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Réquiem 48 - O Último Pesadelo

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Réquiem 48 - O Último Pesadelo Empty Réquiem 48 - O Último Pesadelo

Mensagem por Vampira Sex Dez 26, 2008 5:35 pm

.



Meus olhos já não conseguem enxergar nada. Apenas o escuro, o vazio. Sensação estranha essa que o preto passa. Impressão de espaço e ao mesmo tempo aperto. Solidão, ou talvez pessoas tão próximas a nós que não conseguimos discernir nada.

Nossa! Mais uma vez aquela ardência. Pensei que já tinha acabado, ou o corpo acostumado. E meus lábios, inundados com aquele gosto agri-doce. A dificuldade de respirar aumentou...

Tem momentos que penso em como complicamos as coisas e simplificamos também, claro. Fatos e ações que deveriam ser simples se tornam deveras complexas, graças ao medo e ansiedade. Situações adversas que realmente são complicadas, mas o nosso estado de espírito as transforma em solução fácil. Inversão de valores. Como isso é comum. E agora, nesse momento descubro que na verdade tudo não passa da mesma coisa.

Morrer sempre pareceu complicado, algo que temia mais que tudo. Morrer sem saber o que era um amor de verdade, conhecer algum lugar que tenho curiosidade, não pedir desculpas aquela pessoa que magoei. Mas no fim, é tão simples.
Não, sei que não vou saber passar essa sensação para você. Até porque, ao pensar nisso você ia complicar a situação. Afinal, ia pensar na morte. E é algo que não se deve fazer. Mas te digo apenas uma coisa: Morrer é simples! Mais do que parece.

Os sentidos vão falhando aos poucos, a força vai se esvaindo... daqui a alguns minutos creio, não vou conseguir nem mais pensar. Lembranças, coisas que afirmei que jamais esqueceria, já me fogem a memória. Até os fatos que me levaram a esse momento...

... já não estão mais tão claros!





Réquiem 48 - O Último Pesadelo
Parte 1







Em alguma parte da Colômbia – 48 horas atrás


Em meio a floresta densa um descampado revela um acampamento militar. Não era fortemente armado nem chegava perto de ser uma grande ameaça, como aqueles que vemos nos filmes ou televisão. Mas fazia parte da milícia e era ela que comandava as operações da resistência em todas as vilas próximas. Claro, as operações de Coca também. As cabanas não eram edificações feitas para durar. Afinal se o exercito aparecer eles tinham que desaparecer e remontar o acampamento em um outro lugar, próximo ou não dali.

Um jipe chega levantando uma poeira enorme, dos seus tripulantes três mal sentiam esse efeito. No entanto, eu, que nunca me acostumei a essa vida tossia demais. Um dia ainda arrumaria um problema respiratório grave.

Olho para o lado e me pergunto porque fui parar em um lugar detestável como aquele, a escolha que fiz. Pobreza, miséria, nenhum luxo. Pessoas com aparência suja, o pessoal da plantação de cocaína mal conseguia ficar de pé. Alguns eram escravos, prisioneiros da guerrilha. Outros eram lavradores das vilas próximas mesmo, que faziam o trabalho por um ganho miserável, um bom trago, e proteção de suas famílias. Era um preço justo! Alguns pensavam assim. Na verdade, até eu pensava ás vezes.

Ao saltar do jipe, cheia daquele pó horrível de estrada de terra, tentando me limpar enquanto xingava o dia que larguei o conforto do meu lar para morar ali. Olho para a cabana principal, a mais luxuosa ali, a única feita realmente com tijolos. De dentro saem dois homens. Um magrinho, raquítico quase, apenas fazendo gestos de sim com a cabeça cada vez que o outro falasse algo.
O outro, um homem grande, em todos os sentidos, olhar firme e forte, assim como sua voz. Vestido com roupas comuns de guerrilheiro. Uma calça sarja na cor verde musgo, camiseta amarelada e um casaco. Sim, naquele calor era comum vestir os casacos exatamente para se proteger.

