Monge, O Prisioneiro e A Provedora de Frutos [Completo]
Parte 2 de 5
O vento bate forte no rosto de Marvin. Seus olhos mal podem abrir. “O que está havendo?”, pensa o garoto. “Estou sendo puxado?”. Então ele lembra que pulara do alto da torre de vigilância, com medo do estranho homem branco, e percebe que agora está caindo direto para o chão. Após um grito de medo, Marvin rodopia e cai em pé. As solas dos pés doem e suas pernas perdem o equilíbrio, e assim o garoto cai sentado no chão, de costas para a torre e próximo ao abrigo.
— O-o que aco-conteceu? — Ele olha para o alto da torre e fica se perguntando quem poderia ser aquele homem e como pôde sobreviver à queda.
— Marvin! — Simone, a amiga de Marvin, da mesma idade que ele, chega correndo, preocupada após ver que o garoto saltou pela janela. — Você está bem?
— E-estou... N-não sei c-como. — Marvin olha para Simone e para o topo da torre.
— O que foi, Marvin? O que tem a torre?
— U-um ho-omem...
— Hã?
— T-tem um ho-omem e-esquis-sito lá em ci-cima...!
— Como você sabe?
— E-eu caí de l-lá ago-gora! — Marvin começa a ficar impaciente. — V-você n-não viu?
— Eu vi você pular a janela! Pare de falar bobeiras e levante do chão, Marvin! — Simone faz o garoto levantar-se, puxando-o pelo braço, e assim ele se levanta.
— V-vou falar c-com o Chico! — E marvin corre pra dentro do abrigo.
— Hei, Marvin! Espera!
Marvin corre pelas escadas e passarelas, querendo chegar rapidamente para o último quarto, o de Chico e Samara. Simone também corre, tentando alcançar seu amigo, mas ela não é uma boa corredora.
Finalmente ele chega até a porta do quarto. Marvin logo a abre, encontrando Samara do lado da cama, varrendo o chão, e Chico, sentando em uma cadeira, à janela.
— Ch-ch-ch-ch-chico! T-t-t-t-te-te-te--
— Calma, rapaz! Calma! — Diz Chico, fazendo o possível para não rir do pobre garoto. — Parece que você subiu correndo desde lá de baixo, hein? Respire fundo... — Marvin obedece e Samara lhe passa um copo d’água que pegara de cima do criado-mudo. — Muito bem, pode falar.
— T-tem u-u-um h-homem n-na t-torre...
— Como?
— E-eu t-tava n-n-no t-topo d-da t-t-torre...
— Como você chegou lá? — Nisso chega Simone, exausta, dizendo:
— Arf! Arf! Chico! Ele tava fugindo do cão do... Arf! Tony! Aí o Marvin pulou a janela! Quando vi ele... Arf! Estava caído no chão, lá fora!
— E-eu n-não c-c-caí p-pela j-janela! E-eu s-s-s-salt-tei at-té a t-t-torre! D-daí eu s-su-subi at-té l-lá em c-ci-cima!
— Esperem! Calma! Vamos por partes... — Interrompe Chico. — O cachorro de Tony perseguiu Marvin, como sempre, e o Marvin pulou pela janela... Foi isso que você viu, Simone?
— Sim, Sr. Chico! — Responde Simone.
— Foi isso que aconteceu, Marvin?
— S-sim!
— Certo... Mas ao invés de cair no chão, você chegou até a torre e subiu até o topo?
— S-sim!
— E lá tinha um homem, certo? O que ele fez?
— M-me as-ssustou e eu p-pulei!
— Hm... Você pulou... Certo, Marvin... Olha, se você saltasse pela janela não ia conseguir chegar até a torre... ela fica longe o suficiente pra que uma criança como você não consiga.
— M-mas--
— E outra: ninguém pode falar que pulou daquela torre.
— C-como as-ssim?
— Ninguém sobreviveria. Morreria com a queda.
— M-mas e-eu--
— Olha, Marvin... Você pode ter imaginado tudo isso, é normal na sua idade desmaiar com pequenas quedas, então você teve um sonho, só isso.
Marvin olha para Samara, que lhe olhava com serenidade, e então ele abaixa a cabeça, dizendo:
— C-certo...
— Fica tranqüilo, tudo bem?
— N-não es-stá b-bravo?
— Hehehehe! Claro que não, meu garoto!
— C-certo... E-então me v-vou... — O garoto, um tanto magoado, vira-se para sair, assim como Simone. Quando Marvin quase fecha a porta, Chico chama:
— Marvin?
— S-sim? — Diz o garoto, abrindo a porta novamente.
— Como... como era esse homem? Consegue lembrar?
— E-era b-bem e-esq-quisito... — Marvin tenta se lembrar de tudo que viu naquele homem. — N-não t-tinha r-roupas... nem ca-cabelo... E e-era branco.
— Branco? Como eu e você?
— N-não... C-como p-papel. — Marvin não repara, mas Samara, ao ouvir essas últimas palavras, parece se espantar e aperta com as mãos a vassoura que segura.
— Hm... como papel... — Diz Chico, pensativo, disfarçando a preocupação e o espanto. — Ele disse algo? Te machucou?
— N-não... E-ele est-tava s-s-sentado n-no ch-chão, d-de co-cos-stas... Q-quando e-ele o-olh-lhou pr-pra m-mim, e-e-eu p-pu-pulei.
— Certo, Marvin... Pode ir.
— T-tem m-mais u-uma c-c-coisa...
— O que é?
— N-naquele d-d-dia q-que ch-cheguei a-a-aqui... E-eu t-tinha s-s-sonhado c-c-com e-ele...
— Como foi esse sonho, Marvin?
— E-ele e-estava br-brigando c-com u-um h-ho-homem c-cabeludo e b-b-barbudo... d-de o-olhos v-vermelhos... — As mãos de Samara, agora, fizeram o cabo da vassoura trincar, e ela respira fundo, espantada.
— Hm... — Chico reforça-se para não apresentar espanto. — Algum deles vence? Diz algo?
— A-apenas u-uma v-voz... a-acho q-que e-era m-mu-mulher... “O P-pri-prisioneiro d-deverá se li-lib-bertar”...
— Hm... Certo. Só isso, garoto?
— S-sim.
— Então pode ir.
— S-sim. — O garoto fecha a porta e Chico e Samara ficam ali, pensativos e preocupados.
— Parece que a profecia do Monge, do Prisioneiro e da Provedora de Frutos está acontecendo... — Diz Chico. — O Monge apareceu... — Samara senta-se na cama, ouvindo seu pai. — E se era uma mulher que disse que o Prisioneiro se libertará, então quer dizer que a Provedora de Frutos irá mesmo renascer... Ou talvez já tenha renascido... Mas... a profecia dizia de uma criança que não sabe falar... Então não quer dizer que seja muda, e sim... que não consegue falar direito... — Samara olha para Chico, com os olhos úmidos, segurando seu pingente, que se trata de um círculo metálico, e então ela diz, pela primeira vez nesta história:
— M-Marvin corre perigo...
— E, talvez, nós também, minha filha. Mas não devemos nos preocupar. Segundo a profecia, o Monge irá proteger o garoto.
— Marvin! Abre a porta! — Diz Simone, batendo na porta do quarto de Marvin, que se trancou lá dentro.
— N-não! M-m-me deix-xe s-sozinho! — Responde o garoto, sentado à cabeceira da cama e encolhido.
— Por que? Vamos brincar!
— N-não q-q-quero! Q-q-q-quero ficar a-aq-qui... S-sozinh-nho...
— Tá bom... — Triste, a garotinha deixa Marvin e sai dali. O garoto, mais triste que ela, fica sentado na cama, com os olhos úmidos.
“Eu vi ele... Eu vi!” Pensa ele. “Foi real, eu sei!” Sentindo-se cansado, Marvin resolve deixar isso de lado, por ora, e deita-se na cama, para tirar um cochilo, mesmo que ainda seja de manhã. Ele deita-se, vestido mesmo e sem cobrir-se com as cobertas. Ao fechar os olhos, o garoto se apaga, em um profundo sono.
Três paredes de pedra, assim como o teto e o chão, e de um lado há grades de ferro. É uma cela, um cativeiro. Na parede oposta das grades tem uma janela, com outras grades de ferro, por onde entra a luz da lua, iluminando um pouco a cela.
Mas e o prisioneiro? Ah, sim. Ali no canto tem alguém. Ele veste um hábito marrom e tem cabelos negros e cumpridos. Quanto ao rosto, é impossível ver: ele está encolhido no canto da cela, ocultando o rosto. Parece estar dormindo.
Passos leves, vindos de fora da cela, o fazem despertar, e assim ele revela seu rosto: pele escura, barba negra como o cabelo, e olhos vermelhos e incandescentes.
“A Provedora de Frutos está viva...”
— AAAH! — Marvin acorda novamente assustado por causa de um estranho sonho. Novamente aquele homem de olhos vermelhos e aquela voz feminina. “Quem é a ‘Provedora de Frutos’?” pensa o garoto, ofegante.
O garoto, então nota que seu quarto está sendo iluminado pela luz da lua, como na cela que acabara de ver. “Já é de noite?!” espanta-se ele. Alguém deixou um prato de comida e um copo de leite sobre o criado-mudo. Provavelmente foi Chico ou Samara, como sempre fazem. Mas geralmente Marvin está acordado quando eles lhe levam a comida. “Ai, que fome...” pensa o garoto, e apressa-se a comer.
Todas as luzes de Morgana estão apagadas. Todos já foram dormir. Apenas Marvin está acordado, do lado de fora do quarto, escorado no corrimão da passarela, certificando-se de que ninguém está o vendo. Então rapidamente ele correu pela passarela, desceu as escadas e correu para a torre de vigilância.
Marvin chega até a torre, olha para o topo, um tanto com medo, e olha para o abrigo, preocupado. Sem olhar mais para trás, Marvin vai até a escada e começa a subir. Chega a um ponto em que ele se cansa e percebe que está muito alto, mas não olha pra baixo, e continua subindo. Ele sente cada vez mais frio, mas ignora e continua subindo, sabendo que se olhar para baixo, se apavorará e cairá.
Então, finalmente ele chega. Não exatamente no topo. Assim como da outra vez, há uma plataforma acima, que é o topo da torre. E mais uma vez, Marvin usa as mãos para subir ali. E quando fica em pé, espanta-se ao ver aquele homem branco em pé, olhando nos seus olhos, e parece bravo.
Fim da parte 2
O vento bate forte no rosto de Marvin. Seus olhos mal podem abrir. “O que está havendo?”, pensa o garoto. “Estou sendo puxado?”. Então ele lembra que pulara do alto da torre de vigilância, com medo do estranho homem branco, e percebe que agora está caindo direto para o chão. Após um grito de medo, Marvin rodopia e cai em pé. As solas dos pés doem e suas pernas perdem o equilíbrio, e assim o garoto cai sentado no chão, de costas para a torre e próximo ao abrigo.
— O-o que aco-conteceu? — Ele olha para o alto da torre e fica se perguntando quem poderia ser aquele homem e como pôde sobreviver à queda.
— Marvin! — Simone, a amiga de Marvin, da mesma idade que ele, chega correndo, preocupada após ver que o garoto saltou pela janela. — Você está bem?
— E-estou... N-não sei c-como. — Marvin olha para Simone e para o topo da torre.
— O que foi, Marvin? O que tem a torre?
— U-um ho-omem...
— Hã?
— T-tem um ho-omem e-esquis-sito lá em ci-cima...!
— Como você sabe?
— E-eu caí de l-lá ago-gora! — Marvin começa a ficar impaciente. — V-você n-não viu?
— Eu vi você pular a janela! Pare de falar bobeiras e levante do chão, Marvin! — Simone faz o garoto levantar-se, puxando-o pelo braço, e assim ele se levanta.
— V-vou falar c-com o Chico! — E marvin corre pra dentro do abrigo.
— Hei, Marvin! Espera!
Marvin corre pelas escadas e passarelas, querendo chegar rapidamente para o último quarto, o de Chico e Samara. Simone também corre, tentando alcançar seu amigo, mas ela não é uma boa corredora.
Finalmente ele chega até a porta do quarto. Marvin logo a abre, encontrando Samara do lado da cama, varrendo o chão, e Chico, sentando em uma cadeira, à janela.
— Ch-ch-ch-ch-chico! T-t-t-t-te-te-te--
— Calma, rapaz! Calma! — Diz Chico, fazendo o possível para não rir do pobre garoto. — Parece que você subiu correndo desde lá de baixo, hein? Respire fundo... — Marvin obedece e Samara lhe passa um copo d’água que pegara de cima do criado-mudo. — Muito bem, pode falar.
— T-tem u-u-um h-homem n-na t-torre...
— Como?
— E-eu t-tava n-n-no t-topo d-da t-t-torre...
— Como você chegou lá? — Nisso chega Simone, exausta, dizendo:
— Arf! Arf! Chico! Ele tava fugindo do cão do... Arf! Tony! Aí o Marvin pulou a janela! Quando vi ele... Arf! Estava caído no chão, lá fora!
— E-eu n-não c-c-caí p-pela j-janela! E-eu s-s-s-salt-tei at-té a t-t-torre! D-daí eu s-su-subi at-té l-lá em c-ci-cima!
— Esperem! Calma! Vamos por partes... — Interrompe Chico. — O cachorro de Tony perseguiu Marvin, como sempre, e o Marvin pulou pela janela... Foi isso que você viu, Simone?
— Sim, Sr. Chico! — Responde Simone.
— Foi isso que aconteceu, Marvin?
— S-sim!
— Certo... Mas ao invés de cair no chão, você chegou até a torre e subiu até o topo?
— S-sim!
— E lá tinha um homem, certo? O que ele fez?
— M-me as-ssustou e eu p-pulei!
— Hm... Você pulou... Certo, Marvin... Olha, se você saltasse pela janela não ia conseguir chegar até a torre... ela fica longe o suficiente pra que uma criança como você não consiga.
— M-mas--
— E outra: ninguém pode falar que pulou daquela torre.
— C-como as-ssim?
— Ninguém sobreviveria. Morreria com a queda.
