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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Aracnos Ter Out 20, 2009 12:12 pm

Olá amigos,

Resolvi publicar alguma fic aqui no CP e participar mais ativamente dessa pasta, também lendo e comentando as excelentes fics que aqui estão.

Pra começar, vou publicar esta que hoje considero minha obra mais importante.


Última edição por Aracnos em Sex Mar 05, 2010 11:17 am, editado 4 vez(es)
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Mensagem por Aracnos Ter Out 20, 2009 12:14 pm

PROFANY
Contos Apócrifos


Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 3577492304_422d8330d9_o

Por: Anderson Oliveira

01. O Evangelho de Profany, parte 1.

— Eu não imaginava que desprezaria tanto o fedor desse mundo.

O cajado golpeia a terra árida e dela arranca porções de poeira que sobem ao vento. Os pés machucados mal cabem dentro das sandálias gastas que carregam alguém que mal se acostumou aquilo que todos os animais, desde os mais simplórios, já sabem fazer desde os primórdios dos tempos: a caminhar. A caminhar de verdade, no simples ato de colocar um pé na frente do outro e manter o equilíbrio de todo seu peso. Um esforço descomunal no começo. Um desconforto sem sentido agora. Ele lembra do tempo em que bastava sua vontade, bastava um único desejo e o universo dobrava diante de si.

Mas isso foi há algum tempo. E ele ainda se sente estranho com essa noção mortal de “tempo”. Enquanto divaga sobre essas coisas que no passado não teria importância alguma, ele percebe, quando o Sol nascente fere suas retinas lhe obrigado a tapar o rosto com o antebraço, que chegou ao seu destino. As velhas sepulturas esquecidas, cobertas de musgo e toda a sorte de deterioração, ainda de uma época que aquele solo era chamado de Alemanha, uma época onde os homens tinham fé e esperança no pós-vida. Uma época onde sua espécie era adorada como emissários da vida eterna e suas figuras ornamentavam as tumbas em belas estátuas de mármore. Uma época que, ele, Noriel, quer que volte.

Noriel adentra pelo cemitério, ainda mancando, com o cajado rústico guiando-lhe o caminho. Lembra de quando era um anjo de Deus. De quando os anjos existiam. De quando Deus lhe falava... Tempos há muito no passado. Quando finalmente chega até a velha capela, um vulto familiar porém não muito amistoso o espera. Uma lâmina tosca risca o assoalho entre os pés de seu portador. Este, sentado no degrau do altar, com sua capa outrora branca pendendo sobre seus ombros caídos, tentando esconder o rifle AK-47 que pende pela alça. Assim que Noriel se aproxima, o outro lhe lança um olhar medonho, culpa do olho azul ausente na órbita esquerda. Seus cabelos outrora loiros já começam a branquear, assim como sua barba que antes não tinha, no claro sinal do implacável e maldito tempo que agora é carrasco de homens e anjos.

— Ainda bem que pode vir, Lorde Gabriel. — Saúda Noriel erguendo a mão direta, passando o cajado para a esquerda. Aquele diante de si já fora o Arcanjo Gabriel, Jibreel entre os muçulmanos, o anjo da anunciação. Sempre que se manifestava aos homens, o destino das nações era mudado pelas mensagens divinas que trazia. Mas os últimos tempos foram difíceis, e pelo que diz seu rosto, não há nenhuma mensagem para dar. Não é agora que as nações se transformarão. Do contrário, é de Noriel que ele espera ouvir a boa nova.

— Então, meu jovem. Espero que não me faça perder... — e novamente essa palavra assombrosa aparece. — ...tempo.

— Não farei. Tenho a solução para por fim à guerra...

— De qual guerra fala? Já vi muitas...

— Daquela que nos condenou a isto! — e, num tom irado, Noriel arranha o próprio braço.

Gabriel vira o rosto. A lembrança daquele dia lhe doí mais do que a dor de precisar respirar para viver. O dia em que tudo, nos Céus e na Terra mudou para sempre, além de qualquer profecia, além de qualquer juízo. O dia em que Satanás sentou no trono do Senhor.

Pela contagem mortal, era o ano cristão de 2012. O mundo seguia firme. Os homens em guerra, a fome matando os pobres, a natureza cada dia mais devastada e pagando com terremotos e furacões o preço de sangue. Apesar a visão de que os homens estavam perdidos, tudo estava de acordo com o plano. Nos Céus, num plano espiritual elevado, habitado apenas pelos anjos em seus coros, eles faziam a manutenção das leis do Universo. Era um trabalho automático mas não era estressante, pois não havia ali as leis do tempo para causar-lhes o cansaço ou o aborrecimento. E também porque os anjos eram seres elevados, inteligentes e eternos. A perfeição da Criação, abaixo unicamente do próprio Criador. Foi quando, sem nenhum aviso, sem nenhum sentido, tudo mudou.

Da Terra, se via o céu se tingir de vermelho em fulgurantes clarões. Um espetáculo bonito aos olhos do viajante, mas que logo teria suas terríveis consequências. Do Alto, nos Céus, a sua presença ali causava medo entre os anjos. Aquele que há muito fora banido, jogado na Terra com seus partidários, que ainda aguardaria o dia do seu juízo e castigo nos poços profundos do Inferno. Ele estava lá, e toda a sua corja. Suas asas resplandeciam por onde a visão alcançava. O ouro de sua armadura contrastava com o manto vermelho escarlate como de uma pintura barroca. Seus cabelos longos e brancos, antigos como o próprio Universo, chegavam ao chão. Seus olhos fitavam a todos como um sorriso crescente nos lábios. Era Satanás em pessoa. Por Shaitan e Serpente fora chamado.

— O que é isso?! — se admiravam os anjos, pasmos com tamanha audácia, por não dizer falta de noção daquela cena. Como conseguiu entrar? Como conseguiu voltar? Mas as questões logo foram silenciadas quando o primeiro general daquele exército dos demônios atacou. Logo, os anjos ali presentes se armaram em batalha. Eram em maior número, não teria como não vencer. Era agora então? A guerra final? Era o dia do juízo?

— Todos morrerão! — disse Satanás, ainda imóvel no seu lugar, enquanto seus partidários com suas lanças e espadas de enxofre brandiam contra as lanças e espadas de fogo dos angelicais. Suas palavras pouco foram notadas naquela confusão. Menos por uma figura, que majestosamente vinha ao seu encontro. A armadura de ouro envelhecido mal brilhava. Sua túnica dourada tremulava em seu caminho. As asas douradas se fechavam às suas costas enquanto sacava sua espada. Feita do fogo divino, mas sólida como metal comum. Tal espada, nos primórdios, baniu Satanás, quando ainda era Lúcifer, o portador da luz, para o mundo mortal. E tal espada o baniria novamente, agora para as profundezas do Inferno.

— Miguel... — disse Satanás ao ver seu pior inimigo. “Quem é como Deus”. Outrora seu irmão, igual em poder, igual em beleza e sabedoria. Seu rosto andrógeno era como espelho para ele. Irmão gêmeo. Porém Miguel foi fraco o bastante para ficar e seguir aquele tirano em sua ditadura. Se Miguel tivesse se unido a ele naquele dia, tudo seria diferente, e ele não se veria obrigado a fazer o que fará agora.

— Basta demônio. Para os poços abissais tu serás banido--

— Não meu irmão. Não será assim. — e de súbito, Satanás ergueu sua espada e num sussurro inaudível proferiu palavras ocultas. Talvez tão ocultas quanto o significado da vida e a face de Deus. Porém naquele mesmo instante, uma onda de choque - procurando um termo mais fácil de compreender para nossas mentes materialistas - varreu todo o plano, se expandindo por todo o Universo de matéria, onde havia algum anjo para ser tocado por ela. E ao ser tocado, tal anjo foi corrompido pelo sangue.

Miguel sentiu tal reação. Primeiro o peso angustiante que lhe cobrira. O ardor quente e áspero que invadia seu peito. Seus olhos ardiam, suas mãos suavam e sua garganta se fechava. Via ao redor seus irmãos tendo as mesmas sensações, e os que eram feridos pelas armas dos demônios, sangravam feito homens, isso quando não eram feito em pedaços. Foi quando percebeu, e seus joelhos se dobraram diante de Satanás, que ele, de algum modo, transformou todos os anjos de Deus em mortais de carne e osso.

— Irmão... sinto muito que termine assim. — e Satanás o ergueu puxando pelos cabelos castanhos. Miguel não pode segurar o grito de dor. Com sua espada negra, Satanás lhe atravessou o peito. A espada de Miguel caiu cravada no chão. O sangue lhe escorria pela lâmina. Quem viu a cena chorou amargamente.

Um silêncio se fez quando o corpo de Miguel começou a cair. Com suas mentes ainda se ajustando à noções tão limitadas como gravidade e tempo, os presentes sentiram que sua queda levava uma eternidade. E, já que agora eram carne, não era mais ali seu lugar, e o corpo terminou de cair já em outro plano. Precisamente sob o capô de um carro na movimentada Jerusalém. o motorista mal teve chance de perceber o que acontecia, quando, ao erguer os olhos através do pára-brisa, viu uma verdadeira chuva de corpos. Verdade que alguns ainda vivos morriam com a queda, ou empalados pelas próprias espadas. Os que tiveram mais sorte, capazes de se pôr de pé, logo viram a chegada dos demônios para terminarem o embate.

E a luta se estendeu, agora em meio a homens confusos, que só viam seus maiores temores acontecerem. Bem aos pés do Monte Meggido -
Har-Megiddo - Armagedom. Apesar daquela guerra se estender por todo o globo, onde houvesse terra firme, pois eram muitos os anjos-caídos e os demônios para confrontá-los.

E o próprio Satanás desceu em meio a guerra. Mas sua atenção estava para o corpo de Miguel. Junto dele, sua espada. O poder da Criação feita de metal. O diabo se aproximou dela, mas ao tentar tocá-la foi lançado longe. Certamente somente os anjos de Deus poderiam erguê-la. O que não era problema, pois não havia mais anjos. Apenas mortais. E então ele riu. E tão logo como veio, deixou o campo de batalha, voltando para os Céus, subindo cada vez mais, até chegar aos portões do décimo Céu, onde jazia o trono de Deus. Seu objetivo final.