Foi quando ele me viu que me lembrei porque tinha largado toda uma vida em Buenos Aires para ir a este inferno. Um sorriso e não resisti. Que se dane o que os “companheiros” fossem pensar! Eu tava era com saudades! Corri e fui recebida com um belo abraço e um caloroso beijo. Ele me pegou pela cintura e me ergueu no ar. Entramos na cabana e aquela tarde ninguém mais soube uma notícia nossa.

No inicio da noite, os companheiros estavam ao redor de uma fogueira, se esquentando do frio. Comendo aquela horrível comida de acampamento, e contando histórias. Em sua maioria grandes mentiras que serviam apenas para distrair as idéias. No fundo numa outra fogueira estavam os lavradores, apreciando o seu trago.

Sai de dentro da cabana enrolada com uma coberta, caminhei até a encosta do morro e de longe fiquei admirando a lavoura. Era uma visão bonita, diferente do comum, mas era bonita. Sentei de forma que abracei minhas próprias pernas e as enrolei na coberta.


- Não está com fome, querida? – Cátia, uma das únicas mulheres que prestavam naquele inferno sentou ao meu lado com uma caneca de sopa nas mãos – não nos falamos desde que voltou, está tudo bem?

- Sono, apenas isso e não, obrigada. Também não estou com fome. – olhei para ela e sorri era bom ter uma amiga nestas horas, em um lugar que você não confia e está cercada por homens.

- Como foi a viagem a Bolívia? – não sei porque, mas apenas o tom de voz de Cátia me preocupou. Não era a pergunta em si, mas entonação o olhar...

- Alguma coisa aconteceu enquanto estive fora?

Cátia não me respondeu, apenas olhou pra trás em direção a fogueira, meu olhar acompanhou o dela. Comecei a sorrir ao ver um deles brincando, bêbado possivelmente de pular sobre as chamas.
Mas minha amiga não sorria, estava calada, com olhar perdido. Ficamos assim por um tempo...

- Sonhei com algo estranho Bel. – ela engoliu a seco enquanto meu olhar se desviou para ela por instantes, percebi que isso a constrangeu e voltei novamente meu olhar a fogueira – Desde que você saiu as coisas não estão legais. E acredite, vão piorar.

- Porque diz isso? – tirei uma das mãos debaixo da coberta e procurei por no ombro dela. Ao sentir isso ela firmou mais ainda o olhar para os outros. – Como foi o sonho?

Cátia virou o rosto mais uma vez para me encarar, séria, se levantou como de um salto e caminhou de volta ao grupo. Fiquei ali pensando no que tinha acontecido a minha amiga enquanto a via caminhar, mas meu olhar se desviou para um outro lugar.
Uma outra militante, Verônica, estava batendo na porta da cabana principal. Por alguns instantes ela deu leves batidas até que a porta abriu em uma pequena fresta e ela entrou.

Naquela noite não dormi. Passei em claro sentada na beira da fogueira conversando com alguns companheiros.



continua...

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Mensagem por Vampira Sex Dez 26, 2008 5:37 pm

Réquiem 48 - O Último Pesadelo
Parte 2




24 horas atrás...

A noite foi longa, vi a lua dançar no céu e descer, dando lugar aos primeiros raios de sol. Alguns lavradores já chegavam para começar a mexer na plantação de Coca quando vou em direção a cabana principal. Abro a porta devagar e o vejo deitado na cama, enrolado na coberta. Apesar da raiva pela noite anterior, não pude esconder o riso, ele estava uma graça. Atravessei o cômodo em direção a minha mala e me agachei.

Precisava urgentemente de um banho e de roupas limpas.

Meu coração veio a boca quando senti aquela mão pesada sobre o ombro, deslizar rápido para o meu braço e me puxar para cima.

- Por onde andou, Isabelle? – fui posta contra a parede assim como um seqüestrado qualquer – Com quem andou?