— M-mas e-eu--
— Olha, Marvin... Você pode ter imaginado tudo isso, é normal na sua idade desmaiar com pequenas quedas, então você teve um sonho, só isso.
Marvin olha para Samara, que lhe olhava com serenidade, e então ele abaixa a cabeça, dizendo:
— C-certo...
— Fica tranqüilo, tudo bem?
— N-não es-stá b-bravo?
— Hehehehe! Claro que não, meu garoto!
— C-certo... E-então me v-vou... — O garoto, um tanto magoado, vira-se para sair, assim como Simone. Quando Marvin quase fecha a porta, Chico chama:
— Marvin?
— S-sim? — Diz o garoto, abrindo a porta novamente.
— Como... como era esse homem? Consegue lembrar?
— E-era b-bem e-esq-quisito... — Marvin tenta se lembrar de tudo que viu naquele homem. — N-não t-tinha r-roupas... nem ca-cabelo... E e-era branco.
— Branco? Como eu e você?
— N-não... C-como p-papel. — Marvin não repara, mas Samara, ao ouvir essas últimas palavras, parece se espantar e aperta com as mãos a vassoura que segura.
— Hm... como papel... — Diz Chico, pensativo, disfarçando a preocupação e o espanto. — Ele disse algo? Te machucou?
— N-não... E-ele est-tava s-s-sentado n-no ch-chão, d-de co-cos-stas... Q-quando e-ele o-olh-lhou pr-pra m-mim, e-e-eu p-pu-pulei.
— Certo, Marvin... Pode ir.
— T-tem m-mais u-uma c-c-coisa...
— O que é?
— N-naquele d-d-dia q-que ch-cheguei a-a-aqui... E-eu t-tinha s-s-sonhado c-c-com e-ele...
— Como foi esse sonho, Marvin?
— E-ele e-estava br-brigando c-com u-um h-ho-homem c-cabeludo e b-b-barbudo... d-de o-olhos v-vermelhos... — As mãos de Samara, agora, fizeram o cabo da vassoura trincar, e ela respira fundo, espantada.
— Hm... — Chico reforça-se para não apresentar espanto. — Algum deles vence? Diz algo?
— A-apenas u-uma v-voz... a-acho q-que e-era m-mu-mulher... “O P-pri-prisioneiro d-deverá se li-lib-bertar”...
— Hm... Certo. Só isso, garoto?
— S-sim.
— Então pode ir.
— S-sim. — O garoto fecha a porta e Chico e Samara ficam ali, pensativos e preocupados.
— Parece que a profecia do Monge, do Prisioneiro e da Provedora de Frutos está acontecendo... — Diz Chico. — O Monge apareceu... — Samara senta-se na cama, ouvindo seu pai. — E se era uma mulher que disse que o Prisioneiro se libertará, então quer dizer que a Provedora de Frutos irá mesmo renascer... Ou talvez já tenha renascido... Mas... a profecia dizia de uma criança que não sabe falar... Então não quer dizer que seja muda, e sim... que não consegue falar direito... — Samara olha para Chico, com os olhos úmidos, segurando seu pingente, que se trata de um círculo metálico, e então ela diz, pela primeira vez nesta história:
— M-Marvin corre perigo...
— E, talvez, nós também, minha filha. Mas não devemos nos preocupar. Segundo a profecia, o Monge irá proteger o garoto.
— Marvin! Abre a porta! — Diz Simone, batendo na porta do quarto de Marvin, que se trancou lá dentro.
— N-não! M-m-me deix-xe s-sozinho! — Responde o garoto, sentado à cabeceira da cama e encolhido.
— Por que? Vamos brincar!
— N-não q-q-quero! Q-q-q-quero ficar a-aq-qui... S-sozinh-nho...
— Tá bom... — Triste, a garotinha deixa Marvin e sai dali. O garoto, mais triste que ela, fica sentado na cama, com os olhos úmidos.
“Eu vi ele... Eu vi!” Pensa ele. “Foi real, eu sei!” Sentindo-se cansado, Marvin resolve deixar isso de lado, por ora, e deita-se na cama, para tirar um cochilo, mesmo que ainda seja de manhã. Ele deita-se, vestido mesmo e sem cobrir-se com as cobertas. Ao fechar os olhos, o garoto se apaga, em um profundo sono.
Três paredes de pedra, assim como o teto e o chão, e de um lado há grades de ferro. É uma cela, um cativeiro. Na parede oposta das grades tem uma janela, com outras grades de ferro, por onde entra a luz da lua, iluminando um pouco a cela.
Mas e o prisioneiro? Ah, sim. Ali no canto tem alguém. Ele veste um hábito marrom e tem cabelos negros e cumpridos. Quanto ao rosto, é impossível ver: ele está encolhido no canto da cela, ocultando o rosto. Parece estar dormindo.
Passos leves, vindos de fora da cela, o fazem despertar, e assim ele revela seu rosto: pele escura, barba negra como o cabelo, e olhos vermelhos e incandescentes.
“A Provedora de Frutos está viva...”
— AAAH! — Marvin acorda novamente assustado por causa de um estranho sonho. Novamente aquele homem de olhos vermelhos e aquela voz feminina. “Quem é a ‘Provedora de Frutos’?” pensa o garoto, ofegante.
O garoto, então nota que seu quarto está sendo iluminado pela luz da lua, como na cela que acabara de ver. “Já é de noite?!” espanta-se ele. Alguém deixou um prato de comida e um copo de leite sobre o criado-mudo. Provavelmente foi Chico ou Samara, como sempre fazem. Mas geralmente Marvin está acordado quando eles lhe levam a comida. “Ai, que fome...” pensa o garoto, e apressa-se a comer.
Todas as luzes de Morgana estão apagadas. Todos já foram dormir. Apenas Marvin está acordado, do lado de fora do quarto, escorado no corrimão da passarela, certificando-se de que ninguém está o vendo. Então rapidamente ele correu pela passarela, desceu as escadas e correu para a torre de vigilância.
Marvin chega até a torre, olha para o topo, um tanto com medo, e olha para o abrigo, preocupado. Sem olhar mais para trás, Marvin vai até a escada e começa a subir. Chega a um ponto em que ele se cansa e percebe que está muito alto, mas não olha pra baixo, e continua subindo. Ele sente cada vez mais frio, mas ignora e continua subindo, sabendo que se olhar para baixo, se apavorará e cairá.
Então, finalmente ele chega. Não exatamente no topo. Assim como da outra vez, há uma plataforma acima, que é o topo da torre. E mais uma vez, Marvin usa as mãos para subir ali. E quando fica em pé, espanta-se ao ver aquele homem branco em pé, olhando nos seus olhos, e parece bravo.
Fim da parte 2
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Re: O Monge, O Prisioneiro e A Provedora de Frutos [Completo]
Parte 3 de 5
Marvin não sabe se pula para fugir do homem branco ou se fica ali para ver o que acontece. Quem sabe ele seja amigo, precisa de ajuda ou tem algo a dizer, algum aviso. O garoto se perde nos pensamentos, diante do estranho, quando este move os lábios, dizendo:
— Marvin. — Sua voz era igual à de um humano, não deve ser tão monstruoso quanto aparenta.
— Q-q-quem é v-vo-voc-cê? — Pergunta o garoto, um pouco com medo.
— Eu sou o Monge, e vim te proteger contra alguém terrível, um inimigo meu.
Preso dentro de uma cela de paredes, chão e teto de pedra, e grades de ferro na frente e outras na janela, por onde entra o luar, está um homem encolhido no canto. Ele veste um hábito marrom, tem longos cabelos, tão negros quanto a barba. E seus olhos, vermelhos e sem brilho algum, derramam lágrimas. À sua frente, no chão, tem um pergaminho velho, de cor amarelada, onde ele escreve palavras com um pedaço de carvão.
— Mais uma vez estou a te escrever... Mesmo não sabendo se lerá algum dia ou não... — Diz o homem enquanto escreve. — Só quero te dizer que te amo... do fundo... do meu coração... Sinto... muito a sua falta... eu sei que você voltará... mas está demorando... Por favor... volte logo... — Nisso ele ouve pés descalços se aproximando da cela. Seus olhos começam a brilhar incandescentemente, e com raiva, ele diz: — Quem está aí?
— Calma, meu amor... — É uma voz feminina e doce quem diz.
— V-você?! — Ele se espanta por um segundo ao ver a mulher do outro lado das grades. É uma mulher maravilhosa, tanto de rosto quanto de corpo. Seus olhos são verdes, como as folhas de uma árvore, assim como os cabelos e os lábios. Sua pele é toda verde-clara, e veste um pequeno vestido verde rasgado. E no seu rosto há uma cicatriz, do lado esquerdo, que desce a partir da testa, passa pelo olho e termina no início da bochecha. Seu corpo brilha levemente, clareando um pouco o lugar.
— Estou aqui, meu amor... — Ela abre a cela com apenas um toque e caminha até o homem, que parece paralisado com o que vê.
— E-eu te esperei por tanto tempo... — Diz ele.
— Shhhh! — A mulher põe o dedo indicador nos lábios dele, fazendo-o se calar. — Estou aqui, querido. É o que importa. — E sem hesitar, ela o beija nos lábios, segurando-o pela nuca com sua mão direita. E o homem retribui o beijo, cheio de paixão e amor.
— S-seu i-i-inimigo? O-o que el-ele q-quer d-de m-m-mim? — Diz Marvin, para o homem que disse ser “o Monge”.
— Ele quer matá-lo, Marvin. Assim diz a Profecia. E como a mesma diz, eu irei proteger você.
— M-mas e-eu sou a-ap-penas u-um g-ga-garoto... P-por--
— A razão, Marvin... — Interrompe o homem, um tanto impaciente com a gagueira do garoto. — é desconhecida, por ora. Talvez ele conte quanto vier, mas não teremos tempo para perguntar. Quando ele aparecer, logo terei que matá-lo, com as minhas próprias mãos.
— N-não e-estou en-entendendo... Q-quem v-virá m-m-me matar?
— O Prisioneiro. Aquele com quem você sonhou, assim como sonhou comigo. — Marvin lembra-se no momento dos sonhos que teve, e lembra-se do Prisioneiro, mencionado no primeiro sonho. Certamente deve ser o homem preso na cela que vira, com aparência malévola.
— E a P-Prov-vedora de Fr-Frutos? — Marvin vê que o Monge incomodou-se ao ouvir o nome.
— Ela foi morta pelo Prisioneiro. Era minha amiga, eu a amava. E para se vingar de mim, de algo que nem cheguei a pensar em fazê-lo, ele a matou, para me ferir.
— Eu escrevi pra você... — Dizia o homem de olhos vermelhos, que supostamente é o Prisioneiro. — Eu sabia que essas cartas nunca chegariam até a você, mas--
— Não diga isso, meu amor. — A mulher está sentada no chão, ao lado do homem, abraçando-o. — Eu as li, cada uma.
— M-mesmo? — Surpreende-se ele.
— Sim. — Ela dá um beijo no rosto barbudo do homem. — Amei-as. Cada uma. Você escreve coisas lindas, querido. Você é apaixonante.
— Heh... Não diga isso... — Encabula-se ele, abaixando a cabeça, com o rosto vermelho.
— Digo-te. Mas agora, amor, não temos mais tempo.
— Sim... Agora que estou livre, preciso acertar os assuntos com o Monge. Ele vai cometer uma tragédia se não nos apressar-mos. E contaremos a verdade para todos. Tudo que eles sabem não passa de uma profecia mentirosa, como todas que foram contadas até hoje... Escritas por aquele... aquele... Monge desgraçado!
— Sim... Vamos, querido.
Logo ao amanhecer, Chico reúne os outros doze homens de Morgana no alto de uma colina, próxima ao abrigo. Eles estão formando um círculo e era Chico quem falava. E é sobre a conversa com Marvin no dia anterior que ele dizia.
—...portanto, devemos fazer algo o quanto antes.
— O Monge cuidará do Prisioneiro! Pode ter certeza! — Diz um dos homens.
— Não lembra o que o Chico disse do sonho do garoto, Norman? O Monge sangra, e o Prisioneiro permanece inteiro! — Diz outro homem.
— Tony está certo, o Monge precisará de ajuda. — Diz um outro.
— E a Samara, Chico? — Diz o homem chamado por Norman. — Ela pode ajudar, não?
— Não fale mais nisso, Norman... Ou então você não falará mais nada. — Diz Chico, com raiva no olhar, fazendo todos ficarem espantados e atentos. — Minha filha nunca mais irá fazer o que fazia... Nunca, entendeu? Nunca!
— Desculpe...
— Esquece... Bom, lembrem-se da maldição do Prisioneiro... Precisaremos de uma armadilha, o fazendo parar em uma cela, e assim ele ficará indefeso e inofensivo. Bill, Augusto e Cezar vão procurar por madeiras, já que sabem lidar com ela, e farão as grades. Quanto aos outros, aguardem o meu chamado.
Marvin acorda um tanto espantado. Não consegue lembrar se aquilo que aconteceu na noite passada aconteceu mesmo ou se foi um sonho. Mal lembra de quando desceu da torre e voltou a dormir. Lembra de ter dormido vestido, sem cobrir-se, e é assim que ele acabou de acordar. Lembra de ter se saboreado com a comida e o leite que lhe deixaram no criado-mudo e ter saído. Mas o prato e o copo sobre o criado-mudo estão cheios, será que tudo não passou de um sonho? Talvez não, possivelmente alguém tenha lhe trazido a comida de manhã.
Marvin come a comida, pois está muito faminto, e está ansioso para contar o que vira para Chico. “Mas por que contar a ele?” pensou ele. “Ele não vai acreditar em mim! Mas a Simone pode ser que acredite!”.
Ao terminar de comer, o garoto aproxima-se da porta do quarto, para sair, quando ele ouve um som vindo de fora. Trata-se de passos leves, e um rosnado, que mal entra nos ouvidos do garoto, e lhe diz que é um cão. Certamente o cão de Tony, preparando-se para atacar Marvin quando este sair do quarto. Mas desta vez, o cão não irá surpreendê-lo.