Facilmente os portões se abriram ao seu comando. Lá, naquele mesmo plano de onde fora expulso da vista do Criador. Lá, onde seu plano de vingança começou. E para surpresa, o trono de Deus estava vazio. Caminhou até o tabernáculo. Daquele momento em diante, seria conhecido por ser verdadeiro nome novamente. Satanás não era mais, mas sim Kristos Lúcifer. E ele caminhou até chegar ao tabernáculo. E ninguém guardava o lugar, certamente transformados em mortais. Mas... será que... Lúcifer não saberia dizer, mas será que seu truque chegou ao próprio Senhor? Teria ele sido transformado em humano? Duvidava. Mas não se importava com isso agora. Só queria receber seu prêmio. E sentindo a glória da recompensa, se assentou no trono de Deus.

No mesmo momento, convocou seus partidários, para que também tomassem seus assentos diante dele. E a guerra teve pausa. Os anjos caídos que sobreviveram recebiam os olhares curiosos, por não algumas vezes furiosos, dos humanos. Eles questionavam: quem eram estes? São homens, de certo, muito mais altos e fortes que o normal, vestidos de modo estranho, como guerreiros antigos e, porque não dizer, bobos em seus trejeitos, como se não pertencessem a esse mundo.

Logo um pronunciamento na ONU à portas fechadas foi feito pelos representantes dessa nova sociedade. E quem falava se apresentou como Gabriel. Contou que sua gente eram os míticos anjos de quase todas as culturas. Provou isso falando em todas as línguas, aos sacerdotes cristãos, judeus e muçulmanos. Contou o que houve nos Céus. Isso causou comoção entre os homens de fé. O povo se afastaria das igrejas, teria anarquia. Mas seria difícil manter isso em segredo. Pediram que os anjos protegessem a humanidade. Gabriel consentiu. Em retribuição, lhe foram dadas terras na África para que os anjos habitassem.

Não demorou para isso causar confusão. A proteção prometida virou autoritarismo. As terras concedidas foram alvo de cobiça dos homens tirados de lá. Não era certo chamarem os gigantes de Anjos. “Nefilim” foram então chamados. “Os caídos” significava. Homens e Nefilins entraram em guerra. Por anos a guerra devastou a Terra. O Holocausto Nuclear foi eminente. Lúcifer via tudo com imenso prazer. Não queria interferir e somente ver como os anjos se tornavam. Tão idiotas como os homens. Mas viu como seria bom para ele se pudesse ter mais influência no mundo. Afinal, estar no trono tem que ter suas vantagens. Iria mostrar como era o jeito certo de governar. Um período de paz prometera. Para isso, enviou sete demônios para governarem sete nações. Nações que seriam o exemplo de paz e ordem. Onde homens e nefilins seriam irmãos.

Mas claro que isso significava um império de medo. Adoração ao novo senhor era cobrada. Sacrifícios de sangue exigidos. Sete potências se tornaram. Depois, sete impérios. Fora de seus muros, homens e nefilins foram forçados a virarem nômades. Poucas cidades livres se formaram. Duas tribos que ora se odiavam, ora se uniam contra os impérios.

Era 2028 depois de Cristo.


As memórias passam pela mente de Gabriel e ele é trazido de volta ao presente. Teria aquele jovem Noriel algum plano para por fim a essa débil situação?

— Diga sua ideia, Noriel. — por fim disse o lorde nefilim.

Noriel fez uma pausa, como se aproveitasse o momento de suspense, crendo que o que dirá causará o impacto que ele mesmo sentiu quando teve a ideia há alguns dias. E até hoje se surpreende como é tão fácil e simples tal plano. Como eles puderam se esquecer dele? A princípio, como puderam condenar-lhe a isto? Não importa. Noriel sabe que agora o que lhe revoltou por mais de dois séculos será reparado e louvado como a salvação do Universo. Então ele se volta para Gabriel e reúne palavras para explicar de maneira simples seu plano. E não achou modo mais simples de dizer do que da seguinte forma:

— Mataremos Lúcifer. — depois de um certo silêncio e um olhar de suprema dúvida, Gabriel riu de escárnio. Pelos últimos dezesseis anos era esse seu maior desejo.

— E como, exatamente, faremos isso?

— Com a Espada de Miguel! — disse Noriel sabendo que tinha o controle da situação e, à imagem dos mortais, saboreando esse momento.

— Não delire, garoto! A Espada de Miguel está protegida em uma câmara secreta atrás das muralhas do império de Israel, reino do próprio Belzebul. E fora que apenas um anjo pode tocá-la. E se me lembro, não há mais anjos por aqui. — Gabriel se levantou e dava as costas para Noriel quando este disse:

— É aí que se engana. — as palavras de Noriel pegaram Gabriel de surpresa, como ele queria. Eis o clímax de sua ideia: — Há um anjo... ou quase isso... que certamente não foi atingido por Satanás em seu trunfo. Um que foi esquecido há muitos séculos por cometer o pecado de amar. Um sentimento que há muito nós não sentimos mais.

E as palavras de Noriel fazem respeito aos poços do Inferno. Abismos de fogo e lava, saraiva e enxofre, onde uma única criatura lá padece por um crime há muito esquecido, menos por Noriel. Atado por correntes, ferido na carne e na alma, a figura esquelética tem sua mente profanada por sentimentos de vingança e ódio, também por arrependimento e amor. Uma mulher o norteia no caminho da esperança. Por ela ele está ali. A dor é insuportável e constante... tem sido assim nos últimos duzentos anos ou mais, ele não sabe mais ao certo. Um anjo que se fez homem para viver um grande amor. Um homem que teve sua amada e seu filho lhe tirado pela morte, que clamou para poder ser um anjo novamente. Um pecado que lhe custou o Inferno.

— Profaniel. — diz Noriel com tristeza na voz. — Meu amigo Profaniel. — Gabriel pensa na ideia com atenção. Seria uma possibilidade. Profaniel não é bem um anjo, mas uma criatura única, meio anjo, meio humano, teria poder para empunhar a Espada de Miguel? Senão, seria útil em outras missões. Enquanto pensava, Noriel diz, pondo uma pá de terra em suas próprias esperanças: — O problema é... Como tirá-lo do inferno?

Gabriel se põe pensativo, dando as costas para o outro e fitando o destruído e empoeirado altar. Apalpa sua barba pensando nesse tópico. Outrora seria fácil tirar Profaniel do Inferno. Bastava uma palavra com o Criador e ele mesmo, com as chaves do abismo, iria resgatá-lo. Mas agora não vê mais o Criador e as chaves não estão mais na sua mão. És mortal e fraco, como os homens que guiava. Mas, também como os homens, pode ser engenhoso e assim acha uma solução. Se volta para Noriel como um esboço de sorriso apontando no canto da boca dizendo:

— Isso até que pode ser fácil. — diz surpreendendo o nefilim, quando tira debaixo do manto um velho livro ostentando um pentagrama. Um livro de Bruxaria. — Noriel, sua idéia pode salvar o mundo!

* * *

A Seguir: Descendo ao Inferno.
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Resgate Ter Out 20, 2009 12:24 pm

Grande Anderson! Muito boa a iniciativa! Espero mesmo que consigamos agitar mais essa pasta!
Agora é a hora da preguiça então vou dar um copiar/colar:
"Depois de anos lendo principalmente suas histórias mais “superheroísticas” foi com agradabilíssima surpresa que pus os olhos sobre o Profany, personagem que, falha miserável minha, eu nunca tinha lido nda, apenas visto seus fantásticos desenhos.
E puxa! Que história!
Achei engraçado como as nossas mentes continuam funcionando em sintonia parecida... Assim como vc escolheu para a estréia esse tipo de história, com anjos e demônios, minha nova versão do Resgate tbm bebe dessa fonte.
Mas vms à sua história... Um futuro apocalíptico muito bem descrito!
Parecia que eu estava sentindo o calor do cenário, com o modo como vc ia descrevendo as ações...
E essa guerra nos céus!!! Caceta!! Conforme a ação ia se desenrolando ia dando aquele aperto no estômago e fazendo a gente soltar um “Putz! Agora ferrou-se tudo!”
E ao final vc mostra que ferrou mesmo! A mudança geopolítica que vc bolou com a chegada dos Caídos ficou realista pacas! Dá prá realmente acreditar que, se o fim do mundo acontecesse como vc “desenhou” ele seria seguido por esse tipo de mudanças no mundo...
E esse final só nos deixa com mais vontade de conhecer logo o protagonista da história!!!
Ah! E aguarde, pois as engrenagens da minha cabeça já estão a rodar e te digo apenas uma palavra: Cross.
Abraços e parabéns pela estréia! Que Profany seja mais um sucesso!"
É isso ae!!!
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Mensagem por Vampira Ter Out 20, 2009 12:48 pm

Vocês tem telepatia? o.o
sério... nos ultimos dias andei pensando em como mexer com essa pasta. Esbocei algum conto para escrever mas nada realmente publicavel saiu.
E olha... se nao é o mais importante é um dos seus mais famosos.
Já já eu leio pretando toda a atenção =D

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Mensagem por Vampira Qua Out 21, 2009 8:12 am

Li e posso dizer:
meu Deus o que é isso?!
Sério... quando via vc anunciando "resumos" achava q a ideia não ia ser executada exatamente desta forma...
mas confesso que me surpreendi. Ainda mais com a parte da guerra...
sua visão de como é o "sistema do céu" ficou bem definida em um capitulo e as versoes do que vc... muito bem feito...
agora me deixou curiosa sobre o livro... hein? coisa mais "diabólica" um anjo usando bruxaria Laughing

Gostei... tá de parabéns! ^^

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Mensagem por Aracnos Qua Out 21, 2009 10:41 am

Grande João! POis é, há tempos queria postar algo aqui e ler os trabalhos também. Resta saber se terie tmepo hábil pra isso.
Quanto ao seu comentário, vamos de copi-cola também:

João-Resgate escreveu:Depois de anos lendo principalmente suas histórias mais “superheroísticas” foi com agradabilíssima surpresa que pus os olhos sobre o Profany, personagem que, falha miserável minha, eu nunca tinha lido nda, apenas visto seus fantásticos desenhos.
E puxa! Que história!
Grande João!! É, Profany é um gênero que me dediquei bastante durante um tempo, e é bem diferente das outras hsitórias... ainda mais essa versão apócrifa, que é mais fantástica que a original.
Não se lamente por não ter conhecido a série clássica. Logo eu a relançarei aqui e todos poderão ver como essa história do anjo-caído começou e o caminho que originalmente seguiu.