- Ca-calma... – tentava parecer o mais calma possível, na verdade até estava calma, mas as vezes é difícil falar quando estão puxando seu cabelo com tanta força e com o rosto pressionando contra a parede – Passei a noite envolta da fogueira, apenas isso... pensei que estava com...

Um barulho estranho diferente das explosões comuns. E muitos gritos...
Agora sim, meu corpo estremeceu dos pés a cabeça. Seu semblante foi de quem apenas escutava analisando o que tinha acontecido. Logo foi constatado. Não tinha passado de teste de armamento novo. Porém, meu corpo ainda tremia.
Ele me virou, segurando firme nos braços. De tal forma, que depois, talvez até agora esteja com um pouco da marca dos dedos dele na pele. E me abraçou, com uma força incrível. Como se fosse evaporar, desaparecer...

- Desculpe... – ele me largou, passou a mão pelo meu queixo e me olhou com os olhos cheios d’agua – não gosto de pensar que posso perder você!

- Não vai, grandão... – abracei ele, claro que não com a mesma intensidade afinal, meu corpo magro não permitiria, mas com carinho e ficamos assim por um tempo.

Apenas o abraço, sabe, aquelas coisas simples que as pessoas tornam complicadas. E infelizmente eu tornei...

- Vi Verônica entrar aqui ontem a noite...

Apenas uma frase e vi ele se afastar, olhar para mim com raiva. Mas ao contrario de mim, ele nada mais disse. Apenas me deixou falando sozinha enquanto saia da cabana.

Era dia de teste de novos miliantes.O som de tiros, granadas, gritos foi constante. Não sai da cabana por toda a manhã e parte da tarde também, creio que já passava das 15 horas quando Cátia entrou no quarto segurando um prato de sopa, possível mente de ervilha. Nessas horas, isso é algo que não importa.

- Você precisa comer, Bel – agora to lembrando e me sentindo como uma menina, minha única amiga naquele inferno estava com uma colher do liquido fumegante tentando por na minha boca que se recusava a tudo – Vamos, isso não vai ajudar em nada!

- Por que ainda estou aqui, Cátia? – pela primeira vez deixei ela me dar uma colher na boca e sim, agora lembro, realmente era sopa de ervilha.

- Porque você o ama... – ela sorriu enquanto mexia a colher no prato tentando preparar outra – e do modo dele... – sorri com uma cara simpática – ele também!

- Você estava estranha ontem a noite...O que houve?

- Apenas estava assustada com um sonho... – mais uma colherada, nesse pedaço tinha sido premiada, tinha até um pequeno pedaço de carne.

- E desde quando você acredita em sonhos? – sorri de forma sarcástica, mais por pura implicância - Sempre briga comigo por isso...

- Desde que você viajou... – ela sorriu para mim e senti que aquilo ainda a incomodava – acho que você deixou suas frescuras comigo!

- Então inverteremos o papel! – me levantei do chão e me sentei na cama cruzei as pernas como uma adolescente – Me conte seu sonho.

- Não acho bom... – ela se levantou devagar, mas depois do olhar que fiz sentou-se ao meu lado colocou o prato de lado sobre a cama e abaixou a cabeça – Vamos ser atacados!

- Isso é comum, Cátia. Já devia ter se acostumado. Está a mais tempo nisso do que eu. E sinceramente? Está demorando para o exercito nos encontrar.

- Não é um ataque comum. A luta vai acabar. To preocupada... – ela levantou os olhos e deu um sorriso amarelo – Deveria ter ficado em casa! Você não devia ter voltado!

- Isso é seu medo... – eu a abracei e nesse instante ele entrou novamente no quarto nos encarando com um olhar horrível, na verdade, meio congelante. Se bem, que a essa altura tudo parece a mesma coisa. – Tudo vai ficar bem... – falei no ouvido dela dando em seguida um beijo na testa.

E assim Cátia se afastou... pela ultima vez.