Chico e os homens que o acompanham estão entrando no abrigo e logo avistam o cão de Tony, no início da passarela, e a porta de Marvin abrindo-se. Tony diz:
— Vejam! Mais um show de Marvin, o corredor! — Como sempre, eles ficam olhando, pois acham engraçado ver o Marvin correndo com desespero.
Quando Marvin sai do quarto o cão avança, latindo e pronto para atacar o garoto. Este olha para o cão, que se aproxima, e fica parado. Quando o animal chega perto, o garoto fez algo que ninguém esperava: ele deu um soco, rapidamente, no fuço do seu “inimigo”, e este caiu para trás, de costas, soltando um gemido. Todos ficam olhando, surpresos com o ataque de Marvin. E quanto ao cão, ele levantou-se, um tanto zonzo, com o fuço sangrando, e retornou para o lado de onde vinha, lentamente e com a cauda entre as pernas.
Ninguém consegue acreditar no que viu, e até mesmo Marvin não entende como conseguira fazer algo assim. O cão estava longe, como pôde ouvir seus leves passos e rosnado?
Mas logo as pessoas deixaram pra lá. Afinal, ele ficou apavorado e tentou defender-se de alguma maneira, e assim acertou o cão.
— Uau, Marvin! Foi legal! Como conseguiu? — Chega dizendo Simone, atrás do garoto. Este vira-se, dizendo:
— E-e-eu n-não s-s-sei...
— Como assim?
— E-entre! — Marvin puxa Simone pelo braço, para dentro do quarto, e fecha a porta. Lá dentro, ele conta sobre a conversa com Monge, que não sabe se foi um sonho ou não.
— Nossa... Mas... Isso aconteceu mesmo?
— J-já f-falei q-que não s-s-sei... P-p-pode t-ter sido u-um s-sonho... M-mas s-sei lá... p-pode t-ter s-sido um av-viso... E se o P-Pris-sioneiro v-vier mesmo m-m-me m-matar?
— Sei lá, Marvin... Mas todos de Morgana vão te ajudar... e esse Monge também, pelo que falou.
_ É... t-tomara...
No alto de uma montanha, bem longe de Morgana, está um homem observando o abrigo. É o Prisioneiro, e seus olhos irradiam fúria e dor.
Fim da Parte 3.
Marvin não sabe se pula para fugir do homem branco ou se fica ali para ver o que acontece. Quem sabe ele seja amigo, precisa de ajuda ou tem algo a dizer, algum aviso. O garoto se perde nos pensamentos, diante do estranho, quando este move os lábios, dizendo:
— Marvin. — Sua voz era igual à de um humano, não deve ser tão monstruoso quanto aparenta.
— Q-q-quem é v-vo-voc-cê? — Pergunta o garoto, um pouco com medo.
— Eu sou o Monge, e vim te proteger contra alguém terrível, um inimigo meu.
Preso dentro de uma cela de paredes, chão e teto de pedra, e grades de ferro na frente e outras na janela, por onde entra o luar, está um homem encolhido no canto. Ele veste um hábito marrom, tem longos cabelos, tão negros quanto a barba. E seus olhos, vermelhos e sem brilho algum, derramam lágrimas. À sua frente, no chão, tem um pergaminho velho, de cor amarelada, onde ele escreve palavras com um pedaço de carvão.
— Mais uma vez estou a te escrever... Mesmo não sabendo se lerá algum dia ou não...
— Calma, meu amor... — É uma voz feminina e doce quem diz.
— V-você?! — Ele se espanta por um segundo ao ver a mulher do outro lado das grades. É uma mulher maravilhosa, tanto de rosto quanto de corpo. Seus olhos são verdes, como as folhas de uma árvore, assim como os cabelos e os lábios. Sua pele é toda verde-clara, e veste um pequeno vestido verde rasgado. E no seu rosto há uma cicatriz, do lado esquerdo, que desce a partir da testa, passa pelo olho e termina no início da bochecha. Seu corpo brilha levemente, clareando um pouco o lugar.
— Estou aqui, meu amor... — Ela abre a cela com apenas um toque e caminha até o homem, que parece paralisado com o que vê.
— E-eu te esperei por tanto tempo... — Diz ele.
— Shhhh! — A mulher põe o dedo indicador nos lábios dele, fazendo-o se calar. — Estou aqui, querido. É o que importa. — E sem hesitar, ela o beija nos lábios, segurando-o pela nuca com sua mão direita. E o homem retribui o beijo, cheio de paixão e amor.
— S-seu i-i-inimigo? O-o que el-ele q-quer d-de m-m-mim? — Diz Marvin, para o homem que disse ser “o Monge”.
— Ele quer matá-lo, Marvin. Assim diz a Profecia. E como a mesma diz, eu irei proteger você.
— M-mas e-eu sou a-ap-penas u-um g-ga-garoto... P-por--
— A razão, Marvin... — Interrompe o homem, um tanto impaciente com a gagueira do garoto. — é desconhecida, por ora. Talvez ele conte quanto vier, mas não teremos tempo para perguntar. Quando ele aparecer, logo terei que matá-lo, com as minhas próprias mãos.
— N-não e-estou en-entendendo... Q-quem v-virá m-m-me matar?
— O Prisioneiro. Aquele com quem você sonhou, assim como sonhou comigo. — Marvin lembra-se no momento dos sonhos que teve, e lembra-se do Prisioneiro, mencionado no primeiro sonho. Certamente deve ser o homem preso na cela que vira, com aparência malévola.
— E a P-Prov-vedora de Fr-Frutos? — Marvin vê que o Monge incomodou-se ao ouvir o nome.
— Ela foi morta pelo Prisioneiro. Era minha amiga, eu a amava. E para se vingar de mim, de algo que nem cheguei a pensar em fazê-lo, ele a matou, para me ferir.
— Eu escrevi pra você... — Dizia o homem de olhos vermelhos, que supostamente é o Prisioneiro. — Eu sabia que essas cartas nunca chegariam até a você, mas--
— Não diga isso, meu amor. — A mulher está sentada no chão, ao lado do homem, abraçando-o. — Eu as li, cada uma.
— M-mesmo? — Surpreende-se ele.
— Sim. — Ela dá um beijo no rosto barbudo do homem. — Amei-as. Cada uma. Você escreve coisas lindas, querido. Você é apaixonante.
— Heh... Não diga isso... — Encabula-se ele, abaixando a cabeça, com o rosto vermelho.
— Digo-te. Mas agora, amor, não temos mais tempo.
— Sim... Agora que estou livre, preciso acertar os assuntos com o Monge. Ele vai cometer uma tragédia se não nos apressar-mos. E contaremos a verdade para todos. Tudo que eles sabem não passa de uma profecia mentirosa, como todas que foram contadas até hoje... Escritas por aquele... aquele... Monge desgraçado!
— Sim... Vamos, querido.
Logo ao amanhecer, Chico reúne os outros doze homens de Morgana no alto de uma colina, próxima ao abrigo. Eles estão formando um círculo e era Chico quem falava. E é sobre a conversa com Marvin no dia anterior que ele dizia.
—...portanto, devemos fazer algo o quanto antes.
— O Monge cuidará do Prisioneiro! Pode ter certeza! — Diz um dos homens.
— Não lembra o que o Chico disse do sonho do garoto, Norman? O Monge sangra, e o Prisioneiro permanece inteiro! — Diz outro homem.
— Tony está certo, o Monge precisará de ajuda. — Diz um outro.
— E a Samara, Chico? — Diz o homem chamado por Norman. — Ela pode ajudar, não?
— Não fale mais nisso, Norman... Ou então você não falará mais nada. — Diz Chico, com raiva no olhar, fazendo todos ficarem espantados e atentos. — Minha filha nunca mais irá fazer o que fazia... Nunca, entendeu? Nunca!
— Desculpe...
— Esquece... Bom, lembrem-se da maldição do Prisioneiro... Precisaremos de uma armadilha, o fazendo parar em uma cela, e assim ele ficará indefeso e inofensivo. Bill, Augusto e Cezar vão procurar por madeiras, já que sabem lidar com ela, e farão as grades. Quanto aos outros, aguardem o meu chamado.
Marvin acorda um tanto espantado. Não consegue lembrar se aquilo que aconteceu na noite passada aconteceu mesmo ou se foi um sonho. Mal lembra de quando desceu da torre e voltou a dormir. Lembra de ter dormido vestido, sem cobrir-se, e é assim que ele acabou de acordar. Lembra de ter se saboreado com a comida e o leite que lhe deixaram no criado-mudo e ter saído. Mas o prato e o copo sobre o criado-mudo estão cheios, será que tudo não passou de um sonho? Talvez não, possivelmente alguém tenha lhe trazido a comida de manhã.
Marvin come a comida, pois está muito faminto, e está ansioso para contar o que vira para Chico. “Mas por que contar a ele?” pensou ele. “Ele não vai acreditar em mim! Mas a Simone pode ser que acredite!”.
Ao terminar de comer, o garoto aproxima-se da porta do quarto, para sair, quando ele ouve um som vindo de fora. Trata-se de passos leves, e um rosnado, que mal entra nos ouvidos do garoto, e lhe diz que é um cão. Certamente o cão de Tony, preparando-se para atacar Marvin quando este sair do quarto. Mas desta vez, o cão não irá surpreendê-lo.
Chico e os homens que o acompanham estão entrando no abrigo e logo avistam o cão de Tony, no início da passarela, e a porta de Marvin abrindo-se. Tony diz:
— Vejam! Mais um show de Marvin, o corredor! — Como sempre, eles ficam olhando, pois acham engraçado ver o Marvin correndo com desespero.
Quando Marvin sai do quarto o cão avança, latindo e pronto para atacar o garoto. Este olha para o cão, que se aproxima, e fica parado. Quando o animal chega perto, o garoto fez algo que ninguém esperava: ele deu um soco, rapidamente, no fuço do seu “inimigo”, e este caiu para trás, de costas, soltando um gemido. Todos ficam olhando, surpresos com o ataque de Marvin. E quanto ao cão, ele levantou-se, um tanto zonzo, com o fuço sangrando, e retornou para o lado de onde vinha, lentamente e com a cauda entre as pernas.
Ninguém consegue acreditar no que viu, e até mesmo Marvin não entende como conseguira fazer algo assim. O cão estava longe, como pôde ouvir seus leves passos e rosnado?
Mas logo as pessoas deixaram pra lá. Afinal, ele ficou apavorado e tentou defender-se de alguma maneira, e assim acertou o cão.
— Uau, Marvin! Foi legal! Como conseguiu? — Chega dizendo Simone, atrás do garoto. Este vira-se, dizendo:
— E-e-eu n-não s-s-sei...
— Como assim?
— E-entre! — Marvin puxa Simone pelo braço, para dentro do quarto, e fecha a porta. Lá dentro, ele conta sobre a conversa com Monge, que não sabe se foi um sonho ou não.
— Nossa... Mas... Isso aconteceu mesmo?
— J-já f-falei q-que não s-s-sei... P-p-pode t-ter sido u-um s-sonho... M-mas s-sei lá... p-pode t-ter s-sido um av-viso... E se o P-Pris-sioneiro v-vier mesmo m-m-me m-matar?
— Sei lá, Marvin... Mas todos de Morgana vão te ajudar... e esse Monge também, pelo que falou.
_ É... t-tomara...
No alto de uma montanha, bem longe de Morgana, está um homem observando o abrigo. É o Prisioneiro, e seus olhos irradiam fúria e dor.
Fim da Parte 3.
Morlun, o Milenar- Moderador
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Re: O Monge, O Prisioneiro e A Provedora de Frutos [Completo]
Parte 4 de 5
À luz do sol da manhã, uma mulher, moradora de Morgana, está na beira do pequeno rio, próximo ao abrigo, enchendo uma bacia de água. Tranqüila e distraída, cantarolando com alegria. Mas logo a alegria se vai quando percebe que à sua esquerda, ao longe, há um homem cabeludo e barbudo, usando um hábito marrom. Mesmo tão longe, é fácil notar seus olhos vermelhos reluzentes. E ele caminha aproximando-se do abrigo.
Sem pensar duas vezes, a mulher larga a bacia, deixando-a cair no rio, e corre para avisar os moradores.
Marvin e Simone estão saindo do quarto do primeiro e logo ouvem, assim como os outros moradores que varrem as passarelas ou conversam, uma mulher gritando, vindo de fora. “ELE ESTÁ VINDO!!!”. Todos ficam amedrontados, já imaginando de quem a mulher está falando. Marvin e Simone não compreendem, mas imaginam que seja o Prisioneiro, como fora avisado no “sonho” do garoto.
Todos correm para as janelas e vêem aquele homem de olhos vermelhos aproximando-se, e agora já está bem próximo de Morgana. Chico e Samara, no alto do abrigo, também olham com medo.
— Bem... Chegou a hora. — Diz o homem. — Samara. — Ela olha para ele. — Não pense em fazer isso que você está pensando. — A mulher abaixa a cabeça. — Você deve pegar Marvin e escondê-lo. E Simone também. Está bem? — Samara apenas balança a cabeça positivamente
As pessoas tentam esconder-se, mas continuam a espiar pelas janelas, vendo que o Prisioneiro está bem próximo. E então uma pequena pontada de alívio surge quando vêem um homem de pele branca, como papel, e nu salta do alto da torre de vigilância, e cai em pé diante do homem de olhos vermelhos. Ele é o Monge. E é nesse momento que percebe-se que o Monge não tem órgão sexual algum.
— Prisioneiro... — Diz o Monge, com total fúria e serrando os punhos.
— Monge. — Diz o Prisioneiro, com um ar de tranqüilidade, mas com raiva.
— Parece que o meu hábito está te aquecendo o corpo.
— Você não tem o que esconder e ficou grande de mais para ele. Não é verdade?
— Sim. Você tem razão... meu velho inimigo.
Os olhos do Prisioneiro brilham como fogo, e ele avança, acertando um grande soco no rosto do Monge. Este tenta acertar um soco também, mas o seu oponente foi mais rápido, e agarrou seu punho e acertou um soco no estômago e um chute no peito. Este último golpe fez com que o Monge seja jogado contra a torre. Esta não suporta e começa a cair, para o lado do abrigo.