Achei engraçado como as nossas mentes continuam funcionando em sintonia parecida... Assim como vc escolheu para a estréia esse tipo de história, com anjos e demônios, minha nova versão do Resgate tbm bebe dessa fonte.
Pois é! Mas eu já usava esse tema muito antes, hein!

Mas vms à sua história... Um futuro apocalíptico muito bem descrito!
Parecia que eu estava sentindo o calor do cenário, com o modo como vc ia descrevendo as ações...
E essa guerra nos céus!!! Caceta!! Conforme a ação ia se desenrolando ia dando aquele aperto no estômago e fazendo a gente soltar um “Putz! Agora ferrou-se tudo!”
E ao final vc mostra que ferrou mesmo! A mudança geopolítica que vc bolou com a chegada dos Caídos ficou realista pacas! Dá prá realmente acreditar que, se o fim do mundo acontecesse como vc “desenhou” ele seria seguido por esse tipo de mudanças no mundo...
Esse é o ápice dessa trama. Um novo mundo, tão vil e fantástico que poderia representar uma fusão de futuro e passado, como vocês ainda verão. Só garanto que não tempos nada bons para se viver, a menos que você adore o diabo!

E esse final só nos deixa com mais vontade de conhecer logo o protagonista da história!!!
Ah! E aguarde, pois as engrenagens da minha cabeça já estão a rodar e te digo apenas uma palavra: Cross.
Abraços e parabéns pela estréia! Que Profany seja mais um sucesso!
O protagonista ainda vai demorar um pouco para dar o ar de sua psicose estranha... por ora, a trama se concentra em como trazê-lo de volta. O que não é tafera fácil.

Cross?! Meus dedos já começam a coçar, ehehe!

Valeu mesmo João... muitas suspresas ainda aparecerão nessa nova Terra. É melhor rezar até o próximo capítulo. Enquanto os anjos ainda existem!
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Mensagem por Aracnos Qua Out 21, 2009 10:50 am

Vampira escreveu:Li e posso dizer:
meu Deus o que é isso?!
Sério... quando via vc anunciando "resumos" achava q a ideia não ia ser executada exatamente desta forma...
mas confesso que me surpreendi. Ainda mais com a parte da guerra...
sua visão de como é o "sistema do céu" ficou bem definida em um capitulo e as versoes do que vc... muito bem feito...
agora me deixou curiosa sobre o livro... hein? coisa mais "diabólica" um anjo usando bruxaria Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Icon_lol

Gostei... tá de parabéns! ^^
Oi Tebh!
Ehehe, engraçado como todo mundo que lê esse capítulo começa comentando com uma exclamação. No UNF, já teve alguns "carambas", um "caraca" e num outro fórum algo parecido!

Esse capítulo é dedicado a apresentar a situação do mundo onde a trama vai descorrer. Por isos ele até é meio corrido, mas mais pra frente irei retornar nesse período turbulento de guerras e contar com maiores detalhes a transição dos mundos.

Mostrar esse "sistema do céu" não foi difícil porque essa série se baseia em outra que eu escrevia com o mesmo personagem, então nesse sentido eu só aproveitei o que já tinha mostrado lá. Por sua vez, montei essa visão de várias pesquisas, englobando diversas religiões e lendas.

Agora os anjos são mortais e têm que se virar como podem. Fé e religião não adiantam mais nada. O jeito é apelar para velhas ciências, como a bruxaria ou a boa e velha força bruta.

Muito obrigado pela presença! Me dedico muito a esta série, pois pretendo torná-la um livro.
Mês que vem trago o próximo capítulo.
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Mensagem por Faye Valentine Qua Out 21, 2009 1:16 pm

Ah cara, você é demais, sem mais comentários.
Eu já tinha lido o primeiro no UNF, mas é muita coisa que eu comentaria, parte por parte, então eu não o fiz, admito as vezes por preguiça ou por eu sempre fazer alguma coisa na internet que acaba me distraindo.

Mas resumindo, é um dos textos autorais mais distintos e bem elaborados que eu já li, parabéns.
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Mensagem por Vampira Qua Out 21, 2009 1:21 pm

Acho que realmente ficaria bom como livro.
E se realmente se manter firme vai ser um ótimo livro.. a ideia em si é muito boa!
E vou esperar para mes que vem ver a continuação ^^

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Mensagem por Marvin Costa Qua Out 21, 2009 1:42 pm

Caramba, que louco, meu...
Achei o máximo...Dá pra virar um filme já Razz

Parabéns cara! Continue assim.

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Mensagem por Aracnos Qui Out 22, 2009 10:38 am

Faye Valentine escreveu:Ah cara, você é demais, sem mais comentários.
Eu já tinha lido o primeiro no UNF, mas é muita coisa que eu comentaria, parte por parte, então eu não o fiz, admito as vezes por preguiça ou por eu sempre fazer alguma coisa na internet que acaba me distraindo.

Mas resumindo, é um dos textos autorais mais distintos e bem elaborados que eu já li, parabéns.
Uia! Obrigado!!!
Sim, lembro que você leu no UNF e deixou comentário sim!
É, as vezes a preguiça toma conta de mim também... Vou começar a dar um jeito nisso...

E muito obrigado mais uma vez e fique de olho nos próximos capítulos!
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Mensagem por Aracnos Qui Out 22, 2009 10:40 am

Vampira escreveu:Acho que realmente ficaria bom como livro.
E se realmente se manter firme vai ser um ótimo livro.. a ideia em si é muito boa!
E vou esperar para mes que vem ver a continuação ^^
Desde o começo eu já pensei nessa história como um livro. Até já pesquisei editoras que poderiam se interessar pelo material. é só eu finalizar o primeiro volume (cerca de 25 capítulos) que começo a mandar.

E se não quiser esperar até o mês que vem, confira o resto da história no UNF! Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Icon_wink
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Mensagem por Aracnos Qui Out 22, 2009 10:51 am

Marvin Costa escreveu:Caramba, que louco, meu...
Achei o máximo...Dá pra virar um filme já Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Icon_razz

Parabéns cara! Continue assim.
Valeu rapaz!!
E se virar filme, eu já tenho até o elenco escolhido... depois posto aqui!
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Mr. Black Sáb Out 24, 2009 4:06 pm

Grande Aracnos, como estão as coisas contigo? Acabei de ler o primeiro capítulo de sua fic. Realmente se desenha uma obra brilhante. Interessante as referências que usou, misturou 2012 da professia Maia, se não me engano, com referências de evangelhos apócrifos. Li sobre os caídos em alguns trechos do livro de Enoque, acho muito interessante. Gostei muito da premissa da história, muita ação e surpresas, com certeza esta história promete muito.

Felicidades e continue mandando suas histórias, vou estar de olho.

Abraço.
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Aracnos Dom Out 25, 2009 10:15 am

Mr. Black escreveu:Grande Aracnos, como estão as coisas contigo? Acabei de ler o primeiro capítulo de sua fic. Realmente se desenha uma obra brilhante. Interessante as referências que usou, misturou 2012 da professia Maia, se não me engano, com referências de evangelhos apócrifos. Li sobre os caídos em alguns trechos do livro de Enoque, acho muito interessante. Gostei muito da premissa da história, muita ação e surpresas, com certeza esta história promete muito.

Felicidades e continue mandando suas histórias, vou estar de olho.

Abraço.
Grande Black! Tudo bão, meu velho?!
Muito obrigado pela leitura! Realmente eu, como um intusiasta pesquisador da famigerada profecia Maia não pude pensar diferente. Se é para mostrar o fim do mundo, que ele seja em 2012. Daí costurei o enredo dessa história que veio para mim em um sonho com essa sutil referência.
A fic se chama Contos Apócrifos pois segue uma "realidade paralela" dos contos "canônicos", ou seja, a série clássica que escrevi há alguns anos com os mesmos personagens e que estou republicando no UNF.
Curiosamente, enquanto escrevia essa fic, comprei um livro que trata justamente do Livro de Enoque e através dele inclui diversas referências ao livro apócrifo.

Mais uma vez muito obrigado, grande Black!
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Aracnos Sáb Nov 14, 2009 8:43 pm

PROFANY
Contos Apócrifos

Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 3576800507_eb4d1393e9_o

Por: Anderson Oliveira

02. O Evangelho de Profany, parte 2.
O Ritual.



Seus passos são apressados. Sua respiração ofegante. O toque sombrio do poente já tinge os prédios em ruínas daquela que um dia fora a cidade de Liverpool. E eles já começam a perambular por aí. Ela pode sentir o fedor. Não é seguro estar na rua à noite. Mesmo com a Magnum 42 em sua cintura, ela não quer arriscar. Lembra-se do que aconteceu com seu irmão no ano passado. Ainda pode sentir o cheiro de sua carne queimando e ver seus olhos sangrando e implorando por uma ajuda que não veio. Rezando para um Deus que não existe.

Por isso ela agora corre, deixando cair da sacola as maçãs que conseguiu no mercado. Por sorte aceitaram apenas dinheiro como pagamento e não algum serviço de seu corpo. Sua casa está perto, mas não pode deixar de perceber um grito na distância, cada vez mais alto e próximo de si, ao passo que o sol não mais pode ser visto no oeste. A portinhola de aço reforçado se abre diante de si. Ela apressadamente desce as escadas enquanto alguém cuida de fechar a estreita passagem, com não menos do que dez travas.