O dialogo que se seguiu foi um tanto confuso. Na verdade, creio que na altura do campeonato pouco importa o que realmente aconteceu ali. Ou é um daqueles momentos que você pensa que nunca vai esquecer. Porém, talvez tenha sido o primeiro durante todo esse processo que estou passando.

Sei, que em certo momento bateram na porta. Meus olhos estavam cheios de lágrima eu demorei para reconhecer Verônica, talvez tenha sido até eliminação. Afinal era a única mulher loira. Eles cochicharam por uns momentos, me encararam, como se fosse uma intrusa então ela entrou no cômodo.

- Verônica acabou de informar que o exercito está se aproximando e vindo com grande contingente. – ele revirava algumas caixas pegando algumas armas – Vou providenciar para que saia em segurança. De preferência antes que os helicópteros cheguem.

Ela olha para mim com o mesmo desprezo que possuo por ela. E sorri como uma cobra.

- Isabelle, você vai precisar confiar em mim e em Verônica. – ele me estende uma arma – já te falei que nunca houve nada entre eu e ela. É apenas minha melhor agente infiltrada. Já que tem aparência totalmente européia. – sorri para mim enquanto olho assustada para a arma e mal presto atenção no que ele dizia – pegue isso e por favor, não saia da cabana até virmos te buscar, certo?

Um grande estrondo, gritos e choros agora não tão longes.

- Certo Isabelle?

- Certo! – ele me deu um beijo e sorriu para mim.

- Eles chegaram, vamos ter que correr! – a mão que me segurava foi deslizando pelo meu corpo – Eu te amo, Bel.

Observei ele sair com Verônica e me deixar sozinha com a arma nas mãos, encolhida no canto do quarto e sussurrando.

- Eu também te amo...



Continua...

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Mensagem por Vampira Sex Dez 26, 2008 5:37 pm

Réquiem 48 - O Último Pesadelo
Parte 3 - Final


Algumas horas atrás...



Sabe quando se é uma garotinha? Quando se está assustada e com medo? Nós sempre nos encolhemos no canto do quarto, aquele, o mais escuro o mais abandonado, sentamos no chão, encolhidos. Pernas dobradas, bem junto ao peito, e braços enlaçando o máximo que pode do corpo.

Pois é, eu estava exatamente assim, passei um bom tempo nessa posição. Não conseguia derramar uma lágrima sequer. Mas meu corpo tremia, principalmente nos momentos em que esticava a minha mão e encarava a arma que estava segurando.

Objeto frio demais, sua aparência, textura, tudo me causava arrepios e eu tinha praticamente certeza de que aquilo não me livraria de nada. Mas então, porque diabos eu não largava a maldita arma? Acho que nunca vou descobrir a resposta.

Mas o momento no qual tive certeza de que não a usaria, pelo menos não displicentemente, foi quando a porta se abriu de leve. Sem nenhum aviso eu só vi uma mão. E um olhar tão assustado quanto o meu, ao notar que apontava a arma de forma fixa e estática para ela.

Era Cátia, que estava desesperada e com o rosto totalmente sujo de terra e suor.

Mas mesmo ao ver seu rosto e suspirar aliviada ao ponto de baixar meus olhos. Meus braços permaneciam na posição.

- Bel, abaixa isso por favor! – Catia disse quase que em suplica

Minha única amiga mantinha um rosto apavorado, claramente viu cenas lá fora que nunca iria querer imaginar. Mas não adianta. Não importa como ela esteja agora. E ainda a sinto bem perto de mim. Isso não lhe faz mais a diferença.

- E-eu não consigo... – meus braços finalmente penderam perante o esforço e me larguei. Braços, pernas, deveria parecer uma boneca de pano jogada. - ... eu to com medo, Catia!

- Eu também estou... – ela se aproximou do cantinho e sentou ao meu lado me abraçando - ... tá tudo acontecendo! Vamos mor...