O Prisioneiro, vendo que aquilo poderia resultar na destruição de Morgana, avança tão rápido quanto um felino selvagem, dá a volta na torre e a empurra, fazendo-a cair para o outro lado, em direção ao Monge. Este se levanta rapidamente e dá a volta, indo à direção ao Prisioneiro e acertando um chute em suas costelas.
O Prisioneiro quase não sente dor e agarra a perna do inimigo e o lança para dentro do abrigo, caindo deitado, no centro dele. E então avança, aproveitando que seu inimigo está caído.
Marvin e Simone assistem aquela cena do segundo andar, à beira da passarela, quando Samara chega até eles.
— Crianças, venham comigo. Rápido! — A mulher conduz os dois a descerem da passarela e entrarem em um quarto que fica ao lado da entrada do abrigo.
Antes de entrar, Marvin olha novamente para os dois homens que lutam brutalmente e rapidamente o Prisioneiro olha para o garoto e a raiva dele pareceu sumir por um instante, e logo leva um soco no rosto, mal sentido, pelo Monge, e Marvin é puxado pelo ombro pela Samara, para que entrasse logo naquele quarto.
— O-o que est-tá ac-contec-cendo? — Pergunta o garoto, quando Samara fecha a porta daquele pequeno quarto totalmente vazio e escuro.
— Não temos tempo, Marvin, vamos! — No meio do quarto, Samara abre uma porta, no chão, onde há uma escada para descer. — Venham por aqui!
Simone desceu na frente, seguida por Marvin. Ambos estranhando Samara por estar falando, algo que julgavam impossível de acontecer algum dia.
Após a escada há um túnel quadrangular, de madeira, com tamanho o suficiente para que Samara possa andar em pé nele. E assim os três seguem adiante, até chegaram a uma porta, que Samara abre, e logo fecha assim que os três passam por ela. O recinto não parece ser muito pequeno e é totalmente escuro, até que Samara encontra uma lâmpada pendurada no teto e a ascende com uma chave no bucal.
Marvin olha para as paredes e nota que em uma, a oposta da porta por onde entrara, há outra porta, com tábuas pregadas, trancando-a. Ele começa a pensar sobre o porquê daquela porta estar trancada e logo se obriga a esquecer quando Samara começa a falar:
— Você corre perigo, Marvin... — A mulher senta-se no chão, encostada em uma parede. Simone logo se senta do lado dela e Marvin prefere ficar em pé.
— E-eu sei... O-o M-Monge me c-cont-tou...
— O Monge?
— Eu n-não sei s-se foi son-nho, m-mas eu s-subi n-na tor-rre... e ele m-me dis-sse que o P-Pr-Prisioneiro v-viria m-me m-m-matar...
— Não sabemos o porquê de ele querer te matar. Mas a Profecia diz que o Prisioneiro quer te matar e o Monge te protegerá. E a Provedora de Frutos, que foi morta pelo Prisioneiro, irá renascer, ou já renasceu. Mas não se sabe o que ela fará...
— O P-Pr-Prisioneiro nos v-viu entr-trando aqui, e s-se e-ele m-m-matar o M-Monge...
— Eu vou Subir... Se o Prisioneiro vencer eu o enfrentarei.
— Mas como? — Perguntou Simone, espantada.
— Levante-se, querida. — Simone obedece e Samara logo se levanta, virando-se para a parede em que estava escorada. Em seguida ela põe a mão em um pequeno buraco retangular no alto da parede e a puxa, com força, fazendo a parede sair do lugar. Atrás dela há uma parede de terra e um buraco quadrado no meio, onde se pode ver duas peças de roupas e um par de botas. — Marvin, irei me trocar... Então vire-se.
— T-tá... — Responde o garoto, um tanto encabulado, e virando-se, ficando de costas para Samara e Simone.
Logo Samara despe-se, ficando apenas de calcinha. Marvin fecha os olhos, mal sabendo o porquê, e de alguma forma ele vê o corpo magnífico da mulher, como se sentisse o ar batendo em volta dela. Então ele “acorda” e prefere deixar isso de lado.
— Pronto, Marvin. — Diz Samara. O garoto vira-se e vê Samara, com outras vestes, que são brancas, como o vestido que usava. Ela usa agora uma calça colada, uma blusinha de apenas uma alça e um par de botas. Em seu pescoço ainda está aquele pingente, que é um círculo prateado. E presos à cinta, estão dois sais prateados. — Quero que os dois fiquem aqui, está bem? Eu vou subir, caso o Prisioneiro vença o Monge, eu tentarei fazer algo, até que prendam o Prisioneiro em uma jaula.
— M-Mas... O-o que est-tá h-hav-vendo, S-S-Samara? N-não est-tou ent-tend-dendo...! — Diz o garoto, confuso.
— Certo, Marvin, vou contar a vocês...
“Há muito tempo atrás, quando eu era apenas uma criança, havia uma cidadela chamada Morgana. Várias pessoas viviam lá, pacificamente. E o Prisioneiro vivia em uma grande torre, aprisionado atrás de grades, bem no centro da cidadela. Não se sabe o porquê de ele estar preso lá, mas ele ficou preso tanto tempo que nasceu maldade pura dentro dele e uma maldição o tomou: quando fica aprisionado atrás de grades, ele fica indefeso e inofensivo.”
“Até que um dia ele se libertou. Não se sabe muito de como ele conseguiu, mas dizem que uma freira o soltou. A mais nova freira de Morgana, e até hoje não se tem notícias dela. Talvez ela tenha sido morta pelo Prisioneiro ou algo assim. E quanto ao Monge, dizem que ele foi um monge de Morgana, o único, mas a razão de ele ter a aparência que tem, não se sabe. E a Provedora de Frutos, bem, não se sabe nada a respeito, mas foi amiga do Monge e morta pelo Prisioneiro, para ferir o Monge, e assim os dois tornaram-se inimigos.”
“Os moradores de Morgana fugiram todos, com medo do Prisioneiro. Alguns não escaparam, foram mortos por ele. E a cidadela foi toda destruída em uma terrível tempestade”
“O Monge desapareceu, mas antes ele disse de uma profecia... Disse que o Prisioneiro irá voltar para matar um garoto que não consegue falar e a Provedora de Frutos irá renascer. E quanto ao Prisioneiro, ele foi novamente aprisionado, levado pelo Carroceiro a uma cela abandonada em uma floresta escura.”
“E agora, bem, o Monge voltou. O Prisioneiro se libertou. E não se sabe se a Provedora de Frutos renasceu.”
— M-mas... Q-quem é o C-C-Car-rroc-ceiro?
— Um homem que nunca come. Nunca bebe. Nunca dorme. Vive vagando em sua carroça sem destino. A única coisa que ele faz mesmo é pegar o Prisioneiro e levá-lo até uma cela para que fique aprisionado.
— Se o Prisioneiro é tão poderoso, como o Carroceiro consegue prendê-lo? — Pergunta Simone, cansada de apenas ouvir e ficar em silêncio.
— O Carroceiro é poderoso também. E perigoso. Ele não tem piedade de ninguém. Se você cruzar o caminho dele, ele não terá pena.
— E-então o C-Carroc-ceiro virá p-pegar o P-Pris-sioneiro? — Pergunta Marvin.
— Sim, com certeza. Mas ele não sabe onde o Prisioneiro está. Apenas sabe que ele se libertou e neste momento o está procurando. Agora não posso ficar mais um minuto aqui. Preciso subir, logo o Monge pode cair... e eu serei a única salvação de Morgana. quero que vocês fiquem aqui.
— M-mas e s-se o Pr-Prision-neiro ap-parecer? — Diz o garoto, preocupado.
— Eu não deixarei, Marvin. Prometo.
A luta do Prisioneiro e o Monge já chegou do lado de fora do abrigo. O Monge está exausto, com o nariz e a boca jorrando sangue branco. O Prisioneiro permanece inteiro, sem ferimento algum ou cansaço.
— Vê, Monge? Depois de tantas mentiras e hipocrisias, você só tem de morrer! — Diz o Prisioneiro, em pé, diante do Monge que está caído, procurando forças, em frente ao abrigo a aos olhos dos moradores.
— Eu não sou mentiroso, Prisioneiro. E muito menos hipócrita! — O Monge levanta-se, encarando o Prisioneiro com fúria, mas continua exausto e quase sem forças. — Você é um assassino, todos sabem.
— Todos pensam isso por que você disse. E hoje mesmo todos irão descobrir. — O Prisioneiro avança. O Monge tenta se proteger, avançando um soco, mas está muito lento, e seu oponente lhe acerta vários socos no rosto e no estômago. — Você está fraco. Irá tombar e virar pó, do jeito que merece! — O Prisioneiro pára novamente, diante do Monge, que luta contra suas pernas que não querem ficar em pé.
— Eu... não... vou... TOMBAR! — O Monge, com suas ultimas forças, avança, tentando um soco, mas seu oponente lhe acerta um golpe no queixo, que o faz dar uma cambalhota no ar e cair de costas no chão.
O homem ferido mal sabe qual membro do corpo o Prisioneiro usou. E como um legítimo guerreiro, o Monge levanta-se, mesmo sem forças.
— Eu... não... vou... tombar...! — Ele dá um passo, levantando a mão. Mas desta vez o Prisioneiro não se move e o Monge ouve galopes às suas costas. Quando ele pensa em mover a cabeça para ver o que é, um touro lhe atinge nas costas com as guampas, lhe jogando para frente e o Prisioneiro o agarra pelos ombros.
— Vê Monge? — O Prisioneiro olha nos olhos serrados do inimigo, que está totalmente sem força e à beira da morte. — Os animais sabem quem é o mentiroso. Agora, velho inimigo, tombe e desapareça. — O Prisioneiro larga o Monge, deixando-o cair no chão, batendo o rosto no gramado, imóvel e com os olhos fechados.
Em seguida, o Monge parece esfarelar-se, espalhando pó branco pelo vento, até que não exista mais nada no chão onde estava deitado. O Monge, agora, está morto.
Fim da Parte 4
À luz do sol da manhã, uma mulher, moradora de Morgana, está na beira do pequeno rio, próximo ao abrigo, enchendo uma bacia de água. Tranqüila e distraída, cantarolando com alegria. Mas logo a alegria se vai quando percebe que à sua esquerda, ao longe, há um homem cabeludo e barbudo, usando um hábito marrom. Mesmo tão longe, é fácil notar seus olhos vermelhos reluzentes. E ele caminha aproximando-se do abrigo.
Sem pensar duas vezes, a mulher larga a bacia, deixando-a cair no rio, e corre para avisar os moradores.
Marvin e Simone estão saindo do quarto do primeiro e logo ouvem, assim como os outros moradores que varrem as passarelas ou conversam, uma mulher gritando, vindo de fora. “ELE ESTÁ VINDO!!!”. Todos ficam amedrontados, já imaginando de quem a mulher está falando. Marvin e Simone não compreendem, mas imaginam que seja o Prisioneiro, como fora avisado no “sonho” do garoto.
Todos correm para as janelas e vêem aquele homem de olhos vermelhos aproximando-se, e agora já está bem próximo de Morgana. Chico e Samara, no alto do abrigo, também olham com medo.
— Bem... Chegou a hora. — Diz o homem. — Samara. — Ela olha para ele. — Não pense em fazer isso que você está pensando. — A mulher abaixa a cabeça. — Você deve pegar Marvin e escondê-lo. E Simone também. Está bem? — Samara apenas balança a cabeça positivamente
As pessoas tentam esconder-se, mas continuam a espiar pelas janelas, vendo que o Prisioneiro está bem próximo. E então uma pequena pontada de alívio surge quando vêem um homem de pele branca, como papel, e nu salta do alto da torre de vigilância, e cai em pé diante do homem de olhos vermelhos. Ele é o Monge. E é nesse momento que percebe-se que o Monge não tem órgão sexual algum.
— Prisioneiro... — Diz o Monge, com total fúria e serrando os punhos.
— Monge. — Diz o Prisioneiro, com um ar de tranqüilidade, mas com raiva.
— Parece que o meu hábito está te aquecendo o corpo.
— Você não tem o que esconder e ficou grande de mais para ele. Não é verdade?
— Sim. Você tem razão... meu velho inimigo.
Os olhos do Prisioneiro brilham como fogo, e ele avança, acertando um grande soco no rosto do Monge. Este tenta acertar um soco também, mas o seu oponente foi mais rápido, e agarrou seu punho e acertou um soco no estômago e um chute no peito. Este último golpe fez com que o Monge seja jogado contra a torre. Esta não suporta e começa a cair, para o lado do abrigo.
O Prisioneiro, vendo que aquilo poderia resultar na destruição de Morgana, avança tão rápido quanto um felino selvagem, dá a volta na torre e a empurra, fazendo-a cair para o outro lado, em direção ao Monge. Este se levanta rapidamente e dá a volta, indo à direção ao Prisioneiro e acertando um chute em suas costelas.
O Prisioneiro quase não sente dor e agarra a perna do inimigo e o lança para dentro do abrigo, caindo deitado, no centro dele. E então avança, aproveitando que seu inimigo está caído.
Marvin e Simone assistem aquela cena do segundo andar, à beira da passarela, quando Samara chega até eles.
— Crianças, venham comigo. Rápido! — A mulher conduz os dois a descerem da passarela e entrarem em um quarto que fica ao lado da entrada do abrigo.
Antes de entrar, Marvin olha novamente para os dois homens que lutam brutalmente e rapidamente o Prisioneiro olha para o garoto e a raiva dele pareceu sumir por um instante, e logo leva um soco no rosto, mal sentido, pelo Monge, e Marvin é puxado pelo ombro pela Samara, para que entrasse logo naquele quarto.
— O-o que est-tá ac-contec-cendo? — Pergunta o garoto, quando Samara fecha a porta daquele pequeno quarto totalmente vazio e escuro.
— Não temos tempo, Marvin, vamos! — No meio do quarto, Samara abre uma porta, no chão, onde há uma escada para descer. — Venham por aqui!
