[OFICIAL] Alice in Wonderland de Tim Burton

Fonte HQM:
REVIEW - CINEMA: ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Por : Leonardo Vicente Di Sessa

Tim Burton é indiscutivelmente um dos diretores mais interessantes dos últimos anos. Seus filmes costumam encontrar o delicado equilíbrio entre crítica e público, ou seja, contam o tipo de história que agrada ao público, os tornando muitas vezes marcantes exemplares da cultura pop, ao mesmo tempo em que satisfazem críticos mais exigentes, que dificilmente dão alguma chance a filmes que não considerem muito “sérios”. Tais críticos costumam definir os filmes de Burton como “arte”, e muitas vezes estão certos.

Mas, mesmo tendo um currículo impressionante, Burton não acerta sempre. E este é o caso de sua versão de Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland). Muito alardeado, o filme criou grande expectativa, e decepcionou a quase todos. Não me levem a mal, mas o filme está longe de ser a porcaria que muitos dizem ser, no entanto, do mesmo modo, está longe do que Burton costuma apresentar.

A trama mostra Alice (Mia Wasikowska) já adulta, num momento decisivo de sua vida, um momento que ela não está pronta para encarar. Em fuga, acaba indo parar num mundo subterrâneo onde tudo é muito estranho. Qualquer um que prestou um pouco de atenção aos trailers, logo percebe que Alice está simplesmente retornando ao País das Maravilhas.

Sim, a visão de Burton e da roteirista Linda Woolverton para o clássico de Lewis Carroll é na verdade uma continuação da história original, ainda que mudando bastante coisa e acrescentando outras. A ideia em si é muito boa, principalmente no que diz respeito à própria Alice, afinal sem ter uma criança como personagem principal, espera-se que a história se torne menos infantil.

E é aí que as coisas se perdem. É difícil saber se a Disney interferiu demais, ou se Burton simplesmente perdeu a mão com este filme, mas é impossível negar que Alice no País das Maravilhas tem a estrutura de uma trama infantil, onde tudo ocorre rápido demais, sem muitas explicações, com os problemas e obstáculos sendo ultrapassados com uma facilidade que destrói todo o ritmo da trama, bem como qualquer chance de envolver o espectador nos acontecimentos.

Uma das marcas registradas de Burton é o modo como consegue mesclar história leves (sejam tramas infantis, um romance ou uma cômica) com um tom dark, criando filmes marcantes com visuais impressionantes. No quesito visual, até que este novo Alice não faz feio, principalmente com a variedade de personagens esquisitos presentes, um prato cheio para Burton. Porém, nota-se principalmente nos cenários que a produção poderia ter ousado mais.

Quase nenhum personagem, além da própria Alice, tem grande participação. As exceções são o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp), a Rainha de Copas (Helena Bonham Carter) e o Valete (Crispin Glover). Depp está divertido como sempre, mas em alguns momentos parece que entrou no “automático”, lembrando mais o Capitão Jack Sparrow (de Piratas do Caribe) do que o Chapeleiro. Carter se saí melhor, criando uma Rainha de Copas muito interessante e engraçada, mesmo em suas maldades. Já Glover, que normalmente interpreta personagens secundários e acaba roubando a cena, desta vez não passa impressão alguma, ficando apagado quase o tempo todo.

Os efeitos especiais são um caso à parte. Ajudam a criar visuais e criaturas espetaculares, mas falham em momentos simples e até em outros importantes. Por exemplo, em vários momentos, vemos uma movimentação dura, artificial, quando o Valete cavalga, ou pior ainda, quando Alice enfrenta o dragão Jabberwocky (voz de Chistopher Lee), o erro se repete. O dragão é espantoso e dono de um visual bem diferenciado, porém é na movimentação de Alice que os defeitos surgem em alguns momentos do embate.

Nem mesmo a trilha sonora de Danny Elfman se destaca. Muitos dos filmes mais conhecidos de Burton tiveram trilhas marcantes criadas por Elfman mas, verdade seja dita, já faz algum tempo que sua produção vem caindo, é só rever último O Exterminador do Futuro para notar.

Após assistir a Alice no País das Maravilhas, é impossível não admirar o espetáculo visual. Mas também é impossível não se sentir decepcionado ao saber que o talentoso Burton se contentou em contar uma história simples, infantil por demais, sem se dar ao trabalho de imprimir a ela sua verdadeira marca registrada: a maneira como costuma(va) pegar ideias batidas e dar a elas um “algo mais” que faz toda diferença.

Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Crispin Glover, Anne Hathaway, Christopher Lee, Michael Sheen, Matt Lucas, Alan Rickman, Eleanor Tomlinson. Roteiro: Linda Woolverton. Direção: Tim Burton.