- shiiiiiiiiiiiii.... – coloquei os dedos na boca dela e mandei ficar calada – não fala isso! - Percebi que ela ainda estava mais assustada do que eu.

Um estrondo e nos abraçamos tão forte ao ponto de nos machucar.

- Está mais perto, Isabelle. – ela olha assustada para a arma – Quem te deu isso?

Eu olhei de forma triste para o objeto, mal conseguia segurar e como sempre ela me entendeu.

- Ele fez isso para proteger – e me beijou na testa – só nos resta esperar, não é?

Eu sorri, um sorriso sem graça, amarelo. Ela tentava me animar conversando, contando piadas... eu fiz o mesmo, mas não adiantava. Pessoas morriam lá fora, gritos, choros, explosões e não importava. Cada estrondo era encarado claramente como um:

“O próximo vai ser aqui!”

Pela fresta da janela observamos pessoas, soldados correndo e muito, tentando fugir, ou até lutar. A porta abriu sozinha. Possivelmente alguma explosão. Tem coisas que ninguém sabe explicar.

Encolhidas no escuro do quartinho continuamos. Agora, não falávamos nada. Apenas observávamos o terror do lado de fora. E nos perguntávamos, o que era melhor? Encarar aquilo ou ficar?

Uma nuvem de poeira se levantou em frente a porta. Meus dedos, unhas, cravaram no braço de Cátia, que nada falou apenas me abraçou mais forte também.

Mechas loiras no meio da poeira tentando se levantar. Um pé chutando o estomago.

Sangue.

Saindo da boca e caindo no chão.

A poeira abaixou e Verônica mal conseguia ficar de pé. De joelhos, mãos a frente do corpo apoiando, cabeça baixa, boca colocando sangue para fora. Ela estava em um estado deplorável, não desejaria nunca ter visto aquela cena.

Mas ainda não tinha acabado. Eu o vi caminhar, passos leves em meio a correria das pessoas que estavam atrás. Uma pistola na mão, apontada para a cabeça dela. Falava baixo para uns outros companheiros que o observavam.

Engoli a seco. As palavras era um tanto fortes. Verônica estava sendo acusada de traição. Do mais alto nível. Tinha fornecido todas as informações necessárias sobre nosso acampamento. Contingente de pessoas, armas, horários de chegada e saída...

Tudo, tudo isso, nas mãos do governo.

Ela o olhou com suplica, sabia o que estava por vir. Eu e Catia também. Minha amiga enterrou o rosto no meu corpo para não ver quando escutamos o disparo. Eu virei o rosto, fechei os olhos e por Deus, como eu queria poder apagar essa cena.

Talvez em alguns instantes consiga...

Engraçado como as frases ditas começam a se apagar.
A própria memória começa a ficar fraca. Me lembro de Cátia abraçada ao meu corpo chorando como uma criança, tentando levantar o rosto enquanto eu mesma não conseguia abrir os olhos.

Mas eu fui burra o suficiente.

Tentei mais uma vez ver o que acontecia lá fora. Ele chutava ainda o corpo inerte de Verônica, xingando o quanto foi idiota por ter confiado nela. Por ter posto em risco o nosso relacionamento por uma vaca como ela. Então ao proferir a ultima frase, ele olhou para a casa e me viu.

- Isabelle – seus olhos cresceram de forma estranha, nunca vi aquilo. Sorriu para mim, eu não conseguia parar de chorar – “Eu te amo...” – ele falou sem emitir nenhum som enquanto o corpo caia de joelhos, atrás dele um dos soldados do governo ainda estava com a arma fumegando.

Ele não tirava os olhos dos meus, mesmo sabendo que ia morrer. Mexia os lábios pedindo perdão...

Eu apenas chorava, cada vez mais e balançava a cabeça de forma negativa...
Não que eu não tenha perdoado. Só não acreditava na cena. Mais um disparo e ele fechou os olhos, tombando pela ultima vez com o rosto no chão.

Minha reação foi uma só.