Simone desceu na frente, seguida por Marvin. Ambos estranhando Samara por estar falando, algo que julgavam impossível de acontecer algum dia.
Após a escada há um túnel quadrangular, de madeira, com tamanho o suficiente para que Samara possa andar em pé nele. E assim os três seguem adiante, até chegaram a uma porta, que Samara abre, e logo fecha assim que os três passam por ela. O recinto não parece ser muito pequeno e é totalmente escuro, até que Samara encontra uma lâmpada pendurada no teto e a ascende com uma chave no bucal.
Marvin olha para as paredes e nota que em uma, a oposta da porta por onde entrara, há outra porta, com tábuas pregadas, trancando-a. Ele começa a pensar sobre o porquê daquela porta estar trancada e logo se obriga a esquecer quando Samara começa a falar:
— Você corre perigo, Marvin... — A mulher senta-se no chão, encostada em uma parede. Simone logo se senta do lado dela e Marvin prefere ficar em pé.
— E-eu sei... O-o M-Monge me c-cont-tou...
— O Monge?
— Eu n-não sei s-se foi son-nho, m-mas eu s-subi n-na tor-rre... e ele m-me dis-sse que o P-Pr-Prisioneiro v-viria m-me m-m-matar...
— Não sabemos o porquê de ele querer te matar. Mas a Profecia diz que o Prisioneiro quer te matar e o Monge te protegerá. E a Provedora de Frutos, que foi morta pelo Prisioneiro, irá renascer, ou já renasceu. Mas não se sabe o que ela fará...
— O P-Pr-Prisioneiro nos v-viu entr-trando aqui, e s-se e-ele m-m-matar o M-Monge...
— Eu vou Subir... Se o Prisioneiro vencer eu o enfrentarei.
— Mas como? — Perguntou Simone, espantada.
— Levante-se, querida. — Simone obedece e Samara logo se levanta, virando-se para a parede em que estava escorada. Em seguida ela põe a mão em um pequeno buraco retangular no alto da parede e a puxa, com força, fazendo a parede sair do lugar. Atrás dela há uma parede de terra e um buraco quadrado no meio, onde se pode ver duas peças de roupas e um par de botas. — Marvin, irei me trocar... Então vire-se.
— T-tá... — Responde o garoto, um tanto encabulado, e virando-se, ficando de costas para Samara e Simone.
Logo Samara despe-se, ficando apenas de calcinha. Marvin fecha os olhos, mal sabendo o porquê, e de alguma forma ele vê o corpo magnífico da mulher, como se sentisse o ar batendo em volta dela. Então ele “acorda” e prefere deixar isso de lado.
— Pronto, Marvin. — Diz Samara. O garoto vira-se e vê Samara, com outras vestes, que são brancas, como o vestido que usava. Ela usa agora uma calça colada, uma blusinha de apenas uma alça e um par de botas. Em seu pescoço ainda está aquele pingente, que é um círculo prateado. E presos à cinta, estão dois sais prateados. — Quero que os dois fiquem aqui, está bem? Eu vou subir, caso o Prisioneiro vença o Monge, eu tentarei fazer algo, até que prendam o Prisioneiro em uma jaula.
— M-Mas... O-o que est-tá h-hav-vendo, S-S-Samara? N-não est-tou ent-tend-dendo...! — Diz o garoto, confuso.
— Certo, Marvin, vou contar a vocês...
“Há muito tempo atrás, quando eu era apenas uma criança, havia uma cidadela chamada Morgana. Várias pessoas viviam lá, pacificamente. E o Prisioneiro vivia em uma grande torre, aprisionado atrás de grades, bem no centro da cidadela. Não se sabe o porquê de ele estar preso lá, mas ele ficou preso tanto tempo que nasceu maldade pura dentro dele e uma maldição o tomou: quando fica aprisionado atrás de grades, ele fica indefeso e inofensivo.”
“Até que um dia ele se libertou. Não se sabe muito de como ele conseguiu, mas dizem que uma freira o soltou. A mais nova freira de Morgana, e até hoje não se tem notícias dela. Talvez ela tenha sido morta pelo Prisioneiro ou algo assim. E quanto ao Monge, dizem que ele foi um monge de Morgana, o único, mas a razão de ele ter a aparência que tem, não se sabe. E a Provedora de Frutos, bem, não se sabe nada a respeito, mas foi amiga do Monge e morta pelo Prisioneiro, para ferir o Monge, e assim os dois tornaram-se inimigos.”
“Os moradores de Morgana fugiram todos, com medo do Prisioneiro. Alguns não escaparam, foram mortos por ele. E a cidadela foi toda destruída em uma terrível tempestade”
“O Monge desapareceu, mas antes ele disse de uma profecia... Disse que o Prisioneiro irá voltar para matar um garoto que não consegue falar e a Provedora de Frutos irá renascer. E quanto ao Prisioneiro, ele foi novamente aprisionado, levado pelo Carroceiro a uma cela abandonada em uma floresta escura.”
“E agora, bem, o Monge voltou. O Prisioneiro se libertou. E não se sabe se a Provedora de Frutos renasceu.”
— M-mas... Q-quem é o C-C-Car-rroc-ceiro?
— Um homem que nunca come. Nunca bebe. Nunca dorme. Vive vagando em sua carroça sem destino. A única coisa que ele faz mesmo é pegar o Prisioneiro e levá-lo até uma cela para que fique aprisionado.
— Se o Prisioneiro é tão poderoso, como o Carroceiro consegue prendê-lo? — Pergunta Simone, cansada de apenas ouvir e ficar em silêncio.
— O Carroceiro é poderoso também. E perigoso. Ele não tem piedade de ninguém. Se você cruzar o caminho dele, ele não terá pena.
— E-então o C-Carroc-ceiro virá p-pegar o P-Pris-sioneiro? — Pergunta Marvin.
— Sim, com certeza. Mas ele não sabe onde o Prisioneiro está. Apenas sabe que ele se libertou e neste momento o está procurando. Agora não posso ficar mais um minuto aqui. Preciso subir, logo o Monge pode cair... e eu serei a única salvação de Morgana. quero que vocês fiquem aqui.
— M-mas e s-se o Pr-Prision-neiro ap-parecer? — Diz o garoto, preocupado.
— Eu não deixarei, Marvin. Prometo.
A luta do Prisioneiro e o Monge já chegou do lado de fora do abrigo. O Monge está exausto, com o nariz e a boca jorrando sangue branco. O Prisioneiro permanece inteiro, sem ferimento algum ou cansaço.
— Vê, Monge? Depois de tantas mentiras e hipocrisias, você só tem de morrer! — Diz o Prisioneiro, em pé, diante do Monge que está caído, procurando forças, em frente ao abrigo a aos olhos dos moradores.
— Eu não sou mentiroso, Prisioneiro. E muito menos hipócrita! — O Monge levanta-se, encarando o Prisioneiro com fúria, mas continua exausto e quase sem forças. — Você é um assassino, todos sabem.
— Todos pensam isso por que você disse. E hoje mesmo todos irão descobrir. — O Prisioneiro avança. O Monge tenta se proteger, avançando um soco, mas está muito lento, e seu oponente lhe acerta vários socos no rosto e no estômago. — Você está fraco. Irá tombar e virar pó, do jeito que merece! — O Prisioneiro pára novamente, diante do Monge, que luta contra suas pernas que não querem ficar em pé.
— Eu... não... vou... TOMBAR! — O Monge, com suas ultimas forças, avança, tentando um soco, mas seu oponente lhe acerta um golpe no queixo, que o faz dar uma cambalhota no ar e cair de costas no chão.
O homem ferido mal sabe qual membro do corpo o Prisioneiro usou. E como um legítimo guerreiro, o Monge levanta-se, mesmo sem forças.
— Eu... não... vou... tombar...! — Ele dá um passo, levantando a mão. Mas desta vez o Prisioneiro não se move e o Monge ouve galopes às suas costas. Quando ele pensa em mover a cabeça para ver o que é, um touro lhe atinge nas costas com as guampas, lhe jogando para frente e o Prisioneiro o agarra pelos ombros.
— Vê Monge? — O Prisioneiro olha nos olhos serrados do inimigo, que está totalmente sem força e à beira da morte. — Os animais sabem quem é o mentiroso. Agora, velho inimigo, tombe e desapareça. — O Prisioneiro larga o Monge, deixando-o cair no chão, batendo o rosto no gramado, imóvel e com os olhos fechados.
Em seguida, o Monge parece esfarelar-se, espalhando pó branco pelo vento, até que não exista mais nada no chão onde estava deitado. O Monge, agora, está morto.
Fim da Parte 4
Morlun, o Milenar- Moderador
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Re: O Monge, O Prisioneiro e A Provedora de Frutos [Completo]
Parte 5 de 5
O Monge está morto. Todos os moradores de Morgana ficam totalmente apavorados, pois viam o Monge como sua única salvação. E se apavoram ainda mais quando o Prisioneiro, a ameaça que eles temem, se aproxima da entrada do abrigo, andando, com os olhos aparentemente furiosos.
Todos os moradores ficam nas passarelas, alguns entram nos quartos e ficam espiando pela porta entreaberta, e outros ficam indecisos entre ficar para ver o que o Prisioneiro fará ou esconder-se também. Foi quando ele chega bem ao meio do abrigo e olha para todas as pessoas que ele diz:
— Eu quero o garoto. Apenas o garoto. — E então ele vira-se para o quarto onde o vira entrar com Simone e Samara, no exato momento em que essa última sai de lá, com as novas vestes que acabara de vestir, empunhando os sais prateados, jogando ao seu inimigo um olhar ameaçador.
— Você não vai levar ninguém! — Diz Samara, disposta a enfrentar o Prisioneiro, mesmo achando que pode não conseguir. Quanto ao Chico, que estava na passarela mais alta, em frente ao seu quarto, suspira decepcionado ao ver sua filha.
— Você era do Círculo, não? — Diz o Prisioneiro, ao ver as armas da mulher e o pingente em forma de círculo pendurado no pescoço dela. — A tal “sociedade das armas mágicas”... — Prisioneiro aproxima lentamente, passo a passo, de Samara. Esta fica mais furiosa e diz:
— São armas místicas...! E hoje, você vai pagar caro pelo que fez a muito tempo...
— A vingança que pretende cometer, minha jovem, é um equívoco. Basta não cometer o que está querendo, que ficará viva para saber. — O Prisioneiro pára há dois metros dela, serra os punhos e olha friamente nos olhos da mulher, com os olhos cintilantes.
— Não há nada para você esclarecer, Prisioneiro... Você irá morrer!
— Você sabe que sou imortal para os mortais. Apenas sou mortal para mim mesmo.
— É o que veremos! — Samara avança velozmente, como se voasse ao correr, e logo começa a lançar golpes com os sais. Seu oponente é ainda mais rápido e se esquiva de todos os golpes, desviando-se com o corpo, ou acertando nos braços delas com as mãos, para errar o golpe.
Após alguns segundos de luta Samara, sem parar os movimentos de luta com as mãos, solta no ar os sais para lutar usando socos e chutes, dos quais o Prisioneiro se esquivava de todos. E quanto às adagas, elas incrivelmente não caíram: continuaram a movimentarem-se no ar, sozinhas, como se houvesse ali um fantasma empunhando-as. Ou seja: é como se haviam duas pessoas lutando contra o Prisioneiro, mas mesmo assim, ele permanece em pé e a única coisa que lhe acontece é os pequenos cortes em seu hábito.
Após alguns minutos da luta que parece que vai levar a nada, Samara dá uma cambalhota de costas no ar, parando há dois metros do Prisioneiro, e os sais voltaram às suas mãos. Ela ficou encarando-o, um tanto exausta, pronta caso seu oponente a ataque. Mas algo lhe diz que ele não pretende fazer nada, pois além de ele estar parado, com as mãos às costas, ele nem se quer feriu Samara durante a luta. Apenas livrou-se dos golpes. “Será que ele não tem intenção de me ferir?” Pensa Samara. “Mas... por quê?”
Neste exato momento, dois homens pulam da passarela do segundo andar, próxima ao Prisioneiro, e eles carregam uma grande jaula de madeira, com uma abertura em baixo, e assim a fazem cair em volta dele, deixando-o preso. Os homens eram Bill e Cezar, que juntamente com Augusto, foram encarregados de procurar por madeira e construir uma jaula.
O Prisioneiro, quando se vê aprisionado, um pouco de espanto lhe toma, mas não muito, então ele agarra nas grades com as mãos, encarando Samara. Esta fica confusa e não entende como foi fácil prendê-lo. Todos parecem ter percebido isso, no certo o Prisioneiro teria fugido, mas não, ele ficou parado, como se deixasse que o aprisionassem. Então todos desceram e ficaram em volta da jaula.
— Certamente que eu não posso destruir essa jaula de madeira... — Disse o Prisioneiro. — Devido à maldição que tenho, não? A maldição que ganhei porque os bisavôs de vocês me prenderam em uma maldita torre na verdadeira Morgana. — Ele encara todos, caminhando em círculo pela jaula, não muito furioso e não muito com medo. — Pois saibam que estão cometendo um terrível erro.
— Erro? — Diz Chico, aproximando-se e encarando o Prisioneiro. — Erro?! Você matou quase todos os moradores de Morgana quando fugiu! Matou a freira que o libertou! Matou a Provedora de Frutos! E o Monge, que era a paz encarnada em uma pessoa!
— Hah! O Monge?! Paz?! Abra os olhos, Chico! — Diz o homem da jaula, com raiva e sarcasmo. — O Monge é o ser mais hipócrita e mentiroso da Terra! E eu não matei a Provedora de Frutos e muito menos aquela freira... e bem menos os tais moradores de Morgana!
— Então quem foi!? — Esbraveja Chico.
— O MONGE!!!
— Ora essa! Como pode dizer isso, seu--?
— Eu digo, pois é a maior das verdades. Toda a profecia idiota que vocês ouviram não passa de calúnia... Calúnia que o Monge inventou! — Naquele momento, Marvin e Simone saíram do esconderijo e se depararam com a cena. Então o Prisioneiro aponta para o garoto e diz: — Eu não quero matar ele, o Marvin! Eu nunca faria mal a uma criança! — Todos olham para as crianças e se voltam para o homem aprisionado.