— Que bom que conseguiu, Liza! — sua mãe a abraça com força enquanto a moça chamada Liza deixa a sacola cair no chão, por onde rolam as maçãs que sobraram, assim como as laranjas e as batatas.

— Porque demorou, filha? — diz seu velho pai, carregando a Winchester ao lado de seu irmão mais novo. Apenas um garoto de onze anos e já expert no uso das armas. A pergunta do pai ainda ecoa naquela mistura de casa com abrigo anti-bombas quando os gritos que Liza ouvira se intensificam.

Logo, o pai e o irmão sobem correndo e observam através das trincheiras camufladas empunhando seus rifles da mesma forma que treinaram exaustivamente nos últimos anos. A mãe se ajoelha diante de uma estátua de Buda e entoa um mantra. O budismo foi escolhido por aqueles que ainda precisam rezar para se sentirem melhor, pois é uma religião que não tem um Deus. Liza prefere subir e ver o que ocorre do lado de fora.

E o que ela vê é uma jovem, não muito mais nova do que ela, cercada por cinco homens de diferentes idades e físicos e uma mulher, todos com armas, desde revólveres a facas, vestidos de preto ou vermelho, com tatuagens e correntes deixando bem claro a quem servem e no que acreditam. A garota é espancada livremente. Tem suas roupas rasgadas e sua vagina penetrada inúmeras vezes, além de seu ânus que irrompe em sangue.

Depois de servir de fonte de prazer, seus seios são cortados com as facas. Em sua barriga são riscadas palavras de maldição. Por fim, enquanto dois dos homens bebem o sangue que mina de seu peito, a mulher lhe decepa a cabeça lentamente, fazendo questão de lhe infligir mais e mais dor, fornecendo mais sangue para o banquete, que só termina quando o fogo consome a carne daquela moça, que ainda é devorada pelos homens como se fossem animais. Sua cabeça é levada como troféu.

Liza ainda vê com horror aquilo. Apesar de já ser costumeira tal cena. O motivo do toque de recolher. O motivo de ter de andar armada quando precisa sair de casa. Ela quer rezar, pedir ajuda, mas sabe que ninguém vai ajudá-la. Sabe que o Deus que amava quando criança se foi, que seus anjos foram derrotados e que agora é o diabo quem governa a Criação. Por isso aqueles homens fazem o que querem. Eles são satanistas.

Eles mataram seu irmão no ano passado.

Eles eram seus vizinhos da frente.

Deus não existe.


O céu, de uns anos pra cá, adquiriu um aspecto avermelhado, seja em qualquer momento, desde a aurora até o crepúsculo, e mesmo durante a noite. Chega a ser um espetáculo bonito ver a Lua Cheia tingida de rubro, mas é ao mesmo tempo aterrador quando você vê e tem a impressão de que ela está sangrando. De que as nuvens são bolsões de sangue dos condenados prestes a transbordar a qualquer momento. Por sorte, a água que cai na chuva ainda é a mesma. Isso quando a sorte deixa que chova. O que não é sempre. Mas quando chove a água é ácida e poluída pela radiação em alguns lugares, mas não é vermelha.

Só a água do mar recebe essa coloração, pois reflete o céu. Ainda não lançaram sondas novas ao espaço e as que ficaram lá estão sem comunicação desde o grande conflito, então não se sabe se vista do alto a Terra se tornou um planeta vermelho. Isso norteia os pensamentos de Noriel, quando ele e Lorde Gabriel embarcam no velho cargueiro a fim de por seu plano em prática.

Sorrateiro à noite o barco zarpa, fugindo de represálias dos humanos daquelas terras germânicas, indo para o mar atlântico, onde é seguro para os nefilins, ainda que piratas humanos perambulem por aquelas águas. Não por menos, as armas do cargueiro estão carregadas e seus tripulantes em estado de alerta.

Gabriel lê com atenção o livro de bruxaria numa cabine, fazendo anotações em folhas soltas de papel, mal acostumado com o manuseio do lápis. Ele se acostumou bem ao vinho, e não dispensa uma garrafa ao seu lado. Alguns nefilins lhe servem como assistentes e esperam as ordens do Lorde. No comando do barco está outro que ainda é chamado de lorde: Haziel, o querubim.

Hoje o vemos sob a forma de uma bela mulher. De jeito selvagem e desleixado, mas ainda assim uma mulher. Noriel se lembra que quando os anjos foram lançados na Terra, eles assumiram a forma que estavam usando naquele momento. O que não é necessariamente sua forma verdadeira (se é que tinham). Alguns foram transformados em homens, outros em mulheres. Mas alguns, em corpos de homem receberam mentes de mulher, e vise-versa, como foi com Haziel.

Noriel agradece por ter sido feito homem com mente de homem, ainda mais depois que conheceu os prazeres do sexo e viu como as mulheres humanas são fabulosas. E não é o único que tem essa opinião. Na embarcação ele encontra o contra-mestre, Maquiash, que tomou por esposa uma jovem espanhola e teve um filho com ela. A criança nasceu estranha e hoje, com dez anos de idade, é mais alta que o pai. Noriel teme que uma nova raça de gigantes cresça absurdamente. E, pensando nisso, até entende os nefilins que resolveram permanecer assexuados, como o Lorde Metraton, chefe do Conselho de Novo Éden, a cidade dos nefilins na África. É quando Noriel se dá conta que Gabriel está agindo sem o consentimento do Conselho.

— Noriel, venha cá. — ouve Gabriel lhe chamar e deixa suas divagações de lado. Ao entrar na cabine, não pode deixar de sentir o cheiro do vinho que emana de lá. Estranhamente Gabriel não parece bêbado o suficiente para atrapalhar o que vem a seguir.

— Já achou um modo de tirarmos Profaniel do Inferno? — diz secamente, deixando pra trás qualquer cerimônia. Gabriel balança a cabeça em sinal de positivo e, após outro gole da garrafa, lhe diz:

— Venha comigo. — e abre a porta atrás de si, levando a um aposento praticamente vazio, onde alguns ajudantes colocam uma velha banheira no centro do cômodo. Noriel não compreende aquilo, mas observa quando Gabriel abre o livro sobre o chão e, com um giz trazido por um ajudante, começa a riscar estranhas runas e símbolos copiando-os do livro.

— Parece que achou sim. — diz Noriel em voz baixa, vendo ainda outros ajudantes trazendo sacos e mais sacos de algo que não consegue ver o que é. Gabriel manda chamarem Haziel quando finaliza o último desenho. Em seguida, ele mesmo e mais um dos ajudantes despeja o conteúdo dos sacos na banheira enquanto outro despeja dois baldes de água. Noriel vê que o que tinha dos sacos é gelo. — O que você vai fazer afinal?

— Trazer Profaniel para cá, ora. — responde Gabriel sem olhar para ele. Depois que a banheira está cheia o suficiente, o lorde nefilim se volta para Noriel e, com a mão em seu ombro diz: — Para isso, você terá de buscá-lo.

— Como disse? — o olhar de Noriel foi cômico, mas Gabriel não riu. E tão secamente quanto disse da primeira vez, respondeu:

— isso mesmo. Você terá de buscá-lo.

— E como farei isso? — dessa vez Gabriel muda a expressão do rosto, deixando-o mais sombrio, se é que é possível.

— Essa é parte fácil. Para ir para o Inferno... você irá morrer. — Noriel deu um passo para trás, se segurando firme no cajado, ao mesmo tempo que a bela Haziel entra na sala portando alguns objetos e a porta é fechada atrás dela. Noriel tem a leve impressão que aquilo foi para ele não fugir. Se voltando, vê um dos tripulantes, o mesmo que trouxe o gelo, a abrir outro saco e dele derramar sal sobre o vão da porta. No outro extremo, velas vermelhas são acesas. — Para quê tudo isso? — diz Noriel parecendo querer mudar de assunto.

— Para os demônios não entrarem aqui. — se limitou a responder Gabriel sem explicações. Pois todos ali sabem como funciona. Noriel mesmo reflete em como, agora sendo meros mortais, eles são presas fáceis nas garras dos demônios, invisíveis e onipresentes. Entende porque daqueles rituais pagãos, o que não o tranquiliza quanto ao fato de ter ouvido claramente que iria ser morto.

— E essa história de me... me matar? — diz sem disfarçar o medo.

— Não se assuste. Veja. — e Gabriel apontou para a banheira. — Você irá entrar ali e será resfriado até seu coração parar de bater. Se nossa fisiologia é similar a dos humanos, o que eu penso que é, então você estará num estado de morte clínica. Nós teremos exatos seis minutos para fazer seu coração voltar a bater, por meio de técnicas de primeiros socorros. Senão... — e seu olho bom desvia do rosto de Noriel. — Senão ai teremos morte cerebral.

— Seis minutos?

— Estando do outro lado, o tempo não existe mais. Seis minutos será uma eternidade. O suficiente para descer ao mais profundo poço do Tártaro, resgatar Porfaniel e trazê-lo de volta. E isso me lembra, trouxe algum objeto que lhe pertencia? Claro que isso seria meio difícil. Ele andou pela Terra há mais de duzentos anos...

— Mas eu trouxe. — e Noriel, ainda sem assimilar direito a história sobre morte clínica e cerebral, tira da bolsa que sempre traz pela cintura um embrulho. Gabriel o pega e o desdobra até revelar uma camisa velha e puída. — Achei nos destroços de um museu em Londres. Sei que era dele pelo brasão dos Goodsmith. A família da mortal, Kate Goodsmith, por quem ele se apaixonou.

Gabriel franziu o cenho e pigarreou algo, entregando as roupas para seu ajudante, assim como o livro. O ajudante cuidaria de preparar as roupas para o ritual. Alheio a isso, Noriel se dá conta que Haziel traz um balde de metal com um ferro mergulhado em brasas, mas não quis saber para quê seria usado. Talvez para acender mais velas, pensou. Parece que Gabriel estava mais adiantado em seu plano do que Noriel imaginava.