Uma tentativa de grito abafada pela mão de Cátia. Que também não parava de chorar.

- Não adianta, minha amiga... – ela segurou as minhas mãos firme e falou com carinho.

Mas era tarde demais. O assassino do homem que eu amei nos viu e fez um sinal para outros que estavam longe. Catia ficou com o corpo gelado. Não tinha saída nenhuma, iríamos morrer...

Com o nervosismo minha amiga puxou a arma da minha mão quando o soldado entrava na cabana. Foi apenas uma reação.

Dois disparos.

Ela errou...

Ele não.

Um grito enorme de dor o maldito tinha acertado apenas a mão dela fazendo-a largar a arma no chão. Não tinha a intenção de matar. Não com apenas um disparo.

Agarrei e abracei o corpo de Catia que chorava, gritava, urrava de dor, quando o soldado puxa o corpo dela pelos cabelos, não deixando ajuda-la.
Tentei avançar para cima dele e não consegui. Outro homem já segurava meus braços por trás.

Eu chutava, gritava, me balançava tentando morder aquele desgraçado.

Vi Cátia ser jogada na cama enquanto sua roupa era rasgada, meus olhos escureciam a cada imagem. Ou será isso efeito do agora? Não importa, graças a Deus é uma cena que esqueci.

Sei que um dos homens me segurava, outro batia em meu rosto, tentava rasgar minha roupa enquanto eu os chutava. Cátia gritava, porém já não a via mais.

Uma explosão e a cabana se encheu de poeira. O soldado me largou, pois não agüentava a poeira nos olhos. Minha reação foi uma só, minha mão foi direto no rosto do que continuava tentando me agarrar. Minhas unhas rasgaram a pele dele que urrou como um leão e apenas virou a parte de trás de sua arma no meu rosto.

De uma vez fui parar no chão, ao lado de Cátia que tinha as roupas rasgadas e o corpo todo ferido. Tentei me levantar me colocando de quatro mais um deles pisou nas minhas costas me colocando de volta ao chão.

Amarram as minhas mãos e as de Cátia. Agora não iríamos conseguir escapar.
Eles mexiam com facas, cuspiam nos nossos rostos. Éramos apenas dois animais. E a qualquer momento iríamos ao abate.

Do lado de fora, a guerra continuava. Tiros e gritos um pouco menores, mas ainda presentes. O massacre estava quase finalizado.

Um deles com um canivete na mão se aproxima de mim, segura com força meu queixo, apertando me fazendo olhar bem nos olhos dele. Enquanto com a outra mão risco de leve alguma coisa na minha testa. Apenas senti o sangue correr.

Ele puxou minha perna tentando abrir, eu não conseguia sequer chorar mais, as lagrimas secaram. Apenas pedia com força que algo impedisse aquele abutre de me tocar mais.

E nesse momento um menino, magro, um adolescente com roupas oficiais apareceu na porta gritando que o oficial chamava aquelas criaturas. Estavam de partida.

Eles discutiram, gritaram, xingaram o comandante de diversas palavras e saíram. Suspirei aliviada e creio que Cátia também. Bem ou mal estávamos a salvo. Quando a porta se fechou. Algo, foi posto do lado de fora para impedir nossa saída.
Cátia me olhou assustada, tentamos uma ajudar a outra a desamarrar as mãos.

Chutamos, empurramos e nada. Algo ainda estava errado quando começamos a sentir o cheiro de queimado e o calor.

- Eles vão nos queimar? – Usamos a cama para tentar abrir as portas ou a pequena janela, mas nada. E por ser de madeira, tudo começava a se espalhar rápido demais.

Em minutos a cabana estava repleta de fumaça e não conseguíamos mais respirar direito.

Pedaços do telhado começaram a cair e apenas podíamos desviar.
Até que uma grande estaca caiu em cima de mim. Estava presa e em alguns minutos, estaria em chamas.

- Bel, vai ficar tudo bem, calma, ok?