— Então, o que quer com ele? — Pergunta Chico, com tom de ameaça.
— Ele não é apenas Marvin, o garoto gago. Não é Marvin, o garotinho perdido... Ele é Marvin, o Filho do Prisioneiro! — Foi um abalo total. Todos ficaram completamente espantados, mas não acreditaram. Marvin não entendeu, ficou totalmente confuso. — E a mãe dele... é a Provedora de Frutos! — Piorou a situação. Ficaram com muita raiva, sentiram vontade de avançar no homem.
— Que mentira é essa?! — Diz Chico. — Como ousa dizer tamanha calúnia?!
— Calúnia é o que vocês acham que é! O que a Profecia diz, hein?! Que o Prisioneiro destruirá a cidadela chamada Morgana após matar o garoto que não sabe falar? Ser gago não é não saber falar... E essa coisa que você chama de Morgana não chega perto de ser uma cidadela! Ou seja, tudo é nada! NADA!
Ninguém sabe o que fazer, estão totalmente confusos, pois as últimas palavras do Prisioneiro são verdadeiras. Marvin não entendia, e Simone menos ainda. “Ele não pode ser meu pai!”, pensa o garoto. E ao ver os olhos furiosos de Samara, o homem enjaulado torna a dizer:
— E você, supostamente, ainda acha que matei os seus companheiros do Círculo, não?
— Eu vi você--! — Samara tenta iniciar uma frase.
— Não, não viu! Você não sabe o que viu! As armas místicas do Círculo ficam movimentando-se como se estivessem vivas se o dono permanecer ativo e disposto a lutar... E os seus amigos ficavam cada vez mais exaustos e estavam perdendo as esperanças. Como eu estava totalmente forte, as armas se rebelaram contra os donos e os mataram. Eu tentei ajudá-los, eles poderiam confirmar se estivessem vivos, mas as armas ficaram totalmente descontroladas!
— MENTIRA!
— Você tinha nem quinze anos, não pode dizer se é ou não uma mentira! — O Prisioneiro a encara, vendo que ela fica confusa, e então encara cada pessoa presente. — Vocês me julgam malévolo, só porque sou diferente... Que culpa tenho eu? Que culpa tenho se meu pai, que ninguém sabe quem é, poderia ser algum monstro? Que culpa teve minha mãe, mortal morta pelos bisavôs de vocês, de ter um filho que nunca desejou ter? — O homem passou a expressar um pouco de inocência e tristeza. E para todos, ele parecia ser sincero. — Vocês enforcaram a minha mãe na minha frente. Eu tinha nem dois anos de idade, mas lembro muito bem... Ela sofria, pedia piedade... E ninguém se importou. Mataram-na, como se tivesse culpa. Lutou para que ninguém me visse, mas foi em vão. — Uma lágrima escorre no rosto dele.
“E então, o final da primeira parte da minha vida: aprisionaram-me ao verem que eu não poderia ser morto. Na torre mais alta de Morgana. Não sabiam o motivo de ela estar lá, e então me prenderam, para que ela não tivesse sido construída em vão. E foi aí que me tornei o Prisioneiro, passando anos e anos entre paredes de pedra e grades de ferro... Vivendo da comida que o Monge me levava... Comida estragada... — Ele abaixa a cabeça, forçando a memória. — Eu nem lembro o nome que minha mãe me dera. Essa é a única coisa que eu não lembro. Só ouvia as pessoas de Morgana falarem sobre “o Prisioneiro”. Achei que era eu, pois o Monge me chamava assim”.
Enfim, silêncio. Todos ficaram encarando o Prisioneiro, incrédulos e confusos. Ele parecia muito bem falar a verdade. Quando Marvin e Simone resolveram juntar-se à multidão, o homem voltou a falar:
— Certo dia, ao invés do desprezível Monge ter me levado comida, não sei por que, mas foi uma freira. Uma paixão surgiu ali. Meses depois ela me libertou... Todos ficaram abalados e começaram a fugir... Com medo. O Monge, com fúria e inveja, matou a freira, e várias pessoas, fazendo a culpa cair em mim. Eu nada pude fazer, pois os guerreiros do Círculo me atacaram.
“A minha raiva fez com que eu começasse a destruir Morgana e então apareceu o Carroceiro... Ele queria me levar, para me prender outra vez em uma cela no meio de uma floresta. Eu enfrentei ele, mas aquele velho era mais poderoso... E me levou.”
“E vocês, que eram crianças, juntamente com seus pais, saíram de lá, ficaram perdidos... Mas deu tempo para o Monge contar a vocês sobre a Profecia nojenta que ele inventou.”
— Não consigo acreditar... — Diz Chico, confuso.
— Eu sei, é complicado... Mas o que posso fazer? — Ele olha para Marvin, logo atrás das pessoas, tentando dar uma “espiada”. — Venha cá, Marvin...
— E-eu...? — Diz o garoto.
— Venha, garoto, pode vir... Todos sabem que eu não poderia ferir você estando preso aqui. — As pessoas abrem espaço, já que é verdade que o Prisioneiro não irá ferir ninguém. Quando Marvin chega perto o Prisioneiro continuou: — Olhem para ele... Tem olhos verdes, igual os da sua mãe... Lindos e brilhantes... Mas seus cabelos negros são parecidos com os meus. Tentem imaginar ele com cabelos mais longos... E seu rosto é levemente parecido comigo... A pele não é escura como a minha por causa da mãe dele, quando era freira. — Todos se espantam, pois é verdade. Marvin é um tanto parecido com o Prisioneiro. — Ele é meu filho. Meu único filho... Aquele que esperei por anos para encontrar novamente.
O garoto está mais confuso do que nunca. Não consegue acreditar que o Monge esteve mentindo, que era o vilão, e que o Prisioneiro é bom e seu próprio pai. Então um gemido agudo ecoou abafadamente pelo abrigo. Parecia uma mulher.
— Eu sabia que tinha algo errado aqui... — Disse o Prisioneiro olhando para o alto, em direção a um dos quartos do terceiro andar. — Uma mulher grávida... dando um parto arriscado.
— Não fale da minha mulher! — Esbraveja Augusto. — Você não vai feri-la!
— Uma criança prematura, não? Ele tem apenas sete meses e já está querendo nascer... — Diz o prisioneiro tranqüilamente. — E durante esses sete meses ela esteve com febre todas as noites...
— Cale a boca! — Diz Augusto.
— Por acaso está querendo dizer algo? — Diz Chico, ao Prisioneiro.
— Se não me engano, essa mulher que grita nasceu prematuramente, como está acontecendo com a criança agora... E ela está com uma doença rara... que pode causar a morte dela e da criança, logo, logo. A menos que eu vá até lá e a ajude.
— Você não vai chegar perto dela! ENTENDEU?! E não vai sair daí! — Augusto fica furioso.
— Ora, homem! Se eu quisesse fazer mal a alguém aqui, vocês não teriam me prendido nessa gaiola! E fui eu quem salvou a sua mulher e sua sogra naquele dia! Eu sou a única salvação dela, mas eu tenho que ir até lá! — Augusto fica confuso, mais que as outras pessoas. Então Chico toma a palavra:
— Certo... Bill, Cezar... Tirem ele dali. — Os dois olham incrédulos para Chico. — Andem! Estou mandando! — Bill e Cezar hesitam por um instante e então levantam a jaula. O Prisioneiro está livre.
Todos recuam, com muito medo, e ele caminha até a escada mais próxima que o leva para o segundo andar, seguido por todas as pessoas. Marvin faz o possível para ir à frente de todos, curioso, e Samara pôs a mão no ombro dele e seguiu adiante, com Marvin do lado.
O Prisioneiro chega até o terceiro andar e finalmente abre a porta onde está a mulher grávida. Essa está deitada na cama, de camisola, com as pernas abertas e com mais duas mulheres ajudando-a a dar o parto. Antes de entrarem em pânico, Augusto e Chico entram.
— Está tudo bem! — Diz Augusto. — Ele vai ajudar.
— Ai, meu Deus! — Diz a mulher grávida.
— Calma... Depois explicaremos. — Diz Chico. — Prisioneiro... Faça o que deve ser feito.
Poucas pessoas cabem ali dentro, então as que não podem entrar ficam na porta, tentando assistir à cena. Um deles é Marvin, em frente à Samara e do lado de Simone.
O Prisioneiro caminha até ficar diante da mulher. Ele se ajoelha diante dela, olhando para a vagina, e então olha nos olhos dela.
— Seu nome é Thais, não? — Ela balança a cabeça afirmativamente. — Sua mãe, Lana, me disse quando a ajudei a ter você... — Thais não responde, apenas fica respirando ofegantemente enquanto o suor escorre pelo seu rosto. — Está com febre? — Mais uma vez ela afirma com a cabeça. — Dói?
— Agora não... Ele parou. — Respondeu Thais.
— Muito bem, a qualquer momento ele tentará sair novamente... O que você gostaria de ter?
— M-menina... — Responde ela, tentando sorrir.
— Teve sorte... É mesmo uma menina... Posso sentir daqui... Já escolheu um nome? — Thais olha para Augusto, que se adiantou a pegar na mão dela. Então ela responde, sorrindo para o Prisioneiro:
— A-Augusta...
— Muito bem... Então Thais... Quero que você respire fundo, será mais fácil para ela sair... Quando sentir a dor, empurre com toda a força. E pense apenas em uma linda menina, loira como você, brincando pelas terras de Morgana... Pense apenas nisso e agradeça a Deus mesmo sem ela ter nascido... “Pague adiantado” a Ele. Está bem?
— S-sim... — Thais começa a respirar profundamente. O Prisioneiro olha para a mulher à sua direita e diz:
— Pegue um terço e comece a rezar... Só conseguirei com a graça de Deus... Só Ele pode me ajudar. Todos que quiserem, rezem também... Thais, vamos aguardar... — De repente ela sente a criança querendo sair do ventre. Ela grita de dor e empurra, como o homem disse. E logo ele põe as mãos nas virilhas de Thais, fecha os olhos e começa a falar palavras que ninguém entende.
O Monge está morto. Todos os moradores de Morgana ficam totalmente apavorados, pois viam o Monge como sua única salvação. E se apavoram ainda mais quando o Prisioneiro, a ameaça que eles temem, se aproxima da entrada do abrigo, andando, com os olhos aparentemente furiosos.
Todos os moradores ficam nas passarelas, alguns entram nos quartos e ficam espiando pela porta entreaberta, e outros ficam indecisos entre ficar para ver o que o Prisioneiro fará ou esconder-se também. Foi quando ele chega bem ao meio do abrigo e olha para todas as pessoas que ele diz:
— Eu quero o garoto. Apenas o garoto. — E então ele vira-se para o quarto onde o vira entrar com Simone e Samara, no exato momento em que essa última sai de lá, com as novas vestes que acabara de vestir, empunhando os sais prateados, jogando ao seu inimigo um olhar ameaçador.
— Você não vai levar ninguém! — Diz Samara, disposta a enfrentar o Prisioneiro, mesmo achando que pode não conseguir. Quanto ao Chico, que estava na passarela mais alta, em frente ao seu quarto, suspira decepcionado ao ver sua filha.
— Você era do Círculo, não? — Diz o Prisioneiro, ao ver as armas da mulher e o pingente em forma de círculo pendurado no pescoço dela. — A tal “sociedade das armas mágicas”... — Prisioneiro aproxima lentamente, passo a passo, de Samara. Esta fica mais furiosa e diz:
— São armas místicas...! E hoje, você vai pagar caro pelo que fez a muito tempo...
— A vingança que pretende cometer, minha jovem, é um equívoco. Basta não cometer o que está querendo, que ficará viva para saber. — O Prisioneiro pára há dois metros dela, serra os punhos e olha friamente nos olhos da mulher, com os olhos cintilantes.
— Não há nada para você esclarecer, Prisioneiro... Você irá morrer!
— Você sabe que sou imortal para os mortais. Apenas sou mortal para mim mesmo.
— É o que veremos! — Samara avança velozmente, como se voasse ao correr, e logo começa a lançar golpes com os sais. Seu oponente é ainda mais rápido e se esquiva de todos os golpes, desviando-se com o corpo, ou acertando nos braços delas com as mãos, para errar o golpe.
Após alguns segundos de luta Samara, sem parar os movimentos de luta com as mãos, solta no ar os sais para lutar usando socos e chutes, dos quais o Prisioneiro se esquivava de todos. E quanto às adagas, elas incrivelmente não caíram: continuaram a movimentarem-se no ar, sozinhas, como se houvesse ali um fantasma empunhando-as. Ou seja: é como se haviam duas pessoas lutando contra o Prisioneiro, mas mesmo assim, ele permanece em pé e a única coisa que lhe acontece é os pequenos cortes em seu hábito.
Após alguns minutos da luta que parece que vai levar a nada, Samara dá uma cambalhota de costas no ar, parando há dois metros do Prisioneiro, e os sais voltaram às suas mãos. Ela ficou encarando-o, um tanto exausta, pronta caso seu oponente a ataque. Mas algo lhe diz que ele não pretende fazer nada, pois além de ele estar parado, com as mãos às costas, ele nem se quer feriu Samara durante a luta. Apenas livrou-se dos golpes. “Será que ele não tem intenção de me ferir?” Pensa Samara. “Mas... por quê?”
Neste exato momento, dois homens pulam da passarela do segundo andar, próxima ao Prisioneiro, e eles carregam uma grande jaula de madeira, com uma abertura em baixo, e assim a fazem cair em volta dele, deixando-o preso. Os homens eram Bill e Cezar, que juntamente com Augusto, foram encarregados de procurar por madeira e construir uma jaula.
O Prisioneiro, quando se vê aprisionado, um pouco de espanto lhe toma, mas não muito, então ele agarra nas grades com as mãos, encarando Samara. Esta fica confusa e não entende como foi fácil prendê-lo. Todos parecem ter percebido isso, no certo o Prisioneiro teria fugido, mas não, ele ficou parado, como se deixasse que o aprisionassem. Então todos desceram e ficaram em volta da jaula.