— Se é assim que deve ser... — diz Noriel tirando sua túnica e se dirigindo para a banheira.

— Ótimo... com o gelo você sentirá menos a dor. — Gabriel diz tirando o ferro do balde de brasas. Noriel não percebe, pois usa sua parca concentração para tomar coragem e mergulhar no gelo. Primeiro o pé direito, calejado e sujo, depois o outro, em pior situação. O frio queima sua pele, mas ele continua.

— Es-espero... que... isso... f-funcione... — o frio lhe toma mais ainda quando senta o traseiro nu na água. Os presentes parecem sentir pena pelo sofrimento e orgulho pela coragem do nefilim. Menos Gabriel, que continua impassível preparando o ferro para ser usado. Assim, estando Noriel com gelo e água até o pescoço, Gabriel se aproxima por trás, e o empurrando pra frente pela cabeça, o marca com o ferro quente como se Noriel fosse um boi. — Aarghh!!

— Isso é para sua proteção. — diz Gabriel ao remover o ferro e ver a ferida ainda fresca que forma um símbolo antigo. — Com essa marca, você estará protegido dos espíritos imundos, desse e do outro lado. Eles não podem ler sua mente, nem te ferir. Terá caminho livre no além.

— Que... ótimo... — balbucia Noriel. Nisso, Gabriel se volta para o ajudante que ficou com o livro e a roupa e constata que ele já as preparou de acordo. Quatro nós na camisa que fica dentro de um pentagrama ainda cercado de palavras em hebraico.

— Vamos começar. — diz o Lorde se sentando em uma cadeira, enquanto observa Noriel assumir tons azulados dentro da banheira.

Todos os outros na sala fazem silêncio enquanto seus rostos refletem medo sob a luz gordurosa das velas. Eles pensam “já fomos anjos de Deus, agora sujeitos a empregar rituais pagãos! Isso é errado” como se a situação em que vivem agora fosse a certa. Como se o certo fosse Lúcifer sentado do Trono de Deus. Gabriel sabe que o ditado humano é verdadeiro: tempos desesperados pedem metidas desesperadas.

Alheio a isso, Noriel procura não pensar em nada. Ninguém lhe pediu isso e nem ele mesmo sabe se vai ajudar. Mas ajuda a não pensar na dor que sente. Se bem que a dor vai sumindo aos poucos. Ele então se sente confortável. Agora vem uma grande vontade de dormir. Seria bom dormir... É agora. Ele reconhece os sintomas da hipotermia. Seu instinto de sobrevivência o manda abrir bem os olhos e resistir. Fitando rapidamente o olhar de Gabriel, parece que ele ouve o outro dizer para se entregar ao sono, mesmo que o outro não diga nada.

Então ele assim o faz. Fecha os olhos, respira como se fossa pela última vez. O ar quente parece não ser aceito pelo seu pulmão frio. Ele tosse. As pessoas na sala avançam um passo, mas logo param. Quando eram anjos, já viram a morte muitas vezes. Ela, a morte, era um deles, tinha muitos nomes e faces. E mesmo nas guerras que se sucederam viram a morte de seus iguais. Então eles sabem ser frios o bastante.

Noriel para de tossir. Lentamente seus olhos param de piscar, ficando fechados como se mergulhasse num sono profundo. Sua pele, coberta de cristais de gelo, principalmente na região da boca e nariz, fica imóvel. Gabriel se aproxima dele e põe seus dedos pesados em seu pescoço. Suas feições mudam vagamente e ele diz aos outros.

— Temos seis minutos.


Não há mais frio. A respiração é mais fácil. Não há mais o peso da carne e dos ossos. A sensação é muito boa. Como um sonho. Agora que é mortal ele sonha e é o único momento em que não sente a angústia de ser mortal. Mas isso consegue ser melhor que um sonho... é como se não fosse mais mortal... Noriel sorri quando abre os olhos. Está escuro. Tem a impressão de estar de pé... sim... e ele vê um pequeno ponto de luz na distância. Sem perceber está andando em direção aquela luz. A luz se aproxima devagar e parece que fica mais agradável quanto mais perto dela se chega. É quando ele percebe.

— Estou morto. — Ele para de avançar, com instinto de dar meia volta e sair dali, fraqueza humana que adquiriu nos últimos anos, mas ele sabe do seu objetivo. Então dá um passo a frente e, se dando conta que não é mais um ser de carne fraco e limitado, só com a força do pensamento começa a voar - ou algo assim - em direção a luz. É como ter seus poderes angelicais novamente, ainda que incompletos. É quando a luz se aproxima...

Ele nem sente atravessá-la. Quando se dá conta, está de pé, com um terno branco e sapatos brancos. Seu rosto é jovial, seus cabelos estão curtos novamente. Sua imagem no mundo do além é a de quando era um anjo. Mas aqui ele não é um anjo, mas um espírito, e ele se encontra agora do caminho das almas. A paisagem é de um campo terreno, com gramado e árvores, e mesmo um céu sobre sua cabeça, mas tudo em tom esverdeado, frio e a certo momento sinistro. Claro, não há a presença de Deus aqui como deveria ter.

— Acho que aqui não é o seu lugar, nefilim. — um voz diz atrás de si. Noriel se volta e vê um rapaz, com corpo e rosto primitivo, como um homem das cavernas, ou mesmo ancestral do homo sapiens, vestindo-se de pele de carneiro, com um cajado na mão, pés descalços e peludos na grama e cabelos se confundindo com a barba. Noriel tem a impressão que já viu esse homem antes, num passado muito distante.

— Quem é você? — pergunta Noriel com certeza de que não lembraria pela memória. Mas logo o jovem primitivo lhe responde, e a resposta lhe causa assombro:

— Sou o primeiro a vir pra cá... Ab.El fui chamado. — Abel, filho de Adão.


Longe dali, imerso nas profundezas do Inferno, a figura esquelética presa por correntes e atada a fios parece sentir algo de diferente na ordem das coisas. Ele, erguendo os olhos cheios de rancor, com sua boca selada e medonha, parece procurar pela origem da sensação, mesmo sabendo que deve ser algum truque da sua mente. Profaniel sabe que ninguém vai tirá-lo de lá. Ninguém.

Ninguém.

* * *

A Seguir: Limbo, Purgatório e Inferno.
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Resgate Seg Nov 16, 2009 10:31 am

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Cacete Anderson! Que futuro terrível vc está desenhando!
Consegui visualizar toda a cena horrível dos satanistas abusando da moça... Bbbbrrrrr... Terrível, com oeu já disse, simplesmente terrível e o pior: Tem tudo a ver!
Se o demônio dominasse a Terra tudo isso e coisas ainda piores acabariam por acontecer...
como vc já tinha me falado por MSN, a cena do plano para levarNoriel até o inferno foi muito bem conduzida lembrando bem a cena do seriado que vc citou para mim, a Milagres - Entre o Céu e o Inferno.
E mal Noriel chega e já dá de cara com o Abel!!! Genial!!! Quero só ver como vai ser esse encontro!
E o coitado do Profaniel heim? Totalmente sem esperanças, mas tbm, no lugar dele quem teria?
Meus parabéns pelo excelente capítulo Anderson!!!
Ficarei aqui ansioso pelo próximo!!
Abraços e até!!
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Mensagem por Aracnos Seg Nov 16, 2009 10:43 am

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Fala João! Estava ansioso pelo seu comentário... então vamos a ele:
João-Resgate escreveu:Cacete Anderson! Que futuro terrível vc está desenhando!
Consegui visualizar toda a cena horrível dos satanistas abusando da moça... Bbbbrrrrr... Terrível, com oeu já disse, simplesmente terrível e o pior: Tem tudo a ver!
Se o demônio dominasse a Terra tudo isso e coisas ainda piores acabariam por acontecer...
Pois é... quis colocar uma cena forte pra mostrar uma das situações... esses satanistas que vimos são os menos perigosos. Em breve veremos a ameça de verdade...

como vc já tinha me falado por MSN, a cena do plano para levarNoriel até o inferno foi muito bem conduzida lembrando bem a cena do seriado que vc citou para mim, a Milagres - Entre o Céu e o Inferno.
Essa cena foi dificil de fazer, até a prolonguei mais do que queria para narrar todas as emoções e ações envolvidas. Mas era algo que queria mostrar para verem a que ponto os anjos=caídos chegaram, tendo de recorrer a rituais pagãos... mas ainda teremos tempo para explorar mais a sociedade dos nefilins.

E mal Noriel chega e já dá de cara com o Abel!!! Genial!!! Quero só ver como vai ser esse encontro!
Eu pensei assim: diz a tradição que quando alguém morre, algum antepassado ou pessoa querida o recebe do outro lado. Como os nefilins não têm antepassados, e Abel, que foi o primeiro a morrer, certamente não foi recebido por ninguém, seria interessante usá-lo para receber os nefilins. Se ele vai ajudar ou não, veremos no próximo mês.

E o coitado do Profaniel heim? Totalmente sem esperanças, mas tbm, no lugar dele quem teria?
Meus parabéns pelo excelente capítulo Anderson!!!
Ficarei aqui ansioso pelo próximo!!
Abraços e até!!
Teremos alguns capítulos dedicados só a explorar a figura de Profaniel... pensei em cenas bem impactantes... espero tirar algumas lágrimas dos mais sensíveis!

Muito obrigado João! Continue de olho!
Abraço!
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Mr. Black Ter Dez 22, 2009 6:02 pm

Opa!
O capítulo 2 chegou cheio de novidades. Para começar a marcante ilustração de como é a vida humana sem a presença de Deus, os justos tendo que viver armados, escondidos e com medo. Depois a boa descrição do que aconteceu com vários anjos que caíram: Haziel, Metatron e outros. E, fechando com chave de ouro, o ritual pagão que enviou Noriel até o inferno para resgatar o "profano". Interessante este elemento novo que é a presença de Abel, vamos ver o que vai resultar do encontro dos dois em um lugar tão inóspito.