- Catia – eu gritava sem sentir minhas pernas, deveria ter quebrado a coluna – Sai daqui!

- Não tem como! – Ela tentava levantar a madeira na parte ainda não queimada – eu não posso, esqueceu?

- A porta! Já deve estar cedendo... vai embora! – ela balançava a cabeça mordendo os lábios pela força aplicada – Catia, por favor, me deixa!

Olhei para cima e ainda tentei gritar mais alguma coisa. Mas não houve sequer esse tempo. O teto foi abaixo e ficamos soterradas.

Em alguns minutos, estaremos totalmente carbonizadas...

Meus dedos em carne viva ainda tentam encontrar a mão dela. Mas, já mal consigo me mexer, não sinto mais dor. A vista escureceu a tempo... apenas pensamentos... lembranças... que estão se apagando...

Apenas o vazio...

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Mensagem por alexnery Sáb Abr 04, 2009 12:54 pm

Grande Vampira!

Texto denso e angustiante. Muito bem escrito e com emoções bem expressas, realmente. Mostrou um lado de escritora profundo e sombrio que eu não conhecia.

Quando vemos a violência estilizada de animes ou mesmo de contos envolvendo fantasia, é algo que me parece meio "plastificado", o sangue não é tão sangue, eu acho. Porém, neste texto situado em nossa realidade, as coisas adquirem uma crueza que nos invade e causa reações reais.

Neste conto, tudo é motivo de reações. A começar pela protagonista, alguém que se aliou aos traficantes colombianos. Tudo cinza. num mundo cinza.

Muito bom, Vamp.

Abraço.
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Mensagem por Mr. Black Sáb Abr 04, 2009 1:09 pm

E olha que na época ela não queria escrever este conto.
A verdadeira poesia se oculta em nossos pesadelos, e no caso deste conto é mais do que uma verdade.
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Mensagem por Vampira Sáb Abr 04, 2009 4:41 pm

Oi Nery kkkkk tomei um susto em ver esse topico "ativo".

Esse na verdade foi um pesadelo... pesadelo mesmo...considerando certas coisas q eu vivia na epoca creio que foi uma grande metafora... (um pouco cruel, claro)

Sim, ummundo cinza é o que vivemos todos os dias... herois não existem como pensamos.... e os vilões tbm...

Não sei se está tudo realmente bom... tive duvidas enormes em postar esse (e Revenge) mas eu gosto de textos impactantes... só não sou tão boa em escreve-los (tanto q este tem anos kkkkk)

Mas muito obrigada.... Fico realmente lisonjeada Embarassed ainda mais vindo de vc!

Obrigada! Very Happy

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Mensagem por Ocelot Sáb Abr 04, 2009 10:42 pm

Mas que puxa VAMPIRA!!!!!!!!!!!!!!!!!

Eu não tinha conhecido esse seu lado genial de escrever!!!!!!!!

Concerteza essa foi uma das melhores, DE VERDADE, uma das melhores obras que já li no fórum em toda sua existência!!!!!!!!!!!

caramba ... não conseguia parar de ler.!!!!!!

Fantástico! Poético! Sublime!

Concerteza vc merece o prêmio de melhor escritora do Fórum só por essa obra... Falo sério!

Tem muito tempo q escreveu?
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Mensagem por Resgate Dom Abr 05, 2009 9:05 am

Lembro dessa história! Um clássico de tão bem escrita!
A gente sente quase que na nossa pele a angustia das personagens e a gente fica torcendo pacas por elas durante toda a história!
E esse final! Foi mpactante ao mesm otempo que surpreendente!!!
Meus parabéns mais uma vez Vampira!
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Réquiem 48 - O Último Pesadelo Empty Re: Réquiem 48 - O Último Pesadelo

Mensagem por Vampira Seg Abr 06, 2009 5:45 pm

Ocelot escreveu:Mas que puxa VAMPIRA!!!!!!!!!!!!!!!!!