— Certamente que eu não posso destruir essa jaula de madeira... — Disse o Prisioneiro. — Devido à maldição que tenho, não? A maldição que ganhei porque os bisavôs de vocês me prenderam em uma maldita torre na verdadeira Morgana. — Ele encara todos, caminhando em círculo pela jaula, não muito furioso e não muito com medo. — Pois saibam que estão cometendo um terrível erro.
— Erro? — Diz Chico, aproximando-se e encarando o Prisioneiro. — Erro?! Você matou quase todos os moradores de Morgana quando fugiu! Matou a freira que o libertou! Matou a Provedora de Frutos! E o Monge, que era a paz encarnada em uma pessoa!
— Hah! O Monge?! Paz?! Abra os olhos, Chico! — Diz o homem da jaula, com raiva e sarcasmo. — O Monge é o ser mais hipócrita e mentiroso da Terra! E eu não matei a Provedora de Frutos e muito menos aquela freira... e bem menos os tais moradores de Morgana!
— Então quem foi!? — Esbraveja Chico.
— O MONGE!!!
— Ora essa! Como pode dizer isso, seu--?
— Eu digo, pois é a maior das verdades. Toda a profecia idiota que vocês ouviram não passa de calúnia... Calúnia que o Monge inventou! — Naquele momento, Marvin e Simone saíram do esconderijo e se depararam com a cena. Então o Prisioneiro aponta para o garoto e diz: — Eu não quero matar ele, o Marvin! Eu nunca faria mal a uma criança! — Todos olham para as crianças e se voltam para o homem aprisionado.
— Então, o que quer com ele? — Pergunta Chico, com tom de ameaça.
— Ele não é apenas Marvin, o garoto gago. Não é Marvin, o garotinho perdido... Ele é Marvin, o Filho do Prisioneiro! — Foi um abalo total. Todos ficaram completamente espantados, mas não acreditaram. Marvin não entendeu, ficou totalmente confuso. — E a mãe dele... é a Provedora de Frutos! — Piorou a situação. Ficaram com muita raiva, sentiram vontade de avançar no homem.
— Que mentira é essa?! — Diz Chico. — Como ousa dizer tamanha calúnia?!
— Calúnia é o que vocês acham que é! O que a Profecia diz, hein?! Que o Prisioneiro destruirá a cidadela chamada Morgana após matar o garoto que não sabe falar? Ser gago não é não saber falar... E essa coisa que você chama de Morgana não chega perto de ser uma cidadela! Ou seja, tudo é nada! NADA!
Ninguém sabe o que fazer, estão totalmente confusos, pois as últimas palavras do Prisioneiro são verdadeiras. Marvin não entendia, e Simone menos ainda. “Ele não pode ser meu pai!”, pensa o garoto. E ao ver os olhos furiosos de Samara, o homem enjaulado torna a dizer:
— E você, supostamente, ainda acha que matei os seus companheiros do Círculo, não?
— Eu vi você--! — Samara tenta iniciar uma frase.
— Não, não viu! Você não sabe o que viu! As armas místicas do Círculo ficam movimentando-se como se estivessem vivas se o dono permanecer ativo e disposto a lutar... E os seus amigos ficavam cada vez mais exaustos e estavam perdendo as esperanças. Como eu estava totalmente forte, as armas se rebelaram contra os donos e os mataram. Eu tentei ajudá-los, eles poderiam confirmar se estivessem vivos, mas as armas ficaram totalmente descontroladas!
— MENTIRA!
— Você tinha nem quinze anos, não pode dizer se é ou não uma mentira! — O Prisioneiro a encara, vendo que ela fica confusa, e então encara cada pessoa presente. — Vocês me julgam malévolo, só porque sou diferente... Que culpa tenho eu? Que culpa tenho se meu pai, que ninguém sabe quem é, poderia ser algum monstro? Que culpa teve minha mãe, mortal morta pelos bisavôs de vocês, de ter um filho que nunca desejou ter? — O homem passou a expressar um pouco de inocência e tristeza. E para todos, ele parecia ser sincero. — Vocês enforcaram a minha mãe na minha frente. Eu tinha nem dois anos de idade, mas lembro muito bem... Ela sofria, pedia piedade... E ninguém se importou. Mataram-na, como se tivesse culpa. Lutou para que ninguém me visse, mas foi em vão. — Uma lágrima escorre no rosto dele.
“E então, o final da primeira parte da minha vida: aprisionaram-me ao verem que eu não poderia ser morto. Na torre mais alta de Morgana. Não sabiam o motivo de ela estar lá, e então me prenderam, para que ela não tivesse sido construída em vão. E foi aí que me tornei o Prisioneiro, passando anos e anos entre paredes de pedra e grades de ferro... Vivendo da comida que o Monge me levava... Comida estragada... — Ele abaixa a cabeça, forçando a memória. — Eu nem lembro o nome que minha mãe me dera. Essa é a única coisa que eu não lembro. Só ouvia as pessoas de Morgana falarem sobre “o Prisioneiro”. Achei que era eu, pois o Monge me chamava assim”.
Enfim, silêncio. Todos ficaram encarando o Prisioneiro, incrédulos e confusos. Ele parecia muito bem falar a verdade. Quando Marvin e Simone resolveram juntar-se à multidão, o homem voltou a falar:
— Certo dia, ao invés do desprezível Monge ter me levado comida, não sei por que, mas foi uma freira. Uma paixão surgiu ali. Meses depois ela me libertou... Todos ficaram abalados e começaram a fugir... Com medo. O Monge, com fúria e inveja, matou a freira, e várias pessoas, fazendo a culpa cair em mim. Eu nada pude fazer, pois os guerreiros do Círculo me atacaram.
“A minha raiva fez com que eu começasse a destruir Morgana e então apareceu o Carroceiro... Ele queria me levar, para me prender outra vez em uma cela no meio de uma floresta. Eu enfrentei ele, mas aquele velho era mais poderoso... E me levou.”
“E vocês, que eram crianças, juntamente com seus pais, saíram de lá, ficaram perdidos... Mas deu tempo para o Monge contar a vocês sobre a Profecia nojenta que ele inventou.”
— Não consigo acreditar... — Diz Chico, confuso.
— Eu sei, é complicado... Mas o que posso fazer? — Ele olha para Marvin, logo atrás das pessoas, tentando dar uma “espiada”. — Venha cá, Marvin...
— E-eu...? — Diz o garoto.
— Venha, garoto, pode vir... Todos sabem que eu não poderia ferir você estando preso aqui. — As pessoas abrem espaço, já que é verdade que o Prisioneiro não irá ferir ninguém. Quando Marvin chega perto o Prisioneiro continuou: — Olhem para ele... Tem olhos verdes, igual os da sua mãe... Lindos e brilhantes... Mas seus cabelos negros são parecidos com os meus. Tentem imaginar ele com cabelos mais longos... E seu rosto é levemente parecido comigo... A pele não é escura como a minha por causa da mãe dele, quando era freira. — Todos se espantam, pois é verdade. Marvin é um tanto parecido com o Prisioneiro. — Ele é meu filho. Meu único filho... Aquele que esperei por anos para encontrar novamente.
O garoto está mais confuso do que nunca. Não consegue acreditar que o Monge esteve mentindo, que era o vilão, e que o Prisioneiro é bom e seu próprio pai. Então um gemido agudo ecoou abafadamente pelo abrigo. Parecia uma mulher.
— Eu sabia que tinha algo errado aqui... — Disse o Prisioneiro olhando para o alto, em direção a um dos quartos do terceiro andar. — Uma mulher grávida... dando um parto arriscado.
— Não fale da minha mulher! — Esbraveja Augusto. — Você não vai feri-la!
— Uma criança prematura, não? Ele tem apenas sete meses e já está querendo nascer... — Diz o prisioneiro tranqüilamente. — E durante esses sete meses ela esteve com febre todas as noites...
— Cale a boca! — Diz Augusto.
— Por acaso está querendo dizer algo? — Diz Chico, ao Prisioneiro.
— Se não me engano, essa mulher que grita nasceu prematuramente, como está acontecendo com a criança agora... E ela está com uma doença rara... que pode causar a morte dela e da criança, logo, logo. A menos que eu vá até lá e a ajude.
— Você não vai chegar perto dela! ENTENDEU?! E não vai sair daí! — Augusto fica furioso.
— Ora, homem! Se eu quisesse fazer mal a alguém aqui, vocês não teriam me prendido nessa gaiola! E fui eu quem salvou a sua mulher e sua sogra naquele dia! Eu sou a única salvação dela, mas eu tenho que ir até lá! — Augusto fica confuso, mais que as outras pessoas. Então Chico toma a palavra:
— Certo... Bill, Cezar... Tirem ele dali. — Os dois olham incrédulos para Chico. — Andem! Estou mandando! — Bill e Cezar hesitam por um instante e então levantam a jaula. O Prisioneiro está livre.
Todos recuam, com muito medo, e ele caminha até a escada mais próxima que o leva para o segundo andar, seguido por todas as pessoas. Marvin faz o possível para ir à frente de todos, curioso, e Samara pôs a mão no ombro dele e seguiu adiante, com Marvin do lado.
O Prisioneiro chega até o terceiro andar e finalmente abre a porta onde está a mulher grávida. Essa está deitada na cama, de camisola, com as pernas abertas e com mais duas mulheres ajudando-a a dar o parto. Antes de entrarem em pânico, Augusto e Chico entram.
— Está tudo bem! — Diz Augusto. — Ele vai ajudar.
— Ai, meu Deus! — Diz a mulher grávida.
— Calma... Depois explicaremos. — Diz Chico. — Prisioneiro... Faça o que deve ser feito.
Poucas pessoas cabem ali dentro, então as que não podem entrar ficam na porta, tentando assistir à cena. Um deles é Marvin, em frente à Samara e do lado de Simone.
O Prisioneiro caminha até ficar diante da mulher. Ele se ajoelha diante dela, olhando para a vagina, e então olha nos olhos dela.
— Seu nome é Thais, não? — Ela balança a cabeça afirmativamente. — Sua mãe, Lana, me disse quando a ajudei a ter você... — Thais não responde, apenas fica respirando ofegantemente enquanto o suor escorre pelo seu rosto. — Está com febre? — Mais uma vez ela afirma com a cabeça. — Dói?
— Agora não... Ele parou. — Respondeu Thais.
— Muito bem, a qualquer momento ele tentará sair novamente... O que você gostaria de ter?
— M-menina... — Responde ela, tentando sorrir.
— Teve sorte... É mesmo uma menina... Posso sentir daqui... Já escolheu um nome? — Thais olha para Augusto, que se adiantou a pegar na mão dela. Então ela responde, sorrindo para o Prisioneiro:
— A-Augusta...
— Muito bem... Então Thais... Quero que você respire fundo, será mais fácil para ela sair... Quando sentir a dor, empurre com toda a força. E pense apenas em uma linda menina, loira como você, brincando pelas terras de Morgana... Pense apenas nisso e agradeça a Deus mesmo sem ela ter nascido... “Pague adiantado” a Ele. Está bem?
— S-sim... — Thais começa a respirar profundamente. O Prisioneiro olha para a mulher à sua direita e diz:
— Pegue um terço e comece a rezar... Só conseguirei com a graça de Deus... Só Ele pode me ajudar. Todos que quiserem, rezem também... Thais, vamos aguardar... — De repente ela sente a criança querendo sair do ventre. Ela grita de dor e empurra, como o homem disse. E logo ele põe as mãos nas virilhas de Thais, fecha os olhos e começa a falar palavras que ninguém entende.
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Re: O Monge, O Prisioneiro e A Provedora de Frutos [Completo]
Todos ficam confusos e a mulher cujo Prisioneiro disse para pegar o terço, começa a rezar com um que tirara do bolso do vestido, e outros presentes começam a rezam também, como Augusto e Chico. Thais sente dor cada vez mais, pedindo ajuda a Deus.
Em alguns minutos o Prisioneiro abre os olhos, com um pouco de pavor.
— Não vou conseguir... — Murmurou ele, deixando as pessoas com medo. Então ele olha para Marvin. — Filho, preciso de sua ajuda!
— O-o q-que...? — Marvin fica confuso, e o Prisioneiro avança até ele, agarrando-o pelos braços.
— Corra! Vá até onde tenha chão de terra e faça um círculo onde os animais disserem! — Em seguida ele faz algo que espantou a todos: jogou Marvin pela janela.
Ele caiu em pé no chão, sem entender, e logo, caindo em pé também, apareceu o Prisioneiro com Thais nos braços, gritando cada vez mais, por causa da dor. Todos vão até a janela, pensando que o homem está a ponto de fazer algo indesejável.
— Rápido, Marvin! Corra! — O Prisioneiro corre velozmente, como uma pantera, pelo gramado, e Marvin acompanha-o na mesma velocidade, sem acreditar no que está fazendo. Em meio ao caminho, passando pelas ovelhas e vacas, o homem diz mais das palavras estranhas, e os animais começam a correr também, seguindo-o.
O homem, com a mulher nos braços, pára onde a grama acaba, encontrando terra, e os animais formam um círculo de dois metros de raio, no chão de terra
— Faça um círculo no chão, Marvin! Rápido, não temos muito tempo! — Diz o Prisioneiro entrando no círculo formado pelos animais. O garoto, um tanto confuso, entra no círculo e com o pé ele inicia uma linha na frente dos animais, formando um círculo como seu pai pedira. Em seguida, o Prisioneiro pôs a mulher deitada no centro daquele círculo, com as pernas abertas e as mãos nas virilhas dela. — Empurre, Thais! Empurre!
Ela obedece e o Prisioneiro volta com os dizeres estranhos, com os olhos fechados, e os animais correm como loucos em volta daquele círculo, levantando poeira. Marvin, assim como Thais, fecham os olhos, ambos sem entender. Mas Thais não liga e continua a empurrar sua filha, gritando de dor.
Os outros moradores chegam quando a poeira abaixa, mostrando os animais que se retiram, voltando para onde estavam, e o Prisioneiro segurando um bebê chorando, diante de Thais, que está aliviada e deitada no chão. A mulher sorri, tomada pela alegria, assim como todos os outros.