Abração, Anderson!
Aguardo a continuação da saga. Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Icon_biggrin
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Mensagem por Aracnos Seg Dez 28, 2009 10:19 am

Mr. Black escreveu:Opa!
O capítulo 2 chegou cheio de novidades. Para começar a marcante ilustração de como é a vida humana sem a presença de Deus, os justos tendo que viver armados, escondidos e com medo. Depois a boa descrição do que aconteceu com vários anjos que caíram: Haziel, Metatron e outros. E, fechando com chave de ouro, o ritual pagão que enviou Noriel até o inferno para resgatar o "profano". Interessante este elemento novo que é a presença de Abel, vamos ver o que vai resultar do encontro dos dois em um lugar tão inóspito.

Abração, Anderson!
Aguardo a continuação da saga. Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Icon_biggrin
Opa, grande Black! Desculpe a demora em responder seu comentário!

Nesse capítulo eu resolvi mesmo mostrar um pouco do que aconteceu com o mundo, focando em personagens chaves que terão certa importância a série. Mais sobre o destino dos homens e anjos será mostrado, até porque em cada lugar a situação ficou diferente.

Valeu a leitura amigo!!
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Vampira Qui Jan 07, 2010 6:10 pm

Já tinha lido a um tempo e pensei que já tinha até comentado o.o
Lapso meu!
Pois bem...

Aqui eu vi que a historia ficou ainda mais intrigante e interessante para mim! Sério? To pasma com o andar das coisas...

E melhor ainda... a forma como fez o ritual... "matando" o anjo ficou show!
Assim como o final com um personagem que eu jamais pensaria que vc fosse colocar!

Quero a continuação Very Happy

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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Aracnos Sex Jan 08, 2010 10:37 am

Vampira escreveu:Já tinha lido a um tempo e pensei que já tinha até comentado o.o
Lapso meu!
Pois bem...

Aqui eu vi que a historia ficou ainda mais intrigante e interessante para mim! Sério? To pasma com o andar das coisas...

E melhor ainda... a forma como fez o ritual... "matando" o anjo ficou show!
Assim como o final com um personagem que eu jamais pensaria que vc fosse colocar!

Quero a continuação Very Happy
Uia! Pensei que não tinha comentado porque não tinha gostado mesmo, ehehehhee!!

Que bom que gostou do rumo dessa segunda parte.

E seu pedido é uma ordem! Lá vai a continuação!
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Aracnos Sex Jan 08, 2010 10:40 am

Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 3576590015_ca53ea4628_o

Por: Anderson Oliveira

03. O Evangelho de Profany, parte 3.
Limbo, Purgatório e Inferno.


“Deixai toda esperança, ó vós que entrais!” – A Divina Comédia


O vento frio acaricia o rosto esverdeado de Noriel, fazendo o crer, por alguns instantes, que aquilo ali é mesmo vento e que ele tem um rosto naquele plano espiritual. Os anos que literalmente “viveu” na Terra atrofiaram sua percepção das coisas. Tal que aos seus olhos o mundo dos mortos é semelhante ao dos vivos. Mas ele deixa o vento acariciar-lhe enquanto processa o fato de ter sido recebido por Abel, o filho pastor de Adão.

— Aqui não é seu lugar. — repete Abel com olhar não muito amistoso. Talvez devido ao seu rosto primitivo. — Volte enquanto ainda é tempo.

— Não vou voltar ainda. Preciso ir pra um certo lugar. — e sem esperar alguma resposta, Noriel se voltou e começou a caminhar. Abel o seguia de perto e começou a dizer.

— Onde queres ir, nefilim? Lá não irá chegar sozinho.

— Então me acompanhe, se isso escolher.

— Você que escolheu minha companhia.

Ouvindo isso Noriel se pergunta se tudo aquilo não seria um meio do seu subconsciente traduzir o ocorrido. Quando os homens morrem, relatam que um antepassado o recebeu no além. Já que nefilins não têm antepassados e esse Abel foi o primeiro homem que morreu - na verdade foi assassinado - na Terra, nada mais natural a associar-lhe a isso. Mas essa é uma divagação desnecessária, como todas as divagações, e Noriel continua seu caminho, sem se dar conta que caminhar é coisa dos vivos.

Mas não deixa de reparar a sua volta. Aquele campo bucólico, um tanto frio e assustador como a solidão, ainda que não esteja sozinho. As árvores retorcidas como múmias de um tempo mais feliz que outrora existiu. Seria tudo isso consequência do reinado do diabo ou realmente sempre foi assim e ele não se lembra? Talvez, pois antes olhava isso como olhos de anjo, e aos olhos dos anjos tudo parecia melhor.

— É árdua a descida até o Abismo. — diz Abel sem nenhum aviso. Noriel não se lembra de ter dito onde queria ir.

— Achei que seria mais fácil agora que Satanás é o senhor.

— Não. Ele teme o Abismo, pois sabe que fora reservado para ele. Não deve ter poder para desfazê-lo, ou talvez tenha outros planos. Não sei dizer. Foi o único lugar que não foi corrompido.

Noriel medita as palavras de Abel e percebe que ele tem certa razão. Isso também significa que Profaniel ainda está lá, isolado de tudo. Noriel não tem certeza de qual é a origem do Inferno. Ele sabe que lá é o Abismo, que é o nome mais correto para se aplicar. Dizem que o Abismo foi criado por Deus para punir os anjos rebeldes desde o principio da Criação. Outros dizem que o Abismo já estava lá e Deus criou tudo ao seu redor e a partir dele. Portanto ele seria o centro do Universo.

Enquanto pensa nisso que Noriel se aproxima de uma baixada e, a descendo, chega a um exuberante rio. Extenso como o mar e esverdeado como tudo mais ali. A sua margem, numa areia preta e de aspecto mal cheiroso (apesar de não sentir cheiro algum), um pequeno barco rebocado de betume, com remos sujos de lodo, saltando pra fora, abriga uma figura encoberta por um manto negro, de cócoras dentro do barco, dormindo ou coisa parecida. Noriel sabe exatamente onde está.

O rio Aqueronte. E seu barqueiro é certamente Caronte. É ele que levará Noriel para outro lado. Mas antes de dar o próximo passo, Abel o segurou firme pelo braço, quase a ponto de puxá-lo de volta, para lhe dizer:

— Se cruzar o rio, não haverá volta. — Noriel pensa por um momento. Não se lembra de Gabriel ter-lhe dado instruções de como regressar. Só disse para voltar em seis minutos. Apesar do crescente e real medo de não poder voltar, Noriel se aventura com o primeiro passo, vendo que Abel o solta e fica parado, como se não acreditando na sua audácia.

Noriel se aproxima do barco, mas Caronte não faz caso dele e continua abaixado e enrolado em seu manto. Noriel fita o rio por um momento e percebe nuances de águas claras e belas contrastando com água preta e poluída, como os rios da Terra. E Caronte nem se mexe. Noriel pensa em dar-lhe um safanão para acordá-lo, mas então antes que resolva isso, o barqueiro se põe de pé.

— Nefilim... — diz o barqueiro com uma voz esganiçada, como de um animal moribundo. A cabeça baixa sob o capuz não mostra seu rosto. E nem as mãos se vê por baixo do espesso manto. Noriel olha ao redor e uma imagem perturbadora o toma, quando vê, atrás do barco, destroços do que fora um corpo, agora carbonizado e parcialmente tomado pelo rio. Olhando novamente para o barqueiro, sente a repugnância quando este ergue a cabeça e pode-se ver seus olhos vermelhos.

— Você não é Caronte. — Noriel recua um passo e vê, sem nada dizer, o barqueiro se livrando do capuz, mostrando seu semblante demoníaco. — É um demônio!

— Eu sou Biloxih!! — diz o demônio saltando do barco pra cima de Noriel. O nefilim se sobressalta mas não consegue escapar, porém quando o espírito imundo o toca, sente sua mão ser tomada por uma dor indescritível. — Não!! Você é só um nefilim morto, como podes me repelir?!

Noriel, ainda confuso, também busca a resposta e a encontra virando de costas e mostrando a marca em sua nuca, feita a ferro quente por lorde Gabriel. Se lembra do que Gabriel disse, que tal marca lhe daria um caminho seguro no mundo dos mortos. Ciente disso, saboreando o medo nos olhos de Biloxih, Noriel o ataca, primeiro puxando-o pelo manto e depois, com um potente soco, lhe lançando na terra.

— Biloxih é um ladrão de almas. — diz Noriel para Abel, que apenas observa de longe. — Demônio do submundo que rouba as almas dos homens quando estes morrem. Quanto mais almas ele leva, mais poderoso ele se torna. — e após outro golpe no seu adversário, ele completa: — Diga-me, imundo, desde quando está se passando por Caronte?!

— Desde o dia em tu foi feito carne, verme! O dia da assunção! — responde o demônio com sua voz asquerosa.

— Maldito seja você, Biloxih e seus companheiros! E mais maldito seja seu mestre!! — e Noriel parte para outro ataque, mas Biloxih desaparece numa fumaça negra. Certamente fugindo. Antevendo que ele poderia voltar com mais demônios, Noriel se volta para o barco e o prepara para a travessia. Abel permanece longe, abaixado como um primata curioso, quando ouve Noriel dizer: — Você vem comigo ou não? — meio que automaticamente Abel se levanta e vai até o barco, sem expressar qualquer emoção.


Enquanto isso, no cargueiro dos nefilins, na sala do ritual, Lorde Gabriel, que permanece ao lado da banheira onde jaz o congelado corpo de Noriel, coça sua barba, cercado pelos outros nefilins, apreensivos com o transcorrer dessa demanda. Olhando um velho relógio de bolso, que aparenta ter sua própria história tão interessante quanto esta, Gabriel confere a hora e diz, mais pra si mesmo do que para os outros:

— Cinco minutos...