Eu não tinha conhecido esse seu lado genial de escrever!!!!!!!!

Concerteza essa foi uma das melhores, DE VERDADE, uma das melhores obras que já li no fórum em toda sua existência!!!!!!!!!!!

caramba ... não conseguia parar de ler.!!!!!!

Fantástico! Poético! Sublime!

Concerteza vc merece o prêmio de melhor escritora do Fórum só por essa obra... Falo sério!

Tem muito tempo q escreveu?
Como assim meu "lado de escrever"??? Laughing
Obrigada de verdade... engraçado que acho q tenho um trabalho melhor do q esse, mas creio que é questão de gosto...

um dia na vida temos que acertar né? Laughing Laughing
er... bem... atualmente eu sou a unica escritorA o que me faz ser a melhor Laughing
mas sério... não mereço. Bons escritores fazem bons trabalhos SEMPRE, não em só um texto Razz

Tem, tem mais de um ano e meio e menos de dois anos Razz

Obrigada MESMO

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Réquiem 48 - O Último Pesadelo Empty Re: Réquiem 48 - O Último Pesadelo

Mensagem por Vampira Seg Abr 06, 2009 5:47 pm

Resgate escreveu:Lembro dessa história! Um clássico de tão bem escrita!
A gente sente quase que na nossa pele a angustia das personagens e a gente fica torcendo pacas por elas durante toda a história!
E esse final! Foi mpactante ao mesm otempo que surpreendente!!!
Meus parabéns mais uma vez Vampira!
Engraçado...
pq tipo... desde o inicio vc já sabe o final... me lembro q foi uma das coisas q fez o Kike se "afastar" dela na epoca. Já q ele detestava o tipo de historia (apesar de ter lido e comentado comigo em off o final)

Não sei bem se é torcer a ideia que tenho durante a historia. Mas sempre tem o pingo de esperança né?

Foi forte foi conceber a ideia... pena (e graças a Deus) não ocorre mais isso Razz

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Réquiem 48 - O Último Pesadelo Empty Re: Réquiem 48 - O Último Pesadelo

Mensagem por Ocelot Ter Abr 07, 2009 1:15 am

Vampira escreveu:
Ocelot escreveu:Mas que puxa VAMPIRA!!!!!!!!!!!!!!!!!

Eu não tinha conhecido esse seu lado genial de escrever!!!!!!!!

Concerteza essa foi uma das melhores, DE VERDADE, uma das melhores obras que já li no fórum em toda sua existência!!!!!!!!!!!

caramba ... não conseguia parar de ler.!!!!!!

Fantástico! Poético! Sublime!

Concerteza vc merece o prêmio de melhor escritora do Fórum só por essa obra... Falo sério!

Tem muito tempo q escreveu?
Como assim meu "lado de escrever"??? Laughing
Obrigada de verdade... engraçado que acho q tenho um trabalho melhor do q esse, mas creio que é questão de gosto...

um dia na vida temos que acertar né? Laughing Laughing
er... bem... atualmente eu sou a unica escritorA o que me faz ser a melhor Laughing
mas sério... não mereço. Bons escritores fazem bons trabalhos SEMPRE, não em só um texto Razz

Tem, tem mais de um ano e meio e menos de dois anos Razz

Obrigada MESMO

uahuaha
lado de escrever... pra ser sincero é a primeira obra sua que eu leio srsuhauheuaheuaeh Então... não conhecia seu lado de escrever...(?!?!)
ta ta... ta certo.. não faz muito sentido o que eu disse.. mas eu sou assim... vo teclando sem pensar.. srsrsrs
mas... tirando toda sua modéstia... É NOTA 10!!
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Mensagem por Vampira Qua Abr 08, 2009 6:11 pm

Pois é... sua frase ficou engraçada por essas e outras kkkkkk Mas fico feliz que tenha gostado Laughing

E bem, não é modestia... vai ver quando resolver ler outra coisa minha Razz

Obrigada mais uma vez

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