— É uma linda menina. — Diz Prisioneiro, sorrindo também. — O mais novo fruto de Morgana. — Ele entrega a menina para Thais, que se senta no chão, sem sentir dor alguma. Logo chega Augusto e senta-se ao lado de sua mulher, contemplando sua filha.
As pessoas se aproximam e o Prisioneiro olha para eles. Chico diz:
— Que a graça de Deus se derrame sobre você...
— Amém. — Diz o homem de olhos vermelhos. — Agora, creio eu, que finalmente vocês acreditam em mim.
— Pedimos desculpas. — Diz Chico, baixando a cabeça.
— Vocês não têm culpa, Chico. Agora já não tenho muito tempo... Tenho que fazer o que preciso com Marvin... O Carroceiro vem vindo.
— O-o q-que quer d-diz-zer? — Pergunta Marvin, chegando ao lado do seu pai.
— Filho... — O Prisioneiro ajoelha-se, com as mãos nos ombros de Marvin. — Eu devo partir... e dar lugar a você.
— P-partir? — O C-Car-rroceiro i-irá l-levar v-voc-cê?
— Não... Você, filho. Ele deverá levar você.
— M-mas--?
— Não o enfrente, será melhor pra você, está bem?
— P-pai... N-não e-est-tou entend-dendo...!
— Irá entender. — O Prisioneiro olha para Chico e diz-lhe: — Me enterre no centro de Morgana, Chico. Por favor.
— O que--? — Chico não compreende, assim como todos ali.
— Apenas faça...
— P-pai...?
— Silêncio, filho... — Em seguida, o Prisioneiro beija a testa de Marvin. O garoto sente uma estranha sensação, sente seu sangue percorrendo velozmente por suas veias, e os olhos do Prisioneiro brilham como fogo.
Em segundos, o homem cai desfalecido no chão, diante de Marvin, com os olhos fechados.
— P-pai?! — Marvin olha para o corpo do homem, que não respira. — Ad-deus, p-pai... Q-que D-Deus o t-tenha...
— Marvin? — Chico o chama, aproximando-se do garoto.
— O C-Car-rroceiro e-est-tá v-vindo... — Todos se espantam quando Marvin levanta a cabeça. Seus olhos estão vermelhos, como os do Prisioneiro. — T-tenho q-que ir.
Ouve-se o som de uma carruagem se aproximando. Ela está saindo de trás do abrigo, com dois cavalos negros puxando-a. Quando finalmente chega perto, pode-se ver os olhos vermelhos dos cavalos e o homem que conduz o veículo: um velho magro, com as veias dos olhos aparecendo, como se fossem explodir, e com barba por fazer.
Ele pára diante de Marvin e o corpo do Prisioneiro. Todos podem ver a expressão rabugenta e malévola do velho que supostamente é o Carroceiro e a carruagem que é coberta por uma lona preta e é fechada com grades de ferro na frente e atrás.
Marvin põe-se de pé, virando-se para o Carroceiro que desce ao chão. Os dois se encaram com firmeza, e então o velho olha para o corpo do Prisioneiro e diz, com voz grossa e arrastada:
— Prisioneiro?
— M-mor-rreu. — Responde Marvin. — É a m-mim q-que v-você d-dev-ve l-levar.
— E você? Quem é?
— M-Marv-vin. O F-Filho d-do Pr-Prision-neiro.
— Então entre. — Com essas palavras, as grades de trás da carruagem abrem-se, e Marvin dirige-se até lá e entra. Logo as grades fecham-se e o Carroceiro olha para as pessoas, que assistem a cena sem saber o que fazer. E então sobe no seu posto na carruagem. Simone corre para falar com Marvin.
— Marvin! Não me deixe! — Diz a garota, sem temer os olhos do amigo, chorando.
— N-não há o q-que f-faz-zer, S-Sim-mone. E-eu d-devo ir. — Marvin se segura nas grades, olhando para a amiga.
— Mas por quê?!
— P-porq-que é as-ssim q-que d-deve ser... Adeus, Simone.
— Não, Marvin! — O som do chicote do Carroceiro faz com que os cavalos andem, e assim Marvin deixa Simone. Ela chora com a perda do amigo, sem entender o porquê disso ser desse jeito.
Samara aproxima-se dela, abraçando-a e olhando para Marvin, também chorando. Elas não são as únicas que sofrem, pois Marvin foi um grande garoto para todos ali. Mas agora ele se foi, será aprisionado em algum lugar que não se sabe onde fica.
Fim da parte 5
Epílogo
Chico, Tony e Augusto cavam um buraco no meio de Morgana, com uma pá a cada um. O buraco tem o tamanho suficiente para uma pessoa, certamente irão enterrar o Prisioneiro, como o mesmo pedira antes de morrer. Todos os moradores ficam assistindo, tristes, e algumas mulheres, como Samara, Thais e, principalmente, Simone.
Finalmente eles terminam e Chico e Tony pegam o corpo do Prisioneiro que estava próximo. Chico o pegou pelos ombros e Augusto pelas pernas, e o colocam cuidadosamente naquele buraco. “Esperem um pouco”, disse Tony, aproximando-se com seu cão nos braços, morto.
“Seu cão...?” diz Chico. “Morreu” diz Tony. “Estava velho de mais e o soco de Marvin o fez falecer de vez. Será uma grande honra enterrá-lo com o homem mais bondoso da Terra.” E assim ele põe o cão um tanto espremido do lado do corpo do Prisioneiro.
Em seguida, Chico, Augusto e Tony voltam a pôr a terra no lugar, enterrando os dois corpos. Após o enterro ser completado Bill caminha até ali com uma cruz de ferro de um metro de comprimento, e a pôs deitada sobre a cova, marcando o lugar onde o Prisioneiro fora enterrado.
“E agora?” Pergunta Tony. “O que vai ser de nós?” Chico olha pensativo para a cruz e diz “Vamos transformar esse abrigo em uma verdadeira cidadela. Vamos fazer Morgana crescer.”
Fim
Em alguns minutos o Prisioneiro abre os olhos, com um pouco de pavor.
— Não vou conseguir... — Murmurou ele, deixando as pessoas com medo. Então ele olha para Marvin. — Filho, preciso de sua ajuda!
— O-o q-que...? — Marvin fica confuso, e o Prisioneiro avança até ele, agarrando-o pelos braços.
— Corra! Vá até onde tenha chão de terra e faça um círculo onde os animais disserem! — Em seguida ele faz algo que espantou a todos: jogou Marvin pela janela.
Ele caiu em pé no chão, sem entender, e logo, caindo em pé também, apareceu o Prisioneiro com Thais nos braços, gritando cada vez mais, por causa da dor. Todos vão até a janela, pensando que o homem está a ponto de fazer algo indesejável.
— Rápido, Marvin! Corra! — O Prisioneiro corre velozmente, como uma pantera, pelo gramado, e Marvin acompanha-o na mesma velocidade, sem acreditar no que está fazendo. Em meio ao caminho, passando pelas ovelhas e vacas, o homem diz mais das palavras estranhas, e os animais começam a correr também, seguindo-o.
O homem, com a mulher nos braços, pára onde a grama acaba, encontrando terra, e os animais formam um círculo de dois metros de raio, no chão de terra
— Faça um círculo no chão, Marvin! Rápido, não temos muito tempo! — Diz o Prisioneiro entrando no círculo formado pelos animais. O garoto, um tanto confuso, entra no círculo e com o pé ele inicia uma linha na frente dos animais, formando um círculo como seu pai pedira. Em seguida, o Prisioneiro pôs a mulher deitada no centro daquele círculo, com as pernas abertas e as mãos nas virilhas dela. — Empurre, Thais! Empurre!
Ela obedece e o Prisioneiro volta com os dizeres estranhos, com os olhos fechados, e os animais correm como loucos em volta daquele círculo, levantando poeira. Marvin, assim como Thais, fecham os olhos, ambos sem entender. Mas Thais não liga e continua a empurrar sua filha, gritando de dor.
Os outros moradores chegam quando a poeira abaixa, mostrando os animais que se retiram, voltando para onde estavam, e o Prisioneiro segurando um bebê chorando, diante de Thais, que está aliviada e deitada no chão. A mulher sorri, tomada pela alegria, assim como todos os outros.
— É uma linda menina. — Diz Prisioneiro, sorrindo também. — O mais novo fruto de Morgana. — Ele entrega a menina para Thais, que se senta no chão, sem sentir dor alguma. Logo chega Augusto e senta-se ao lado de sua mulher, contemplando sua filha.
As pessoas se aproximam e o Prisioneiro olha para eles. Chico diz:
— Que a graça de Deus se derrame sobre você...
— Amém. — Diz o homem de olhos vermelhos. — Agora, creio eu, que finalmente vocês acreditam em mim.
— Pedimos desculpas. — Diz Chico, baixando a cabeça.
— Vocês não têm culpa, Chico. Agora já não tenho muito tempo... Tenho que fazer o que preciso com Marvin... O Carroceiro vem vindo.
— O-o q-que quer d-diz-zer? — Pergunta Marvin, chegando ao lado do seu pai.
— Filho... — O Prisioneiro ajoelha-se, com as mãos nos ombros de Marvin. — Eu devo partir... e dar lugar a você.
— P-partir? — O C-Car-rroceiro i-irá l-levar v-voc-cê?
— Não... Você, filho. Ele deverá levar você.
— M-mas--?
— Não o enfrente, será melhor pra você, está bem?
— P-pai... N-não e-est-tou entend-dendo...!
— Irá entender. — O Prisioneiro olha para Chico e diz-lhe: — Me enterre no centro de Morgana, Chico. Por favor.
— O que--? — Chico não compreende, assim como todos ali.
— Apenas faça...
— P-pai...?
— Silêncio, filho... — Em seguida, o Prisioneiro beija a testa de Marvin. O garoto sente uma estranha sensação, sente seu sangue percorrendo velozmente por suas veias, e os olhos do Prisioneiro brilham como fogo.
Em segundos, o homem cai desfalecido no chão, diante de Marvin, com os olhos fechados.
— P-pai?! — Marvin olha para o corpo do homem, que não respira. — Ad-deus, p-pai... Q-que D-Deus o t-tenha...
— Marvin? — Chico o chama, aproximando-se do garoto.
— O C-Car-rroceiro e-est-tá v-vindo... — Todos se espantam quando Marvin levanta a cabeça. Seus olhos estão vermelhos, como os do Prisioneiro. — T-tenho q-que ir.
Ouve-se o som de uma carruagem se aproximando. Ela está saindo de trás do abrigo, com dois cavalos negros puxando-a. Quando finalmente chega perto, pode-se ver os olhos vermelhos dos cavalos e o homem que conduz o veículo: um velho magro, com as veias dos olhos aparecendo, como se fossem explodir, e com barba por fazer.
Ele pára diante de Marvin e o corpo do Prisioneiro. Todos podem ver a expressão rabugenta e malévola do velho que supostamente é o Carroceiro e a carruagem que é coberta por uma lona preta e é fechada com grades de ferro na frente e atrás.
Marvin põe-se de pé, virando-se para o Carroceiro que desce ao chão. Os dois se encaram com firmeza, e então o velho olha para o corpo do Prisioneiro e diz, com voz grossa e arrastada:
— Prisioneiro?
— M-mor-rreu. — Responde Marvin. — É a m-mim q-que v-você d-dev-ve l-levar.
— E você? Quem é?
— M-Marv-vin. O F-Filho d-do Pr-Prision-neiro.
— Então entre. — Com essas palavras, as grades de trás da carruagem abrem-se, e Marvin dirige-se até lá e entra. Logo as grades fecham-se e o Carroceiro olha para as pessoas, que assistem a cena sem saber o que fazer. E então sobe no seu posto na carruagem. Simone corre para falar com Marvin.
— Marvin! Não me deixe! — Diz a garota, sem temer os olhos do amigo, chorando.
— N-não há o q-que f-faz-zer, S-Sim-mone. E-eu d-devo ir. — Marvin se segura nas grades, olhando para a amiga.
— Mas por quê?!
— P-porq-que é as-ssim q-que d-deve ser... Adeus, Simone.
— Não, Marvin! — O som do chicote do Carroceiro faz com que os cavalos andem, e assim Marvin deixa Simone. Ela chora com a perda do amigo, sem entender o porquê disso ser desse jeito.
Samara aproxima-se dela, abraçando-a e olhando para Marvin, também chorando. Elas não são as únicas que sofrem, pois Marvin foi um grande garoto para todos ali. Mas agora ele se foi, será aprisionado em algum lugar que não se sabe onde fica.
Fim da parte 5
Epílogo
Chico, Tony e Augusto cavam um buraco no meio de Morgana, com uma pá a cada um. O buraco tem o tamanho suficiente para uma pessoa, certamente irão enterrar o Prisioneiro, como o mesmo pedira antes de morrer. Todos os moradores ficam assistindo, tristes, e algumas mulheres, como Samara, Thais e, principalmente, Simone.
Finalmente eles terminam e Chico e Tony pegam o corpo do Prisioneiro que estava próximo. Chico o pegou pelos ombros e Augusto pelas pernas, e o colocam cuidadosamente naquele buraco. “Esperem um pouco”, disse Tony, aproximando-se com seu cão nos braços, morto.
“Seu cão...?” diz Chico. “Morreu” diz Tony. “Estava velho de mais e o soco de Marvin o fez falecer de vez. Será uma grande honra enterrá-lo com o homem mais bondoso da Terra.” E assim ele põe o cão um tanto espremido do lado do corpo do Prisioneiro.
Em seguida, Chico, Augusto e Tony voltam a pôr a terra no lugar, enterrando os dois corpos. Após o enterro ser completado Bill caminha até ali com uma cruz de ferro de um metro de comprimento, e a pôs deitada sobre a cova, marcando o lugar onde o Prisioneiro fora enterrado.
“E agora?” Pergunta Tony. “O que vai ser de nós?” Chico olha pensativo para a cruz e diz “Vamos transformar esse abrigo em uma verdadeira cidadela. Vamos fazer Morgana crescer.”
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