Noriel rema, de pé sobre o barco, com Abel abaixado voltado para trás, como um vigia. O céu sobre eles apresenta sinais de tempestade. Abel disse que nunca chove ali e que Noriel não precisa se preocupar, pois ali não existe céu. Sob o rio, o nefilim vê o que parecem crânios flutuando pelas águas sujas e, em alguns pontos, espumantes. A travessia já dura algum tempo, apesar de não ter noção de quanto. Amaldiçoou tanto o tempo e agora o procura. Porém, para seu alívio, já avista a outra margem.

Muros altos de uma fortaleza os aguardam do outro lado. Até onde a vista chega só se vê aquele muro, seccionado por algumas torres, aparentemente vazias. No centro, um grande portão ornamentado com símbolos de várias épocas e culturas, pois é ali a entrada do mundo do além para todos os homens que já viveram. Desde cristãos a pagãos, egípcios a astecas.

— A mansão dos mortos. — disse Abel. Noriel conhece o lugar. Também por Inferno é chamado. Não o Abismo, onde está Profaniel, mas o mundo do além como um todo. Está descrito na oração católica do credo: “Cruxifixus, mortuus et sepultus, descendit ad Inferno”, adaptado para “foi crucificado, morto e sepultado, desceu à Mansão dos Mortos”, Aqui é entrada. Em algum lugar, há a passagem para os círculos inferiores e, mais abaixo, o Abismo.

Segundo os cristãos, na Mansão dos Mortos ficavam os virtuosos que nasceram e morreram antes da ressurreição de Jesus. Como a Graça só veio depois da ressurreição, aqui eles aguardavam o momento de irem para o Paraíso. Aqui estariam Abraão, Issac, Jacó, Noé, Adão e Abel, que agora está no barco. Depois de Cristo, aqui ficariam aqueles que eram bons, mas não eram cristãos, ou que não foram batizados. Os homens chamam esse lugar às vezes de Limbo.

Noriel deixa o barco e cruza a ponte que leva ao portão. Abel o segue alguns passos atrás, como se não quisesse entrar naquele lugar, o que deixava Noriel perturbado. Cruzando o portão, as preocupações sobre Abel dão lugar a outra muito maior.

— O que houve aqui?! — exclama Noriel vendo o lugar vazio, completamente vazio. Um amplo pátio cobrindo toda a distância, tal qual o muro que o cerca, vazio com alguns objetos revirados como se os habitantes dali tivessem sido arrebatados para outro lugar. Abel vem atrás e vê a cena, parecendo ser tomado por emoções claras de sofrimento, como se acordasse de um sonho para a amarga vida. Ou morte, no caso.

— Eles levaram todos! — diz, com um semblante bem menos selvagem. Antes que Noriel formule alguma pergunta, os dois ouvem o bater de asas e o vento frio da chegada de outros demônios. No ato, a escuridão toma conta do lugar e Noriel percebe que dessa vez são muitos. Como uma revoada de morcegos, ele vê os imundos se aproximarem. — São eles!

— O que houve aqui Abel?! — insiste Noriel em meio à penumbra que recai sobre eles.

— Esses anjos sombrios levaram todos daqui, no dia que chamam de “dia da assunção”. Primeiro nos trouxeram pra cá. Do Éden vi meu pai ser expulso mais uma vez. Lúcifer lançou toda alma de volta para a Mansão dos Mortos, e depois seus anjos sombrios as varreram para os círculos inferiores do Inferno junto com as que já encontravam no Limbo! — enquanto isso dizia, as hordas se aproximavam.

— Já esperava por isso... — Noriel solta um suspiro ao imaginar que seria óbvio que Lúcifer jogaria os justos e santos para que sofressem. Talvez - e essa é a pior parte - tenha elevado os perversos para o Paraíso. Mas a crescente escuridão e o frio o alerta, tardiamente, que as hordas chegaram.

Noriel se volta e vê descer daquele céu uma nuvem negra e dela se formar homens de armadura preta como alcatrão e asas de morcego. Dentes pontiagudos e olhos vermelhos. O líder deles, ostentando cabelos em tranças como um guerreiro viking, olha com surpresa para Noriel e, com um sorriso cínico, começa a dizer:

— Noriel... Há muito não o vejo... Velho amigo.

— Há muito não somos mais amigos, Samyaza. — responde Noriel protegendo Abel atrás de si. — Então o diabo o libertou de seu castigo? Deu-lhe salvo conduto? A você e seus Vigilantes?

— A resposta é tão clara como a luz de Kristos Lúficer, nosso senhor. Nosso exílio no pó da terra terminou.[1]

— Mas isso há de acabar! — provoca Noriel.

— Não diga tolices. Tu não passas de um morto. Não ascenderás ao paraíso e nem na Mansão dos Mortos ficarás... Teu lugar é no Inferno!! — Samyaza ergue sua lança contra Noriel, mas em vez de atingi-lo, golpeia o chão propagando uma onda de choque que faz, aos poucos, o piso ruir.

A fenda traga Noriel e Abel para o fundo, que é como uma caverna escura e revestida de lodo, aparentemente sem fim. Em meio à queda, Noriel vê que Samyaza e seus Vigilantes se jogam em sua direção. Além da lança, Samyaza agora saca sua espada e mira seu ataque em Noriel. Porém ao tocá-lo, é repelido pela magia da marca em sua nuca. Como se ofuscado por uma forte luz, Samyaza e os seus gritam e chiam, ficando parados, com suas asas batendo freneticamente, enquanto Noriel e Abel caem naquele poço.

— Não ficará assim, Noriel. — brada Samyaza. — Irei te buscar para que sofra, assim como todos os anjos que assassinaram meus filhos no passado! Principalmente Gabriel! — dito isso, Zamyaza volta com sua tropa para o alto.


— Quatro minutos. — anuncia Lorde Gabriel.


O poço não é sem fundo e Noriel constata isso quando vê o brilho das tochas e fogueiras e o reboliço dos condenados nos espirais de vapor e cinzas do primeiro círculo. Pegando Abel pelo braço, Noriel procura acessar os sentidos angelicais que pensa ainda ter, para que tenham uma queda segura. Porém o máximo que consegue é se afastar do tufão e cair na rocha. Apesar de estar morto, a dor ainda existe. Pois ali é o local dos condenados, e a dor é seu castigo.

— Levanta-te, nefilim. — diz uma potente voz. Noriel levanta a cabeça e vê um homem num trono, de pele verde e podre com a cabeça costurada no pescoço, vestido com um sudário branco e com adornos em ouro velho e lápis-lazúli. Na cabeça, uma coroa egípcia branca. Tal figura, após ver que Noriel - e Abel logo atrás dele - se colocam de pé, resolve se apresentar: — Sou Osíris, o juiz dos mortos. — Noriel o olha por um instante e logo responde:

— Não, não és.

— Como ousas?! — responde irado Osíris.

— Você é algum demônio em mais um dos seus disfarces! — e Noriel vira a nuca para ele. Osíris se contorce em dor e, se levantando do trono, diz:

— Nefilim maldito! Por tamanho desrespeito, condeno-o ao vale dos hereges na Cidade de Dite!

E batendo seu cetro no chão, Osíris faz a fumaça de vapor carregar Noriel e seu companheiro até o meio do fosso, de onde, em espiral, se dá acesso aos círculos inferiores. Tamanha a força do vento, Noriel não vê os condenados por onde passa e seus castigos. Poços de lama e excremento; mordidas dilacerantes de feras; o rio Estige, de sangue fervente e envenenado entre outras atrocidades. Mas o vento cessa, e em seguida Noriel e Abel são deixados dentro da Cidade de Dite, a cidade da Dor Eterna.

— Ótimo. Isso nos poupa tempo. — diz Noriel se pondo de pé e ajudando Abel.

— Você foi condenado, não eu. — diz o pastor primitivo.

— Escute Abel. Suspeito que seu pai e os outros justos estão aqui. É minha intenção salva-los também.

— Como faria isso? Descendo ao Abismo?

— Exato. — e sem mais nada a dizer, Noriel se põe a seguir em frente, quando é cercado pelos guardiões de Dite. Anjos caídos, da casta do próprio Lúcifer.

— Aonde pensa que vais, condenado? — diz um deles.

— Afastem-se! — e Noriel apresenta a marca na nuca. E os demônios fogem como previsto. E então ele avança por entre o mar de condenados, em covas ardentes e entoando seus gritos de dor. Fitando suas faces, constata, para sua máxima surpresa, que ali estão os injustos e maus. Pensava que Lúcifer lhes teria dado o paraíso, mas não. Irônico, pois certamente eles pensaram que se dariam bem com a ascensão do diabo. Mas esqueceram que ele é o pai das mentiras. E certamente se rejubila com o sofrimento merecido deles.

Mas virando os olhos para o outro lado, vê que ali também se encontram os justos e bons, santos e heróis. Tirados do Paraíso e do Limbo, sofrem por pecados que não cometeram. Noriel vê, numa cova profunda, rostos que conhece, como do líder indiano, da freira de bom coração, do velho papa polonês, do reverendo negro, de mártires e libertadores, e mesmo de crianças inocentes e mães e pais honrados e anônimos. Tal visão lhe encheu de indignação.

Com um ar um pouco mais perverso, Noriel viu também que ali, em outra cova, estavam os ateus. É claro que Lúcifer condenaria que não cresse em Deus, pois automaticamente não creria nele próprio. Noriel viu lá Nietzsche, Che Guevara, Hitchcock, José Saramago, Richard Dawkins entre muitos outros. Em outras valas viu também agnósticos e seguidores de outras crenças. Apesar de não estarem reunidos por esses critérios, mas por outros. Foi nessa ocasião que se ateve e viu Abel fitando um ponto distante.

— Meu pai. — disse o pastor indicando um fosso onde Adão e outros patriarcas jaziam. — Devo ficar com ele. — Noriel assentiu, sem nada dizer. Só viu Abel, andando como um chimpanzé, seguir entre as pontes que dividem as covas até sumir entre os gritos de sofrimento. Mas tem a impressão de ouvir Abel dizer: — Bem aventurado seja em tua busca, nefilim. Aqui estarei esperando que devolva a ordem como pretende.

— Isso eu prometo. — era hora de seguir sozinho. As portas do Abismo não estão longe. Noriel só espera que ainda lhe reste tempo suficiente. No plano material, lorde Gabriel lhe dá a resposta:

— Três minutos.


O precipício no fim da Cidade de Dite leva ao sétimo círculo. Por lá sobe um fedor sem igual. Noriel encontra lá os violentos, ladrões, tiranos e assassinos, mergulhados no rio de sangue fervente chamado Flegetonte. O rio corta um longo trajeto, divido em três vales. No primeiro, mergulhados no rio e tentando escapar, Noriel vê ali todos os senhores da guerra: Hitler, Stalin e Napoleão, Bush e antigos papas. Também estão ali os fabricantes de armas.

Entrando no segundo vale, onde uma escura e fria floresta rodeia o rio, Noriel é forçado a repelir mais demônios que tentam barrar seu avanço. Faz isso facilmente e o clarão da magia pagã do seu “amuleto” ilumina o lugar. Vê então que as árvores da floresta eram outrora os suicidas, e que os demônios devoram suas folhas e galhos. Ouve-se o fantasmagórico lamento daqueles que julgaram serem donos da própria vida para decidir quando tirá-la.

No terceiro vale Noriel encontra um deserto de areia escaldante onde precipita uma chuva de brasas e mesmo grandes pedras incandescentes sobre os condenados. São os chamados violentos contra Deus... e também contra o diabo. Entre blasfemadores e sodomitas, Noriel vê os exorcistas e caçadores de demônios, ali sofrendo em dobro por tudo que fizeram e disseram contra os mesmos.

Após uma longa jornada, Noriel chega ao final do sétimo círculo, se deparando com a nascente do rio Flegetonte numa cachoeira. No fundo do caminho, a passagem para o próximo círculo: Malebolge.


— Dois minutos.


Toda a corrupção é punida no Malebolge. Espalhados em dez fossos numa fortaleza de pedra, milhões de fraudulentos recebem o devido castigo: os rufiões e sedutores; aduladores e bajuladores; os sonegadores; os adivinhos e falsos profetas; os que desviam dinheiro; os hipócritas; os ladrões, os maus conselheiros; os semeadores de discórdias; e os falsários de toda espécie. Por demônios são castigados e Noriel não sente pena. Aqui, se alguém parar para contar, verá que é o local mais cheio de todo o mundo do além. Porém quando acessa os portões do novo círculo, Noriel vê toda a perversão de Lúficer.

Aqui é o rio Cócito. O inferno de gelo, onde são deixados os traidores de toda sorte. Desde os adúlteros aos inimigos de suas pátrias. Seu destino é padecerem no frio. Quanto mais intensa a traição, mais intenso será o frio. Porém, junto com os pecadores, Noriel vê seus irmãos nefilins. Outrora os anjos de Deus, mortos por Lúcifer e seus demônios ou nas guerras contra os homens, fadados ao pior dos infernos. Os piores inimigos de Satanás sendo castigados com a maior das violências.

— Toma teu lugar entre os seus, infeliz! — diz um demônio que se aproxima.

— Não! Afaste-se de mim! — bradou Noriel, mais com tristeza do que com fúria. Mas mesmo assim o demônio se foi pela força da magia que o protege.

Então Noriel vê os rostos congelados dos seus irmãos. Ele chora, e suas próprias lágrimas congelam em seu rosto. Os pés já se prendem ao gelo e na tentativa de se libertar, Noriel cai de joelhos. “Será que não conseguirei avançar?” Se pergunta. “Seria esse o fim? Padecer por toda a eternidade junto aos meus?”

O frio o toma como naquela banheira. De joelhos, cruzando os braços sobre seu peito, ele percebe que talvez não consiga seu objetivo. Os olhos se tornam pesados como se o sono da hipotermia voltasse.

— Não. — Ouve alguém dizer. Com muito esforço move a cabeça para procurar o dono da voz, mas não o encontra. Então, sentindo mais uma vez o cortante frio, abaixa sua cabeça. É quando ouve outro “não”, e vê uma flutuação debaixo dele. Fixando o olhar para aquilo, ainda com a vista turva e com a mente confusa, ele vê um rosto se movimentar debaixo da camada de gelo. Aproximando mais a cabeça do solo, Noriel sente um arrepio ao ver quem é.

— M-miguel...! — soterrado no gelo, entre corpos de outros anjos, emerge o rosto do Arcanjo Miguel.

— Noriel... — diz a voz fantasmagórica do arcanjo. — Não desista...

— Mas meu senhor--

— Lute! O Abismo... Está perto... Profaniel... Deve ser libertado...!

— Como sabes...?

— Não importa... Vá! Salve todos nós!

Dito isso, Miguel submergiu de volta para as profundezas até não mais poder ser visto. Noriel ainda ponderou sobre tal visão, refletindo se era mesmo Miguel ou alguma alucinação. Assombra-se como sua mente está materialista. Então percebe que, mesmo que fosse coisa de sua mente, o que Miguel disse era verdade. E ele precisa continuar. Tentou ergue-se. Falhou. Reuniu mais forças e tentou novamente. Falhou. E numa nova tentativa, sentiu o gelo que envolvia seus braços e pernas se partindo. O joelho dormente se apartou da superfície do rio congelado.

E de pé Noriel ficou.

O Abismo está perto.


— Um minuto.


Além do Cócito, e do Malebolge. Muito além das esferas já tão distantes. A escuridão que tudo consome. Um vale profundo, vazio e assombroso. É como o final do universo. Ou mesmo seu começo. Noriel contempla o Abismo. E sente que o Abismo lhe contempla de volta.

Lá embaixo, pensa Noriel, está seu amigo. Sozinho. Sofrendo. Noriel cruzou todo o Inferno dos homens. O Abismo é o inferno dos anjos pecadores. Mas Profaniel é o único ali. Todos os demônios têm medo daqui. Nenhum se aproxima. Nem mesmo Lúcifer. Mas Noriel avança.

Um salto na escuridão. É como perder toda e qualquer esperança. Noriel se atira nas trevas. É agora.

— PROFANIEL!! — ele grita. Não há eco. Não há nada. Nem vento contra o rosto. Chega a pensar que não está indo pra lugar nenhum. Mas então ele vê, na imensidão, se aproximando lentamente, o brilho do fogo eterno e do enxofre em saraivas. — PROFANIEL!!!! — grita novamente, e ouve sua voz voltando, parecendo ecoar em paredes cavernosas. — PROFANIEEEEEEELLLL!!!!

A figura esquelética se contorce. Mas as correntes não permitem muitos movimentos. Teve a impressão de ouvir uma voz chamar o nome que um dia foi seu. Uma voz um tanto familiar. Está louco. Há muito tempo ficou louco.

— PROFANIEL!! — ouve outra vez. Isso o deixa perturbado. Será algum tipo novo de provocação? Como se já não bastasse a dor e o ódio que aspira naquele lugar? Com esforço ele ergue a cabeça, aperta os olhos e tenta ver algo além da escuridão que paira sobre si. E para seu total e grato espanto, ele vê.

Noriel sente o calor. Mil vezes mais do que os homens condenados recebem. Insuportável, mas ele não se entrega. Vê um rio de lava ali embaixo e quase mergulhado nele, um monstro nu e magro atado em correntes e fios. Tal monstro não é outro senão Profaniel. Noriel desce sob as pedras ardentes o mais próximo que pode do outro. Sente a pele das mãos ficar grudada na pedra. Profaniel lhe devolve um olhar de dúvida.

— No-noriel? — diz, com sua asquerosa boca selada.

— Sim, meu amigo. Vim para tirar-te daqui! — o anjo condenado não responde, incrédulo. — Venha e--

De repente Noriel sente um tremendo mal estar. Dores fortes do peito e uma sensação realmente desconfortante (apesar dali não ser nada confortável). Ele se aproxima de Profaniel, entre respingos de lava, sentido a dor infligida pelo fogo e o mal estar crescente. Ele ergue o braço para Profaniel, alcançando a corrente que prende seu braço direito. Profaniel acompanha tudo confuso quando vê Noriel perder os sentidos e cair na lava, se agarrando às correntes e ao anjo caído.

— Profaniel... — diz Noriel, já sem forças. — Venha...


— Acabou o tempo.

* * *

_________________
[1] - A história de Samyaza e seus Vigilantes e seu exílio será contada em breve.

Agradecimentos ao amigo João “Resgate” Norberto pela revisão!


Continua...
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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Vampira Sex Jan 08, 2010 1:31 pm

Putz!!! o.o
To pasma com esse final!
A passagem pelo inferno ficou show! Ver sua visão do memso é interessante...
O unico habitante do abismo então é Profaniel... Surprised
Isso sim é inferno!
Parabéns por mais um cap! Very Happy

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Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Empty Re: Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2

Mensagem por Aracnos Sáb Jan 09, 2010 9:18 am

Vampira escreveu:Putz!!! o.o
To pasma com esse final!
A passagem pelo inferno ficou show! Ver sua visão do memso é interessante...
O unico habitante do abismo então é Profaniel... Surprised
Isso sim é inferno!
Parabéns por mais um cap! Very Happy
Opa, leu rápido agora! Profany, Contos Apócrifos #5 na pg 2 Icon_biggrin
Então, mostrar o inferno no começo me pareceu dificil... então resolvi beber da fonte mais difundida no mundo: A Divina Comédia. Com livres adapitações e mais resumido, claro.

E sim, Profaniel é o único que está no Abismo. Isso eu tirei da Bíblia. Lá diz que o Abismo, o Genna, em hebraico, é o inferno destinado a satanás e seus anjos caídos. E tal espaço está reservado até o fim dos tempos. É a punição dos anjos, então é o lugar de um anjo condenado.

Obrigado pela leitura!
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